junho 04, 2016

Liturgia Luterana Explicada


Introdução

A Liturgia ou Ordem de Culto, não somente faz parte do culto, mas é a própria disposição de todas as partes que formam aquilo que chamamos de Culto Público. Esta é usada a fim de que tudo seja feito “com ordem e decência”, conforme a recomendação do apóstolo Paulo.
Por que estudar a Liturgia? – Porque, em uma igreja litúrgica como a nossa, usam-se muitos termos técnicos, que nem sempre são devidamente entendidos. Por que ainda fazemos uso de uma liturgia que tem séculos de existência? Qual o sentido de cada uma das partes?
Todas estas questões procuraremos responder ao longo deste estudo sobre a Liturgia Luterana.

1. O que é Culto

“Dedicar e consagrar a vida ao Senhor nesta casa para que o Bom Mestre nos fale neste lugar, por meio de sua Santa Palavra, e que nós por nossa vez, lhe falemos através da oração e do louvor.”(Martinho Lutero)

A liturgia é, portanto, um entrelaçado entre Palavra de Deus e reposta da Congregação, proclamação e adoração.

A parte sacrificial é voltada para o altar.

A parte sacramental é voltada para a congregação.

Cristo nos fala, nós respondemos. Cristo nos serve, nós servimos a Ele.

2. O Início do Culto

Num sentido geral, culto envolve toda a nossa vida, mas no sentido do culto público, este inicia com a invocação. Em termos antigos iniciava de fato com o “Intróito”. A introdução, a invocação, a confissão e a absolvição seriam preparação para o culto propriamente dito.

3. Hino de Invocação

Tem por finalidade invocar a presença de Deus no momento do culto. Deveria, portanto, ter um pedido pela presença do Deus Triúno no culto.

O que normalmente acontece é que são usados no início do culto hinos que expressam: louvor e gratidão pelas bênçãos e proteção recebidas durante a semana que passou; a alegria de estar na casa de Deus para adorá-lo bem como o desejo de ouvir a sua palavra para o fortalecimento da fé e santificação da vida; o tema ou assunto do dia, etc. Nesses casos, o mais indicado seria chamar este hino de “hino inicial” ou de abertura, uma vez que, na maioria dos casos, não é usado propriamente um hino de invocação.

4. Invocação

4.1. Informações Históricas sobre o seu uso A Invocação “Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”, não se encontra nas liturgias antigas, nem na liturgia da Igreja Ortodoxa Grega. Era originalmente feita pelo sacerdote na sacristia, enquanto preparava-se para a missa. Ela fazia parte do rito preparatório para a missa que incluía também a Confissão e Absolvição dos pecados. O sacerdote realizava este rito preparatório por ele e pela comunidade. Esta prática foi bem aceita pelos reformadores que a realizavam com a participação da congregação.

4.2. Conteúdo Doutrinário da Invocação

No ato litúrgico da Invocação estamos rogando pela presença do nosso Deus Triúno, em cujo nome nos reunimos para o culto. Não se trata de um mero convite pela sua presença, mas, neste ato, demonstramos que sabemos quem é nosso Deus, que não se trata de uma divindade desconhecida, misteriosa, da qual temos apenas uma vaga noção. O nosso Deus se revelou a nós pelo seu nome triplo “Pai, Filho e Espírito Santo”.

Começamos desta forma o nosso louvor a Deus com um ato que é uma confissão de nossa fé, tendo consciência da presença de Deus e rogando a sua bênção e assistência sobre o ato de adoração que se seguirá.

5. Exortação ou Alocução Confessional

A Alocução Confessional tem suas origens no Pietismo. Ela estava vinculada a celebração da Santa Ceia. Nela não se fala diretamente sobre a Santa Ceia, mas especialmente da necessidade do verdadeiro arrependimento, visando estar “dignamente preparado” para participar dela.

A Santa Ceia foi colocada numa posição de alta sacralidade. O medo de participar indignamente se impôs nesse tempo. Não se enfatizavam as bênçãos advinhas do participar da Ceia, mas o fato de estar bem preparado para não participar dela indignamente, tornado-se réu do corpo e sangue do Senhor.

Na Alocução Confessional se falava da terrível situação do homem pecador perdido e condenado e de sua necessidade de arrependimento para receber o perdão de Deus.

5.1. A Alocução Confessional para nós hoje

A ênfase que nós devemos dar hoje à Alocução Confessional é a que Lutero escreve no seu Catecismo Menor: “Jejuar e preparar-se corporalmente é boa disciplina externa, mas verdadeiramente bem preparado é aquele que crê nestas palavras: dado e derramado por vós para a remissão dos pecados”. Decorre desta compreensão que hoje continuamos a enfatizar a necessidade do arrependimento verdadeiro do cristão, mas procura-se mostrar enfaticamente as bênçãos decorrentes do participar da Ceia do Senhor, de tal forma que o motivemos a uma maior e mais alegre participação na Santa Ceia.

6. Confissão e Absolvição

6.1. Informações Históricas

É um ato preparatório ao culto propriamente dito. A Confissão se desenvolveu das orações originalmente proferidas pelo ministro na sacristia, quando ele colocava as suas vestimentas. Posteriormente foram incluídas na Liturgia.

Os escritos da Igreja Primitiva sobre a Santa Ceia nada relatam sobre um rito de confissão. A Igreja Primitiva considerava-se a si própria como “Povo Santo”. Não tinham claramente definida a idéia de pecado dos tempos Medieval e Moderno. A ênfase estava na Confissão Privada, antes de receber o sacramento.

Aproximadamente no Século XI os assim chamados “apologistas” elaboraram orações, as Quais eram lidas pelo sacerdote ao pé do altar, como parte preparatória para o culto. Elas eram ditas com ou pela congregação.

Os reformadores apreciaram o valor espiritual da Confissão preparatória. Eles extinguiras as impurezas doutrinárias. As congregações da Reforma, seguindo o princípio do “sacerdócio real de todos os crentes” começaram a usar a Confissão preparatória com participação da comunidade, sendo liderada pelo seu pastor. Os versos podiam ser cantados.

6.2. Significado da Confissão e Absolvição

A Confissão dos Pecados é uma preparação para o culto de louvor a Deus. A comunhão e comunicação com Deus exige corações arrependidos e perdoados de seus pecados. É por essa razão um ofício preparatório de purificação espiritual. Na Confissão somos purificados para entrar no culto propriamente dito, que começa com o Intróito.

A Absolvição vem após a Confissão e pedido de perdão. Ao pastor cabe anunciar o perdão dos pecados para a congregação fundamentado na autoridade que lhe é outorgada por Cristo. Nesse momento o pastor exerce ......... sacerdotal, na qual declara o perdão pleno de todos os pecados a todos os que estão verdadeiramente arrependidos.

Confissão e Absolvição é como “limpar os pés antes de entrar em casa”. Nessa parte, a igreja aplica o Ofício das Chaves. As partes responsivas mostram a nossa certeza da Absolvição.

6.3. É correta a Confissão e Absolvição Particular?

A Confissão e Absolvição Particular era praticada pelas congregações cristãs primitivas e por muito tempo foi praticada na igreja cristã. O catolicismo romano até hoje não aboliu a Confissão e Absolvição Particular. A Reforma também não a rejeitou. O luteranismo condenou a Confissão Particular obrigatória, mas sempre a incentivou àquelas pessoas que sentiam grandes angústias e intranqüilidade em seus corações por causa de seus pecados. Nessa oportunidade o pastor pode orientar a pessoa aflita na luta contra o pecado que a aflige e lhe pode assegurar de um modo mais íntimo e pessoal o perdão pleno dos pecados pelo sangue de Jesus.

7. Intróito

O Intróito marca o verdadeiro início do culto. Ele imprime a nota chave do dia ou estação. A palavra Introitus vem do latim e significa entrada ou começo. É também a primeira parte variável do culto. Trata-se de um ou vários versículos dos Salmos, apropriados para o dia, chamando a congregação a unir-se em torno do pensamento central desse culto. O uso desta parte no culto é uma característica da Igreja Ocidental. Os ritos Orientais não têm intróitos, coletas, graduais ou material variável similar.

Na Igreja Primitiva o culto começava com uma litania. Depois que as perseguições terminaram e a igreja foi reconhecida, tornou-se possível insistir nos detalhes do culto público com dignidade. Originalmente o Intróito era um Salmo de entrada, cantado em forma de antífona, por um coro duplo, no momento em que o oficiante vinha da sacristia para o altar. Isso tinha como intenção adicionar solenidade à entrada do clérico e estabelecer o pensamento central e particular do culto. Depois um versículo era escolhido e cantado, tanto antes como depois (Antífona). Gregório, o Grande, por volta de 600 A.D., abreviou o Salmo e estabeleceu a forma que hoje se encontra em nossa liturgia.

Os textos do Intróito na liturgia luterana, são tirados dos Salmos, de Isaías e alguns do Novo Testamento. Os antigos nomes dos domingos do Ano Eclesiástico, como Invocavit, Cantate, etc, não são nada mais do que a primeira palavra latina desses intróitos.

O Intróito é um elemento muito importante e significativo, que não deveria ficar fora de qualquer liturgia; seu significado, muitas vezes, não é compreendido, visto que ele é algo como um fragmento de um uso mais antigo. Uma reconstrução histórica de usa estrutura e uso primitivo deveria ajudar-nos a compreender melhor sua função e valor em nossos cultos hoje.

O Intróito também anunciava o tema do Domingo. Na Série Trienal de perícopes, o Salmo do Domingo exerce esta mesma função. Assim sendo, é costume ler o Salmo como Intróito. A leitura pode ser tanto responsiva como uníssona. O Gloria Patri, não é outra coisa senão a conclusão do Intróito. Com sua ênfase trinitária, este antigo texto litúrgico distingue o uso cristão dos Salmos do Antigo Testamento, razão porque é falado ou cantado ao final de toda e qualquer leitura dos Salmos.

Temos os Intróitos inteiramente tirados dos Salmos; estes são chamados de regulares. Os de outra parte da Bíblia são os irregulares. Há no mínimo 28 Intróitos irregulares na liturgia tradicional; destes, dez têm passagens de Isaías, e doze do Novo Testamento.

Lutero reteve o Intróito no culto, mas expressou sua preferência pelo costume da Igreja Primitiva de usar o Salmo inteiro. Somente duas ordens de culto luteranas seguiram seu costume. A grande maioria reteve as séries históricas gregorianas sempre que havia coros competentes para cantar textos latinos. Com os cultos no vernáculo, as dificuldades de tradução de textos e adaptação da música levaram a escolher intróitos simples para cada período. Isso reduziu as séries históricas dos intróitos a um número menor de textos selecionados.

O Intróito é um coral elementar no culto e poder ser cantado pelo coro, o qual pode ser comparado à voz da igreja universal, especialmente da igreja do Antigo Testamento. Algumas das ordens revelam as dificuldades encontradas ao introduzir Intróitos em cultos no vernáculo. Brondenburg orientou o pastor a ler o Intróito quando não houver cantores para isso. Na restauração da liturgia luterana, no Século XIX, Schoeberlein opôs-se à tentativa de reintroduzir as séries completas. O “Cantionale” de Mecklenun (1868) reteve somente nove Intróitos para o ano inteiro. O Commun Service (1888) restaurou as séries inteiras, corrigindo algumas poucas variações dos textos históricos, as quais o Livro da Igreja, tinha feito, segundo Loehe. Também foram juntados Intróitos especiais para cultos especiais e dias festivos.

Quando o Intróito é lido, o ministro o faz voltado para o altar, posição que representa o antigo ponto de vista do Intróito, como Salmo de Entrada, portanto devocional por excelência. Quando o Intróito é cantado, o ministro vai do “coro” da igreja ao altar e, como um da congregação, vira-se para o altar.

Os Intróitos podem ser cantados no tom dos Salmos, de maneira simples como antigamente. Podem também ser cantados de forma elaborada, Em todo o caso, o caráter objetivo e declamatório deve ser relembrado e a atenção deve focalizar uma anunciação clara e poderosa das palavras.

A Antífona do Intróito pode ser cantada por um voz de solo. O coro todo canta o verso do Salmo e o Gloria Patri; especialmente em dias festivos, a Antífona poder ser repetida após o Gloria Patri por todo o coro.

8. Kyrie

Muitos não vêem outra coisa senão uma confissão de pecados. Neste caso, uma 2ª confissão no mesmo culto.

Embora esteja presente este aspecto penitencial, contudo isto não esgota o sentido do “Senhor tem piedade...”

- Em primeiro, salta à vista seu caráter trinitário. Seu uso no culto reflete o uso de expressões semelhantes a Bíblia (Salmo 25. 16; 26. 11).

- - Trata-se de um clamor, um pedido de auxílio (que nem sempre é um pedido de perdão). Neste sentido corresponde ao sentido original da palavra “hosana” = “Oh salva-nos Senhor”.

- No Kyrie confessamos a nossa fraqueza e nossa dependência de Deus.

- O Kyrie também é uma forma de aclamação. Nele a congregação acalma o Senhor que vem ao seu encontro no culto, mediante Palavra e Sacramento.

9. O Glória in Excelsis

É o grande hino de louvor da primeira parte do culto. É uma das partes mais antigas do culto; talvez surgiu na Igreja Oriental. O “grande Glória” como também é chamado exalta o Deus Triúno por sua obra.

Vem imediatamente após o Kyrie, e suas palavras são uma reposta ao Kyrie, proclamando a Glória de Deus, lembrando a sua infinita bondade, mandou seu Filho para ser o Salvador do mundo. O glória logo após o Kyrie muda completamente a sua disposição, sua estrutura de exaltação e louvor à Santíssima Trindade, nos leva a contemplar o divino e, através da consciência da necessidade humana, a glorificar sua majestade, poder e santidade.

q Sua abertura portanto, é dirigida ao Deus Pai todo-poderoso.

q Sua parte do meio é uma gloriosa confissão da divindade de Cristo, “o Unigênito de Deus”. Portanto, não é apenas um hino de exaltação ao Pai, mas é um júbilo pela sua Redenção.

· Por um momento cessam os pedidos de ajuda e mercês, para dar lugar a um glorificar a majestade de Deus, dirigindo-se assim para a parte final, exaltando ainda o Cristo, juntamente com o Espírito Santo “que estão no mais alto grau de glória juntamente com o Pai”.

· Desde o seu início até nós, através dos séculos, nós só podemos ver através deste cântico um grande senso de dignidade, uma grande fé, um fervor devocional dos verdadeiros cristãos, assim como nós cantamos este simples, mas profundo cântico, usado ainda hoje em nossos cultos.

· Como Kyrie, o Gloria in Excelsis inspirou muitas composições notáveis. No entender de Lutero este hino não foi feito na terra, mas este veio do céu. De fato, as palavras iniciais fazem parte do coro dos anjos quando do nascimento de Jesus. Lutero o colocou no seu lugar usual na sua Ordem de Culto Latina, mas omitiu qualquer referência a este em sua Missa Alemã.

· O “culto comum” restaurou o texto completo do Glória, e a “Liturgia Comum” prescreve seu uso em festas e sempre que tem a comunhão. Em outros termos nenhum outro hino de louvor era permitido no interesse de variar o material litúrgico. Uma mudança poderia ser feita em certas épocas, para dar maior dinâmica a esta parte do culto.

· A mais primitiva forma do Gloria in Excelsis data do 4º Século, mas é provável que seja mais antigo. É encontrado nas “Constituições Apostólicas”, e é mencionado por Atanásio (373 A.D.). Não existem provas concretas, mas acredita-se que tenha sido escrito no 1º ou 2º Século.

· É dividido em três partes: A parte do meio antecipa a fraseologia do Agnus Dei.

· Na sua forma original o Gloria in Excelsis era um “Salmo Privado”, cantado em grego na manhã do culto, mas não como parte da Missa. Em conteúdo assemelha-se ao Magnificat e ao Benedictus. As principais versões do original são assim distinguidas:

1. A versão Síria;

2. A versão Grega, das “Constituições Apostólicas”;

3. A Grega, da Liturgia Bizantina, que passou para o nosso texto Ocidental.

O Gloria in Excelsis foi mais provavelmente introduzido no culto com santa ceia na Igreja Ocidental, em conexão com o Natal. Era particularmente apropriado por causa do coro dos anjos no tempo do nascimento de nosso Senhor. A encarnação e a Comunhão são manifestações da presença de Cristo entre os homens.

· Por séculos o Gloria foi privilégio exclusivo dos bispos e pastores, somente permitindo o seu canto na Páscoa. Desde o Século XI a frase de abertura tem sido cantada pelo oficiante e o restante era cantado pelo coro ou pela congregação.

· O Gloria conclui a primeira parte do Culto. Esta parte tem sido preparatória e de caráter largamente sacrificial. A partir deste ponto o elemento sacramental é dominante. O Gloria in Excelsis é sacrificial em seu caráter, e o ministro, voltado para o altar, quando recita a frase inicial. O uso responsivo do período Pré-reformatório da igreja tem continuidade em muitas igrejas alemãs e escandinavas, e tem sido aceita na liturgia. De acordo com isto o ministro diz ou canta a primeira frase e o corpo e a congregação iniciam cantando com “... e na terra paz...” A reintrodução desta prática eliminou definitivamente a repetição da frase de abertura.

· Às congregações com dificuldades no canto, sugere-se que variem de vez em quando, ao invés de cantar, podiam recitar. Em certas ocasiões poderiam substituir por um hino de mesmo conteúdo, mas jamais deveria ser simplesmente omitido.

10. A Saudação

A primeira divisão do ofício da palavra encerra com o Glória in Excelsis. Uma nova e predominante divisão sacramental começa com a saudação. Essa forma essencialmente hebraica de saudação e resposta expressa o conteúdo do termo hebraico Emanuel – Deus Conosco. No livro de Rute 2.4, vemos que quando Boaz veio de Belém ele disse aos ceifeiros: “o Senhor esteja convosco”, e eles responderam: “O Senhor te abençoe”. O anjo do Senhor apareceu a Gideão e disse-lhe: “O Senhor é contigo” (Jz 6.12). Também no N.T., quando o arcanjo Gabriel apareceu a Maria, ele a saudou com esta exclamação: “Alegra-te muito, favorecida! O Senhor é contigo” (Lc 1.28). O apóstolo Paulo também faz uso desta saudação em suas cartas. E assim, particularmente antes dos atos sacramentais tais como a leitura da palavra ou a administração da Santa Comunhão, nós temos a saudação e a reposta. A frase final obteve lugar na liturgia cristã como uma resposta significativa na introdução de uma nova parte do culto. Esta (saudação) precede a coleta, o Prefácio, o Benedicamus, etc, e introduz o uso de coleta e orações gerais tanto nas matinas como nas vésperas.

· A saudação e sua resposta não são dirigidas a Deus, mas aos homens. Estas constituem uma oração recíproca do ministro em relação a seu pessoal, e da congregação em relação a seu pastor antes deles, em conjunto, oferecem suas petições a Deus. Assim como servem de constante lembrança da relação pastoral quando “renova as relações da fé e propósitos comuns” em novos atos de adoração. Há diversas maneiras de responder a esta saudação. Usamos constantemente a forma “E com o teu espírito”, ainda que o comissionamos a falar em nome de todos. Loehe disse: “Os laços de amor e união entre o pastor e a congregação são novamente um encontro”. Quando se diz: Oremos, fica claro que o ato é de caráter corporativo. É a oração da congregação e de toda a igreja seja em dias comuns ou de festas.

· O ministro volta-se para a congregação e, de acordo com o uso primitivo, estende suas mãos e profere as palavras. O estender das mãos expressa o ardente desejo e o pedido zeloso do pastor de que as orações sejam atendidas. O Estender das mãos significa que o pastor humildemente “desconfia” de si mesmo e confidencialmente abandona-se a si mesmo para o Senhor. Após a resposta da congregação o pastor volta-se ao altar, e segue a ordem litúrgica.

q E com o teu espírito (forma latina: Et cum spirito tuo).

q E contigo também.

q Ele está no meio de nós.

q O Senhor te abençoe.

11. Coleta da Dia

Tem algo a ver com o verbo coletar, pois esta oração pretendia ser um reunião dos anseios de toda a congregação.

Para variável do culto; em referência ao dia. Para cada Domingo há uma diferente. Sendo sua função principal, preparar a mente para o momento.

Ela foi usada em larga escala por crentes, no mundo inteiro, durante os últimos cinco séculos; sendo parte importante em relação a liturgia.

São usadas por romanos, luteranos e anglicanos.

Voltam-se a humildade de espírito, dando unidade e harmonia a parte litúrgica. Sendo excelente em conteúdo devocional, expressão doutrinal, com uma forma linda.

A perfeita coleta é uma forma de arte; valioso valores poéticos são expressados, não na rima de palavras, mas na rima de pensamentos. O mérito essencial das coletas é o conteúdo espiritual fervoroso e sincero.

As coletas, ou também chamadas orações do dia, são escritos de vinte (20) orações do cristianismo. Provindas do antigo costume romano, proferida depois da litania e de um hino na parte litúrgica permanente da igreja. Provindo da vida monástica, seria parte depois da leitura de um Salmo.

As coletas foram traduzidas do Latim e, geralmente contém cinco partes:

1) Invocação.

2) Base para a Petição.

3) Petição.

4) Propósito ou beneficio desejado.

5) Fim = doxologia.

Freqüentemente a Segunda ou quarta parte são omitidas; ocasionalmente as duas. As três primeiras partes são chamadas na oração dos discípulos depois da Ascensão. A petição liga-se ao comando de Deus. São dirigidas na maioria ao Pai; possuindo a parte final fundamento na obra messiânica. Revelando sempre o Deus Triúno no qual cremos.

Talvez você pergunte: Por que não coletar de fato neste momento do culto, ou seja, por que não incluir intercessões, ações de graça, etc, na coleta, fazendo dela uma oração mais longa? A questão merece reflexão. Talvez fosse inconveniente uma oração mais longa neste momento do culto, uma vez que a oração não deixa de ser uma resposta à Palavra de Deus, a qual, até esse momento do culto ainda não foi proclamada.

A antiga coleta estabelece algo típico romano; sendo escritas bem anteriormente, mas aparecem somente um pouco antes do nascimento de Lutero. O seu uso já era costume no século XI e no século XIII são descritas de acordo com a ordem e solenidade de festas.

Eram usadas sete coletas não excedendo por causa do número de petições de Cristo no Pai Nosso. Lutero restringe o número para uma, antes da epístola, hoje a Coleta do Dia. Lutero também traduz várias coletas e toma outras como base, introduzindo um tom evangélico; e, a partir dessa época, são largamente usadas.

12. As Leituras Bíblicas

Nas sinagogas regularmente havia a leitura da Lei e dos Profetas (Lc 4.16-21). Seleção de Epístolas e algumas passagens dos Evangelhos também foram, posteriormente, incluídas. As Liturgias Ambrosianas já continham a leitura do Antigo Testamento e o do Novo Testamento (Epístola e Evangelho).

Desde os tempos apostólicos a leitura da Escritura Sagrada tem sido um fator de grande importância, e o ponto alto da liturgia cristã. A primeira seção de leituras dos apóstolos e do evangelho eram lidas consecutivamente. Não havia seções fixadas. O desenvolvimento do ano eclesiástico fez com que se observasse certas leituras para certos dias. As três grandes festas foram as primeiras a delimitar e definir certas leituras.

É importante notar que Epístola e Evangelho precisam sempre ser lidos, bem como a leitura do Antigo Testamento, por longos anos omitida em muitas liturgias, é igualmente de grande valor. As três leituras revelam aspectos importantes na História da Salvação: O Antigo Testamento – A Promessa; A Epístola – O testemunho dos apóstolos a respeito do cumprimento das profecias; O Evangelho – a voz do próprio Messias, proclamando a Salvação. Estes, normalmente, são chamados de “Liturgia ou Ofício da Palavra”. É o Senhor quem nos fala. O que ele diz a nós é mais importante do que o que nós dizemos a Ele.

12.1. Séries de Leituras

Carlos Magno (600 A.D.) elaborou e autorizou a Série inteira de leituras. Certamente já se fazia uma leitura sistemática, de acordo com o Ano Eclesiástico, das diversas partes da Bíblia. A presente série em uso tem nos levado aos tempos primitivos. A Constituição Apostólica menciona duas leituras do Antigo Testamento, o livro de Atos, a Epístola e o Evangelho. Na Série Histórica, usada durante anos na Igreja Luterana, constata-se a ausência da Leitura do Antigo Testamento e que, nas leituras propostas, nem sempre é possível descobrir algum nexo vertical (semelhança entre Epístola e Evangelho) ou nexo horizontal (progressão de um Domingo para outro). Em parte isto se deve ao fato de conservarmos apenas um fragmento da estrutura original, pois os reformadores retiveram apenas os textos dos domingos e dias festivos.

Lutero posicionou-se quanto a série dizendo que a mesma não deveria ser adotada como inspirada por Deus. Diz ele: “Caso no futuro a língua nacional vier a ser adotada na missa, então se deveria fazer o possível para que fossem lidas na missa epístolas e evangelhos tirados das melhores partes desses livros.

Surgiram, então, no correr dos séculos, novas séries de perícopes. Na Igreja Luterana Mundial, em tempos recentes, houve por assim dizer, dois desenvolvimentos: os europeus se empenharam em revisar a Série Histórica e os norte-americanos trabalharam num sistema Trienal. Este sistema concorda em aproximadamente metade dos casos com o Ordo Lectionum Missae, da Igreja Católica Romana, fruto do Vaticano II, e publicado em 1969. Na verdade o Ordo Romanum serviu de base para o sistema Trienal dos episcopais, presbiterianos e luteranos. O sistema Trienal americano ficou pronto em 1973, Foi adotado pela IELB em 1982 (maiores detalhes da Série Trienal, ver “Preciso Falar” – VI, p.33).

12.2. Antigo Testamento

A omissão da leitura do Antigo Testamento durante muitos anos nos leva a pensar que a mesma tivesse menos importância. Não é o caso. A reflexão e a devida revisão da Série Histórica e a elaboração das Séries Trienais devolveram ao Antigo Testamento o lugar devido na liturgia, por entender que “promessa e cumprimento” fazem o todo da Escritura. Essa leitura não deveria ser omitida para “ganhar tempo”. Se houver a necessidade de abreviar o ato litúrgico, omita qualquer outra coisa, menos as leituras bíblicas.

12.3. Epístola

Epístola e Evangelho não são distintivamente anglicanos, luteranos ou católicos. Muito menos propriedade exclusiva desta ou daquela denominação religiosa. Ninguém pode reclamá-las como ordem de sua liturgia.

A Epístola e o Evangelho (bem como as demais partes da liturgia) são mais antigos do que qualquer denominação religiosa, são partes comuns da Igreja Cristã e pertencem ao corpo da Igreja Histórica.

As leituras deveriam ser feitas diante do altar. Historicamente o púlpito de leitura (ambão) era reservado para Matinas e Vésperas.

12.4 Gradual

Feita a leitura da Epístola a congregação canta a curta resposta. Originalmente havia 3 partes: Gradual, o Aleluia e a Seqüência. Um Coral responde à Epístola e introduz o Evangelho. Conhecido como um “canto de passagem”, contendo porções dos Salmos.

Gradual – Provindo desde a época da sinagoga, sendo proferido por um coral ou pela congregação, como interlúdio entre as leituras, ligando-se a muito as passagens. Nos velhos tempos era costumeiro cantar um Salmo inteiro após a leitura da Epístola. Esse Salmo foi encurtado para 3 versos do Salmo e 3 aleluias. Este Salmo encurtado era cantado pelo Kantor, em frente do púlpito e se chamavaGradual, significando andadura. Esta primeira parte reflete o pensamento da Epístola. Lutero com a apreciação do culto e seu amor à música, mantém o gradual latino.

Em nossos dias está sendo usado o Gradual para o dia de forma cantada. Foram arrolados graduais para o ano inteiro. O Kirchenbuch de 1877 aponta para o Aleluia como substituto do Gradual. Pode-se cantar também um hino em seu lugar.

No caso de o coro ter um hino apropriado para a ocasião, aqui seria um bom lugar para isto acontecer. Deveria estar harmonizado com o tema do dia. O Gradual compõe-se do seguinte: dois Versos de um Salmo; dois Aleluias; outro verso e mais um Aleluia. A congregação poderá permanecer sentada durante o Gradual. Havendo um bom coro, não há razões para que o Gradual não possa ser cantado por ele.

Aleluia – O Aleluia é a resposta alegre pela congregação à Palavra de Deus, especialmente diante da aproximação do Evangelho. É a Segunda parte do Gradual e serve de prelúdio ao Evangelho, significando Vitória.

Seqüência – Foi desenvolvida em torno do 8º século. Depois do Século XVI tomou forma rítmica e tornou-se o hino próprio na estrutura.

12.5. Evangelho

Nos tempos antigos a leitura ou cântico do Evangelho era tido como o clímax da primeira parte do culto, o Ofício da Palavra. Toda a pompa que rodeia em torno do Evangelho, demonstra simbolicamente a importância desta parte do Culto, onde o próprio Jesus nos fala através das palavras dos quatro evangelistas.

Apresenta o centro, o objetivo do pensamento do dia. Relembra a Jesus em sua simplicidade, sinceridade e poder, revelando a nós o Cristo de Deus em sua humilhação e majestade de sua divindade. Relembra suas ações, conversações e ensinamentos. A sua leitura em culto público sempre foi acompanhada de honra especial, por ser a revelação da natureza divina de nosso Senhor nas palavras escritas.

Três antigas praxes são mantidas no culto luterano: a) O levantar das pessoas em obediência e reverência; b) as frases de louvor ao anúncio; c) a leitura feita à frente do altar.

O responso da congregação, “Glórias a ti, Senhor” e “Glórias a ti, ó Cristo”, é a profissão de fé; foi usada na igreja primitiva nos dias de perseguição, expressando o reconhecimento da presença real de Cristo no culto. É interessante observar a melodia destes responsos: a do “Glórias a ti, Senhor”, é descendente, simbolizando a humanação de Cristo; a do “Glórias a ti, ó Cristo”, é ascendente e descendente, simbolizando a sua ascensão e o cumprimento de sua promessa de sempre estar aqui conosco e que um dia voltará visivelmente.

13. A Confissão de Fé (Os Credos)

Confessar publicamente a fé ou aquilo que se crê é, não apenas uma necessidade, mas um dever da igreja cristã. Esse confessar tem parte ativa nos cultos dominicais. É a resposta da Igreja à Palavra de Deus. É uma expressão clara da obra da salvação de Cristo, pois não falamos de nossas realizações e propósitos. O que fazemos é dizer “Creio” e “Amém”. Recontamos e anunciamos profeticamente os feitos de Deus. É uma confissão pública de essência das fé cristã, não uma oração. É também uma expressão de louvor e agradecimento pela salvação que é recontada nessa confissão.

A fé cristã é expressada em três credos ecumênicos, isto é, várias denominações cristãs confessam a fé com as mesmas palavras: o Niceno, o Apostólico e o Atanasiano.

13.1. O Credo Niceno

O Credo Niceno é o mais antigo em sua forma completa. Surgiu em meio às discussões sobre a divindade de Cristo, no Concílio de Nicéia, em 325 A.D. Ocupou lugar nos cultos com Santa Ceia, quando incluído também o Credo Apostólico. O Credo Niceno usado em nossos dias não é o credo de Nicéia de 325 A. D., mas uma forma diferente e mais completa que foi apresentada em Calcedônia (451 A.D.) como tendo sido aprovado pelo Concílio de Constantinopla (381 A.D.).

13.2. O Credo Apostólico

O título “Credo Apostólico” deu-se devido à tradição errônea de atribuir aos apóstolos a criação de um credo. Este credo, na verdade, pertence em sua totalidade à época da antiga igreja não dividida. Este credo recebeu a sua redação final decisiva somente no Século VIII, na Gália. Era, a princípio, um confissão de fé de uma província ocidental, composta para o uso catequético e litúrgico. Devido à grande influência da liturgia anglicana sobre a igreja da Itália, após Carlos Magno, a Igreja de Roma, e toda a Igreja Ocidental começou a usar o Credo Apostólico ao lado do Credo Niceno. Esse lugar, ele o manteve até mesmo nas principais igrejas da Reforma.

Este credo, porém, tal como existe, jamais foi aceito universalmente por toda a igreja. Existe hoje uma variedade de opiniões a respeito do seu status. Por detrás da formulação do Credo Apostólico houve um processo de desenvolvimento que nos leva a concluir que ele é, na verdade, muito mais antigo do que acabamos de mencionar. A forma quase completa do Credo Apostólico já se encontra nas perguntas feitas aos batizados em Roma no início do Século III, como relata Hipólito, na Tradição Apostólica, 21:

“Crês em Deus Pai Todo-Poderoso?

Crês em Cristo Jesus, o filho de Deus, que nasceu pelo Espírito Santo da virgem Maria, foi crucificado sob Pôncio Pilatos e morreu e surgiu dos mortos novamente com vida no terceiro dia, e subiu aos céus e sentou-se à destra do Pai, e virá julgar os vivos e os mortos?

Crês no Espírito Santo, na Santa Igreja, e na ressurreição da carne?”

Quase o mesmo modelo em forma declamatória foi encontrado no Credo Romano, no final do Século IV. Esses credos (Apostólico, Niceno e Romano, representam as formas em que se ensinavam e afirmavam os pontos principais da fé).

Essas formas variam de lugar para lugar e de tempo para tempo. A partir do Concílio de Nicéia (325) o Oriente e o Ocidente uniformizaram ou aproximaram a forma dos credos, aceitando, principalmente, o Credo Niceno na liturgia da Santa Ceia. Embora o credo seja produto Ocidental, em linguagem e formulação, a fé nele afirmada é também a fé do Oriente.

13.3. O Credo Atanasiano

É a exposição mais extensa da fé cristã e é usado exclusivamente no Domingo da Santíssima Trindade, por ser a exposição mais detalhada das três pessoas divinas.

14. O Sermão

É considerado o clímax da primeira parte do culto, pois é a exposição clara e prática de um texto bíblico, especialmente o Evangelho, à vida das pessoas.

Com a introdução do Credo no culto, o sermão passou a ser um seguimento do Credo. Isto foi um caso particular na Alemanha; Durandus reconhece este costume no Século XIII.

A Reforma Luterana devolve ao sermão o devido lugar no culto, pois apontou muito para a negligência da pregação; o sermão tornou-se um marco da Reforma. Lutero em sua Missa latina sugere que o sermão seja colocado no princípio do culto, não havendo mudança na liturgia. Em sua Deutsche Messe ele preferiu colocar o sermão antes do Credo. O Sermão segue o Credo e o Credo segue o Evangelho.

O Sermão é a voz da vida da Igreja na instrução, testemunho e exortação. A liturgia em sua forma normal necessita do Sermão, o qual não deve ser meramente pessoal ou indiferente para com a liturgia. Como as demais partes do culto, ele deve viver o espírito do culto. A unidade litúrgica requer que o sermão seja conduzido em uma relação íntima com as lições litúrgicas, ou no mínimo no pensamento do dia ou período do ano eclesiástico.

O ciclo de perícopes do ano eclesiástico exercem importante papel relacionado com o sermão. O pregador não deveria preocupar-se em pregar apenas textos que sejam do seu agrado, ou sua especialidade, ou ainda, para qualquer ocasião festiva escolher texto especial. As séries de perícopes estão aí para ajudar nesta tarefa e para, no período de um ano, dar destaque a grandes temas da história e o plano de salvação.

O racionalismo, três séculos após a Reforma, exaltou a figura do pregador e o sermão a tal ponto, que fez deles o centro de todo o culto. Até mesmo a arquitetura das igrejas sofreu modificações, pois os púlpitos eram colocados degraus mais altos do que o altar. A igreja perdeu muito do senso de reverência, de ordem e beleza.

O Sermão combina elementos sacrificiais e sacramentais; ele é uma interpretação, aplicação e proclamação da Palavra. Também expressa a idéia de comunicação pessoal e testemunho para a experiência do povo de Deus, para que este aceite a sua Palavra como regra e norma de fé e vida.

Antes de subir no púlpito o ministro pode proferir uma oração silenciosa no altar, enquanto a congregação conclui o cântico. Embora a liturgia não prescreva, o pastor pode seguir o costume geral das igrejas luteranas e das saudações apostólicas: Ef 1.2, ou dizer “Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.” Terminando o Sermão o ministro poderá proferir o voto: “A paz de Deus, que excede todo entendimento humano, guardará os vossos corações e vossas mentes em Cristo Jesus, para a vida eterna. Amém”, com as mãos levantadas. Antigamente era costume concluir a homilia com um ato de louvor. O voto, com o usamos hoje, é uma bênção (Fp 4.7), invocando a prometida bênção e paz sobre todo aquele que ouve a palavra de Deus e a guarda. O voto conclui adequadamente a Segunda parte do ofício da Palavra, e guia para dentro do Ofertório.

O Sermão sempre teve importância na Igreja Cristã, embora tenha sido desvalorizado na Idade Média. Sua restauração foi, sem duvida, um dos grandes elementos da Reforma Luterana.

No púlpito o pregador não expressa sua opinião ou o que o texto lhe diz pessoalmente. Com firmeza, zelo e lealdade ele proclama: “Assim diz o Senhor”. 

15. Ofertório

15.1. “Cria em mim, ó Deus”

Com o Ofertório nós iniciamos a segunda parte do culto, a qual é resposta às leituras sacramentais e à pregação da Palavra. O ofertório não é oferecer dinheiro. É muito mais do que isto, é oferecer nossos corações a Deus em dedicação, é o oferecer de nossos dons para o sustento do trabalho e culto da Igreja Cristã.

Com a influência do Pietismo, Racionalismo e Calvinismo houve um abandono do uso semanal da Santa Ceia, e o ofertório foi trazido da segunda parte do culto para ser parte da conclusão.

O Ofertório na Igreja Primitiva se desenvolveu gradativamente. Nesta segunda parte não participavam os catecúmenos, mas somente os fiéis. Esses traziam numa mesa coisas que podiam ser doadas aos pobres, e junto também o pão e vinho. Neste ato de trazer donativos eram também cantados salmos que com o passar do tempo se tornaram “O Ofertório”. Na Igreja Primitiva o ofertório variava de acordo com a estação do Ano Eclesiástico. Hoje, três desses textos permanecem da Igreja Primitiva: Sl 51.17-19; 116.12-19; 51.10-12. Nós podemos notar nestes três textos uma mesma linha de pensamento onde a oferta é um dar-se a si mesmo a Deus.

O Ofertório é um momento onde nós nos entregamos a Deus de fato e de verdade. Dentro do culto da Igreja Primitiva o Ofertório era colocado antes da Santa Ceia. Se hoje temos o Ofertório antes do prefácio, isto nada mais é do que uma volta às origens da igreja.

15.2. Ofertas

Oferta é um costume que vem desde o Antigo Testamento. Na Igreja Primitiva, porém, o povo trazia alimentos e outras dádivas a uma mesa ao lado do altar. Estes eram, trazidos numa posição e solenemente dedicados numa oração de agradecimento. O pão e o vinho que eram trazidos, usavam-se para a administração da Santa Ceia, que seguia mais tarde. As outras dádivas eram reservadas aos clérigos, para o sustento da igreja e para os pobres.

A oferta é um ato de culto, louvor e gratidão, do nosso servir a Deus. E é bom lembrar que gratidão pode facilmente ser mal compreendida, e ser usada como uma exortação fácil: “Sejam agradecidos”, pode tornar-se uma exortação moralista. A gratidão também é uma graça de Deus e precisa ser buscada nele, pois não pode ser produzida em nós pelo próprio esforço. A gratidão não é um motivo; gratidão é a resposta, e como tal, ela se expressa através de atos específicos. A gratidão é um fruto, não uma raiz... o motivo é o amor de Deus pelo homem, não o amor do homem a Deus.

As ofertas não deveriam ser levantadas após o culto, como um adendo a ele. A oferta é parte integrante do culto e é levada ao altar, mostrando que é destinada ao serviço do reino de Deus.

A congregação oferece a Deus as dádivas internas e externas, como dedicação espiritual ao Senhor. As ofertas devem ser recebidas ou levadas por pessoas responsáveis por este ato.

Os diáconos podem deixar o altar antes da oração Geral. Eles devem retirar-se de maneira silenciosa e não em passo militar. A unidade das ofertas e a oração da igreja (oração geral) como um ato comum de adoração, é enfatizada se os diáconos permanecem voltados ao altar enquanto a oração está sendo feita. O ministro, após receber os pratos da oferta, voltando-se ao altar, poderá elevar estas ofertas antes de coloca-las sobre o altar.

15.3. Oração Geral

A Oração da Igreja (Oração Geral) é uma parte do ofertório num sentido mais amplo – as três partes, a Oferta de dádivas, as sentenças do Ofertório e a Oração da Igreja, devem ser vistas como um unidade. A Oração é a contraparte litúrgica da oferta de caridade e sacrifício. As dádivas e orações são a oferta dos que prestam culto, apresentadas juntamente com as intercessões de Cristo, “o Sumo-sacerdote de nossas oferendas”, como expressão de gratidão e louvor. Dr. Henry E. Jacobs (no livro The Lutheran Movement in England, p. 303) diz que “o ofício da oração geral é apresentar todas as nossas orações pelos homens e levá-los ao arrependimento e fé, para que experimentem a plenitude da bênção divina, temporal e eterna”.

Esta Oração inclui os elementos fundamentais e os universais em sua dimensão. É uma oração por toda sorte e condições do homem. Revela o verdadeiro propósito para a Igreja em todas as suas atuações, o Estado e o Governo, o lar e seu bem estar, enquanto ela relembra diante de Deus a todos os homens nas suas diversas vocações e necessidades. É um dos elementos notáveis na liturgia e, provavelmente, aquele que acima de todos os outros, ilustra o exercício ativo da congregação de suas funções como sacerdócio real. O culto principal não seria completo sem algumas destas formas sublimes, puras e aceitáveis de oração. A inspiração escriturística para isso é a admoestação de Paulo (1 Tm 2.1-2).

Ao fazer alusão, além das coisas pequenas, locais e particulares, também às questões mais amplas e universais, a Oração da Igreja revela o verdadeiro espírito da Igreja. Não há nela mera repetição de idéia do dia ou do sermão, nem apenas uma expressão de necessidades e desejos particulares. Ela é dirigida a Deus em humildade e confiança, e seu sincero propósito é que seja ouvida por Ele. Não há tentativa de agradar ou instruir a congregação nem de procurar outros objetivos impróprios.

A Oração da Igreja é uma grande intercessão (Litania do Diácono); nos ritos gregos e nos ofícios romanos e gálicos, era aí que iniciava a Missa dos Fiéis. A Reforma restaurou esta Oração Geral da Igreja para as liturgias luteranas e anglicanas, pois a mesma tinha sido degenerada numa série de comemorações em favor dos mortos e invocação de santos na Idade Média. Seguindo a posição de Lutero, em sua Deutsche Messe, de 1526, e redigindo precioso material devocional no vernáculo, as ordens da Igreja Luterana desenvolveram a Allgemeine Kirchengebet.

Com o passar do anos foram providenciados textos completamente novos e em linguagem simples e moderna, incluindo muitas das idéias antigas, mas que também expressam muitas idéias e necessidades de nosso tempo.

A resposta “Nós te imploramos que nos ouças, bom Senhor”, garante a atenção e participação da Congregação e alivia o tédio de uma forma rígida.

A Oração Geral da Igreja é um ato sacrificial e o ministro está voltado para o altar. Caso o altar esteja afastado da parede, a Oração poderá ser proferida por detrás dele. As rubrica gerais orientam que a Oração Geral será usada em dias festivos em sempre que houver celebração da Santa Ceia. Em outros tempos a litania ou uma forma seletiva de coletas e orações, ou qualquer outra oração adequada poderá ser proferida. A parte final dá a alternativa de inclusão de temas livres do momento. Contudo, orações livres (improvisadas) deveriam ser evitadas, para não incorrer no perigo das vãs repetições e erros doutrinários decorrentes da falta de reflexão. Há ocasiões que claramente exigem comemoração ou intercessão especial. Material preparado especialmente para tais ocasiões não deveria suplantar a Oração Geral em si, mas antes, tornar-se parte dela. Petições apropriadas, preparadas com antecedência, podem ser usadas, em lugar apropriado na Oração Geral.,

As rubricas instruem o ministro a fazer menção de petições especiais, intercessões e ações de graça, as quais podem ter sido solicitadas pelos fiéis, antes da Oração Geral, assim que a congregação possa tê-las em mente durante a oração.

Quando há comunhão, as rubricas requerem a omissão do Senhor neste lugar, a fim de evitar repetição. Avisos necessários após a Oração Geral podem ser dados assim que não destruam o espírito do culto, e deveria ser tão breves quanto possível.

16. Prefácio

O prefácio costuma iniciar com um hino (ofertório). Tem este a função de preparar os corações e as mentes das pessoas para as bênçãos espirituais que Deus nos quer oferecer. Ali somos convidados a elevar os nossos corações a Deus. É o momento no qual abrimos os nossos pequenos corações em júbilo ao grande Doador da Salvação. Essas frases curtas, mas significativas do prefácio são a única coisa que temos para oferecer a Deus, junto é claro, com nossos corações contritos e quebrantados.

Podemos notar no prefácio a forma plural: convosco, vossos, nosso; e isto é muito significativo porque dá um aspecto de comunidade aos crentes reunidos. E toda essa situação do prefácio cria um espírito que ecoa nos corações com as palavras “É verdadeiramente... louvando-te sempre dizendo”. Neste momento estamos face a face com nosso Senhor Jesus em gratidão e louvor.

Existem prefácios próprios que variam de acordo com o Ano Eclesiástico. Esses prefácios expressam o pensamento para cada ocasião, têm eles conteúdo histórico e doutrinário.

17. Sanctus

Palavra de origem latina, é o clímax e conclusão do prefácio. É um texto da canção na qual a igreja peregrina une sua voz ao cântico da igreja vitoriosa. Com as palavras “Santo, Santo, Santo...” nos associamos ao canto dos anjos (Is 6.2,3). É um ato solene de adoração e gratidão num espírito de reverência. É o mais antigo, mais celebrado e mais universal dos hinos cristãos. É o grande hino de louvor na comunhão. O texto litúrgico proclama a glória a Deus Pai no primeiro parágrafo e o louvor de Cristo como Deus, no segundo (Jo 12.41). O Hosana é uma referência à entrada triunfal de Jesus em Jerusalém (Mt 21.9 – Cf. Sl 118 e Ap 4.8). Hosana nas alturas significa “Salva agora, eu te suplico, Tu que estás nos céus”. No tríplice Santo há uma alusão à SS. Trindade. Aquele que vem em nome do Senhor é próprio Cristo, que vem a nós na Santa Ceia (presença real) e também virá para o juízo.

18. Pai Nosso

Oração que o próprio Cristo nos ensinou. Nela nos dirigimos ao Pai Celeste como seus filhos por Cristo. É a oração do discipulado. Não é a consagração dos elementos da Ceia, e sim dos participantes. É a oração distintiva dos filhos de Deus, que, conscientes de sua comunhão e união como irmãos, bem como parte da comunhão dos santos, querem achegar-se à mesa do Senhor. O lugar apropriado para esta oração é antes da distribuição. Nas liturgias gregas, a doxologia está incluída. Na Missa Romana, a resposta final da congregação é a sétima petição. É questionável se o ministro deveria orar o Pai Nosso sozinho, pois a oração está na primeira pessoa do plural. Na “Deutsche Messe” Lutero providenciou a parte musical para ser cantada pelo ministro, bem como para as “Verba” que seguem. Esta é a característica da Igreja Luterana em todo o mundo. Se cantado ou não, importante é que esta oração e as palavras da Instituição devem ser proferidas com a maior clareza, reverência e dignidade.

19. Verba ou Palavras da Instituição da Santa Ceia

Como registro da instituição original da Santa Ceia por Jesus Cristo, estas palavras, separadas ou dentro do contexto da oração eucarística, dão validade objetiva para a subseqüente administração, e separam os elementos visíveis para o seu uso sagrado. Estas palavras são encontradas em todas as liturgias, mesmo que não seja na mesma forma. O texto é uma harmonia dos quatro relatos do Novo Testamento (Mt 26, Mc. 14, Lc 22 e 1 Co 11). Muitas liturgias mais antigas omitem as palavras “...fazei isto... em memória minha”. Lutero, na sua Formula Missae (1523), omitiu vários adornos medievais, e acrescentou a frase “que é dado por vós” após as palavras “isto é o meu corpo; isto é o meu sangue”.

O uso delas para a Santa Ceia é mais do que mera recitação do evento histórico ou citação de autoridade para empenhar-se neste procedimento sagrado. É um ato de oração solene e corporativa, uma celebração litúrgica exaltada, na qual a congregação celebrante apreende e mantém erguidas as promessas divinas, evoca a ordem divina e invoca a bênção divina. As palavras da instituição são dirigidas a Deus. São a garantia para a fé nutrida pelo sacramento; pedem e recebem da parte de nosso Senhor Jesus (Ressuscitado) a graça pela qual o pão e vinho são, para aqueles que os recebem, seu corpo e sangue. A atual consagração deve ser encontrada na instituição original do nosso Senhor. A recepção dos elementos visíveis, que está implícita na ordem “fazei isto”, completa a administração. A consagração não consiste meramente, na repetição daquelas palavras “isto é o meu corpo”, mas nisso nós fazemos o que Cristo fez, isto é, que nós pegamos, abençoamos, distribuímos e comemos o pão de acordo com a instituição e as ordens de Cristo.

Quanto à posição do que consagra os elementos da Santa Ceia: se não puder ficar de frente para a congregação, deveria ao menos ficar de lado, não de costas. As palavras da instituição da Santa Ceia serão lidas ou cantadas em tom claro, vivo, dinâmico, em humildade de coração (aqui nestes quatro reside a solenidade). Para maiores detalhes sobre como proceder, veja algo sobre rubricas do culto cristão.

20. Pax Domini

Esta pequena bênção, infelizmente omitida em muitas celebrações, remonta também à igreja antiga. Lutero apreciava muito, chegando a escrever na Formula Missae (1523): A Pax é a voz do evangelho, anunciando o perdão dos pecados. Ainda segundo Lutero, esta era a única e mais valiosa preparação para a mesa do Senhor. Algumas igrejas o cantam, outras o dizem. Alguns o colocam antes do Agnus Dei; outros, depois. Outros há ainda, que o colocam após a distribuição. Nos primórdios da Igreja Romana, incluía-se no Pax o ósculo Santo (Rm 16.16 e outros). Diversas também têm sido as respostas da comunidade; porém o mais usado é : “E com o teu espírito”.

21. O agnus Dei

Este maravilhoso hino de comunhão foi introduzido na liturgia pelo Papa Sergius I, cerca de 700 A.D. A fonte bíblica do Agnus é Jo 1.39, que nos faz lembrar a mensagem profética em Is 53. Encontramos mais de 30 referências de Cristo como Cordeio no Apocalipse de João. Algumas igrejas o omitem. Na concepção luterana, o Agnus está diretamente ligado à distribuição e possui uma interpretação fortemente sacramental. Não é tanto uma repetição da confissão de pecados. O texto contém a confissão tríplice da atuação vicária de Cristo, em cumprimento à profecia – Is 53: 7,12; 1 Pe 1: 19,20, e é uma oração pela misericórdia e paz. Estes são os dons que Cristo nos dá na Ceia.

22. A distribuição da Santa Ceia

Durante a distribuição pode-se cantar um ou mais hinos. Hinos de Santa Ceia ou de louvor, de preferência.

Em alguns lugares os comungantes recebem a ceia ajoelhados. Este é um costume introduzido no século doze, e devota reverência e humildade. A fórmula da distribuição na igreja primitiva era simplesmente: “o corpo de Cristo”, e “o sangue de Cristo”, e cada um dos comungantes respondiam amém. No tempo de Gregório, o grande, essa fórmula expandiu-se na oração “o corpo de Cristo preserve a tua alma”.

Lutero na sua Formula Missae (1523) preservou esta fórmula e não deu nenhuma fórmula em sua Missa Alemã (1526), e não há qualquer fórmula em Duke Henry (1539), Witenberg (1533) e Mecklenburg (1552), Bugenhagen rejeitou todas as fórmulas dizendo: “Quando alguém dá o sacramento, não diga nada aos comungantes, porque as ordens de Cristo já foram ditas aos ouvintes e não podemos melhorá-las em cima dos comungantes”. Schelswig Hostein (1546). Lübek, uma das cidades de Bugenhagen, contudo introduziu a fórmula em 1647, e muitas da ordens do século XVI, e praticamente todas da agenda posterior preservam fórmulas de distribuição.

A fórmula na liturgia comum é um retorno à forma simples da Igreja Primitiva, a qual também está na liturgia da Igreja da Suécia e na Igreja Augustana. Sua brevidade permite aplicação individual. Ela deveria ser usada com precisão. “Dado por ti”, este é um acréscimo feito por Lutero.

As palavras deveriam ser ditas distinta e solenemente, embora num tom calmo, como uma garantia do valor significativo para cada indivíduo. O comungante pode tranqüilamente responder com um “amém” e/ou fazer o sinal da cruz.

Nos primeiros séculos o ministro colocava o pão na mão do comungante. Tertuliano (Séc. II) e Sirilo de Jerusalém (Séc. IV) dão testemunho deste fato. O último descreve que os comungantes faziam da mão esquerda um trono para a direita, encavando a palma da mão para receber corpo de Cristo. A prática medieval exigia que o Sacerdote colocasse a hóstia diretamente sobre a língua do comungante, para prevenir que a mesma não se quebrasse e também temia-se que alguém pudesse levá-la para casa, a fim de usá-la para fins de magia ou superstição.

Quanto ao cálice individual, este é uma inovação ainda recente e não difundido entre nós. O inovador foi um pastor americano, o qual também era médico. Isto aconteceu numa igreja rural em Ohio, por volta de 1893.

Com poder-se-ia tornar a participação do pastor possível? – Um diácono, devidamente instruído e consagrado, ou o presidente da congregação poderiam fazê-lo. Na “Pastorale” de C.F.W. Walther (p. 197-200) bem como nos “Artigos de Esmalcalde” (2ª Parte, Segundo Artigo, Seção 8) menciona-se inclusive a possibilidade de, em casos muito especiais, a auto-comunhão.

Algumas praxes quanto à distribuição poderiam ser mencionadas. Quanto a hóstia, muitos ainda mantêm a prática de levá-la diretamente a boca do comungante; outros preferem colocá-la sobre a palma da mão, e o próprio comungante a leva à boca. Não há qualquer restrição quanto ao mastigar a hóstia. Não está dito em lugar algum que isto não possa ser feito. Quanto ao vinho, não há indicação sobre a sua cor, apenas que seja “Do fruto da Videira”, e quanto ao cálice, não há restrições quanto ao uso do cálice individual; quanto ao uso do cálice comum, o pastor deveria tomar o cuidado para sempre limpar as bordas do mesmo com um guardanapo; o comungante pode ajudar, para evitar possíveis acidentes.

Há costumes diferentes quanto à postura diante do altar. Há quem prefira a fila indiana (podendo simbolizar a igreja que está em peregrinação); há os que preferem permanecer de joelho (simbolizando humildade e devoção); outros preferem permanecer em pé diante do altar (idéia de comunhão); e outros ainda, preferem colocar-se ao redor do altar (comunhão, mesa do Senhor). O importante é que os elementos e a ordem de Cristo (instituição) não sejam alterados, e que tudo seja feito com a mais profunda devoção e respeito, é claro, não desconsiderando o aspecto de “festa espiritual”.

23. Nunc Dimitis

É o cântico de Simeão (Lc 2.29-32) e significa “Agora despedes”. É um cântico que provavelmente pertence a “Complino”, de cujo emprego ele entrou nas Vésperas Luteranas, ele é encontrado na Igreja Grega ao final da liturgia, mas não é usado nos ofícios da Sagrada Comunhão Romana ou Anglicana, contudo, é indicado neste lugar na antiga liturgia Espanhola. As ordens de Lutero para a Santa Ceia não mencionam o Nunc Dimitis, mas ele é usado na Liturgia Sueca (1531) e em algumas liturgias germânicas do Séc. XVI.

O Nunc Dimitis forma uma conclusão apropriada e bela para o culto, relacionando o mistério da Sagrada Comunhão ao da encarnação. Ele expressa plenitude de realização e satisfação espiritual na apropriação pessoal das promessas de Deus e na parte final da liturgia, ele nos relembra a conclusão da primeira Ceia: “E tendo cantado um hino, foram ao Monte das Oliveira”.

24. Ação de Graças

A convocação para a Ação de Graças da congregação vem do versículo que introduz a coleta de ação de graças. Pensou-se por muito tempo que esta coleta fosse inteiramente original de Lutero, mas forma descobertos textos mais antigos, os quais contêm expressões semelhantes. Mas em sua forma final, a coleta é definitivamente de Lutero, que expressa a sua ênfase e espírito.

Pensamentos essenciais são apresentados na forma mais breve, mas com fervor. O primeiro é o da ação de graças. O próximo é uma ênfase sobre o fato de que o sacramento é dom de Deus para o homem, e não uma oferta do homem a Deus. O sacramento é reconhecido como um meio da graça e nós oramos, dando graças, é a única resposta possível, é tudo o que se pode fazer depois de ter recebido tão grande dom da salvação.

25. A Bênção

Esta bênção é proferida em nome de Deus, dando a certeza de sua graça e paz àqueles que o invocam em espírito e verdade. A ordem de Deus para Moisés (Nm 6.22-27) e a ação de Jesus ao despedir-se de seus discípulos no Monte das Oliveiras (Lc 24.50) fortemente sustenta esta convicção. Arão e seus filhos deveriam fazer uso destas palavras para abençoar os filhos de Israel: “Eles colocarão o meu nome sobre os filhos de Israel, e eu os abençoarei”. Assim que a missão terrena de Jesus estava concluída e sua presença visível estava chegando ao fim, ele guiou os seus discípulos até Betânia, levantou as suas mãos e os abençoou (Lc 24.50). No Santo Sacramento, sua presença é uma realidade para nós, e ele agora nos dá a sua bênção através da palavra de seu servo quando nossa adoração finda.

Lutero, evidentemente desejava uma forma mais forte e positiva do que a breve locução como qual termina a Missa Romana. Na sua Missa Latina de 1523, ele sugere o uso das palavras de Números ou de uma passagem dos Salmos, dizendo simplesmente: “Eu creio que Cristo usou algo dessa espécie quando abençoou os seus discípulos pouco antes de subir aos céus”. Ele definitivamente incorporou a Bênção Araônica em sua Deutsche Messe (1526).

A liturgia Sueca imediatamente seguiu a iniciativa, porém acrescentou à Bênção Araônica a expressão “Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”. Assim, a forma do Antigo Testamento é solenemente concluída com a fórmula trinitária. A Bênção em caráter sacramental e, normalmente seguida do sinal da Cruz. Schoeberlein comentou que as mãos levantadas transmitem a idéia da bênção, e que o sinal da cruz dá um caráter específico cristão para o uso do texto do Antigo Testamento.

Na igreja primitiva, a bênção era simplesmente: “Ide em paz”. Não devemos esquecer das seguintes passagens: Sl 121.8: “O Senhor guardará a tua saída e a tua entrada, desde agora e para sempre”; Gn 32. 22-27: “...Não te deixarei ir se não me abençoares... e o abençoou ali”.

Fim do Culto?

Certamente que não. É apenas o início. Há toda uma semana pela frente. Admoestados, fortalecidos e consolados pela Palavra de Deus e pelo Sacramento, voltamos às nossas atividades diárias. Ali vivemos a nossa fé, na forma de serviço a Deus e ao nosso próximo. E para viver essa fé na vida diária, pedimos a bênção de Deus. Pedimos: Oh Deus, esteja conosco!

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