fevereiro 06, 2019


Por Rev. Hermann Sasse

A nova constituição* é aceitável para as igrejas da Reforma hoje, ou pode pelo menos ser considerada como um passo na direção de um acordo da controvérsia? Nossa resposta deve ser: apresenta um bom ponto de partida para um diálogo sério entre Roma e as igrejas evangélicas, mas só isso. Ajuda a esclarecer os problemas para formular o verdadeiro estado de controvérsia. Qual é o ponto em questão? Nós não negamos a existência de uma tradição viva na igreja. A doutrina não é transmitida simplesmente pela transmissão de um livro. Como os escritos proféticos e apostólicos surgiram da proclamação oral dos profetas e apóstolos, eles são transmitidos não apenas como livros escritos ou impressos, mas como a base da pregação e ensino da Igreja. Esta tradição deve ter existido já no tempo do Antigo Testamento ...

[Por uma questão de brevidade, omitimos aqui uma parte do discurso de Sasse, em que ele discute os possíveis condutos da "tradição oral" entre o povo de Deus no AT, que culmina nas meditações do povo piedoso comum.]

Quando falamos de tradição, não devemos apenas pensar sobre a tradição apostólica no Novo Testamento, mas também a tradição que manteve viva a Palavra de Deus escrita nos séculos antes de Cristo. Existem, é claro, tradições de naturezas diferentes. Em Jerusalém, havia as tradições dos saduceus que consideravam apenas a Torá como a palavra de Deus e tinham interesses litúrgicos muito fortes. Havia a tradição dos fariseus, e novamente entre eles várias escolas de pensamento. A tradição foi mantida nas escolas rabínicas. Havia pessoas simples que vivia a esperança dos pais. Maria e José, Zacarias e Isabel, Simeão e Ana podem encontrar-se entre eles. Nesses círculos, o Benedictus, o Magnificat e o Nunc Dimittis eram cantados.

A tradição se opunha à tradição. Os salmos, os profetas foram interpretados diferentemente por diferentes tradições, assim como os textos petrinos dos Evangelhos foram interpretados de maneira diferente pelas tradições do Oriente e do Ocidente. É o mesmo com o ensino oral dos profetas. Jeremias proclamou a destruição de Jerusalém. Ele foi denunciado como um falso profeta. Isaías não profetizou o contrário e foi justificado pelos acontecimentos? Jeremias considerou em seu tempo os profetas de um final feliz como falsos profetas. O povo de Jerusalém estava confuso. Onde estava o ofício infalível de ensino designado divinamente para decidir este assunto com autoridade? Quem decidiria nos dias terrenos de nosso Senhor se a declaração dele estava certa ou errada?  Se uma decisão clara havia sido esperada em qualquer lugar, então foi no Sinédrio que os santos instruídos das Escrituras e os mais eminentes líderes religiosos do povo de Deus constituíram a mais alta autoridade espiritual que existia no mundo naquela época. Sua decisão foi incorreta.

* A nova constituição é Dei verbum, a 'Constituição dogmática sobre a revelação divina' aprovada pelo Concílio Vaticano II e promulgada pelo Papa Paulo VI em 18 de novembro de 1965.

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Holy Church or Holy Writ? The Meaning of the Sola Scriptura of the Reformation IVF Graduates Fellowship, Syndey, 1967, pp.19-20.

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