O Termo “anticristo” é usado num sentido geral e num sentido específico. No sentido amplo, aplica-se a todos os falsos mestres que, dentro da igreja, ensinam doutrinas contrárias a palavra de Cristo. Esse espírito do anticristo estava no mundo no tempo de João (1 João 4.1-3). Mas João distingue entre os muitos anticristos de seu tempo e o anticristo que havia de vir e no qual o espírito dos muitos anticristos de seu tempo e o anti cristo que havia de vir e no qual o espírito dos muitos anticristos culminaria. “Como ouvistes que vem o anticristo, também agora muitos anticristos têm surgido, pelo que conhecemos que é a última hora” (1 João 2.18). Paulo escreve: “Isto não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia, e seja revelado o homem da iniquidade, o filho da perdição” (2 Tessalonicenses 2.3). Ambos os apóstolos falam do mesmo indivíduo, cuja vinda seria um sinal dos últimos tempos. Ambos ensinam que o espírito do anticristo (1 João 4.3), ou o mistério da iniquidade, já operava no tempo deles (2 Tessalonicenses 2.7), mas tornar-se-ia, no curso do tempo, mais pronunciado e reconhecível.
As marcas pelas quais se pode reconhecer o anticristo.
a) Haverá uma apostasia (2 Tessalonicenses 2.3), isto é, apostasia da verdade do evangelho pelo ensino de doutrinas falsas. Todo anticristo ensina doutrinas falsas, mas esse o faria em escala tão ampla a ponto de destacar-se acima dos demais. Por causa dessa apostasia da verdade, também haveria grande apostasia da fé em Cristo por parte daqueles que seguem o anticristo e aceitam seus ensinamentos. Mas do que qualquer outro, ele haveria de falar “coisas perversas para arrastar os discípulos” atrás dele (Atos 20.23)
b) O anticristo se assenta no santuário de Deus (2 Tessalonicenses 2.4). Há alguns fora da igreja que ensinam doutrinas anticristãs, fazendo com que muitos percam a fé (1 Timóteo 6.20,21). Mas esses não são o anticristo do qual Paulo fala. Não estão na igreja, mas fora dela. Juliano, o Apóstata, Maomé e outros inimigos bem conhecidos de Cristo e de sua igreja não são esse anticristo. Sua posição a Cristo e a seu ensino era conhecida e aberta. Mas esse anticristo é chamado “mistério de iniquidade”. Trabalha secretamente, acobertado pelo nome de Cristo e seu “aparecimento...é... com todo engano de injustiça”. (2 Tessalonicenses 2.9,10). Esse “mistério da iniquidade” se desenvolve não fora, mas dentro da igreja visível, até culminar no homem do pecado, no filho da perdição, que se assenta no santuário de Deus.
c) O qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus. Ou objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus ostentando-se como se fosse o próprio Deus (2 Tessalonicenses 2.4). “A frase mostra qual é o extremo da anomia: oposição e auto-exaltação contra nada menos do que todo Deus que ‘se chama’ Deus e contra todo objeto de culto” (Lenski sobre 2 Tessalonicenses 2.4). Sobre tudo isso o anticristo se exalta, sobre tudo isso reivindica autoridade e domínio, como vice-gerente de Deus na terra, vice-gerente ao qual estão subordinadas as ordens estabelecidas por Deus, afirmando ser o mesmo infalível em matéria de fé e moral, e ao qual toda a cristandade deve obedecer como se ele fosse o próprio Deus.
d) O surgimento do anticristo até sua plena forma e estatura será gradativo. O espírito do anticristo, ou o mistério da iniquidade, já operava nos dias dos apóstolos (1 João 4.3; 2 Tessalonicenses 2.7). Até entre os discípulos de Cristo havia contenda. Queriam saber quem seria o maior no reino de Deus (Lucas 22.24). Pedro teve que advertir os presbíteros contra a ideia de serem dominadores da herança de Deus (1 Pedro 5.1-3). Desde o início, houve pessoas ambiciosas que lutavam por eminência e domínio na igreja. O povo, da mesma forma, esteve pronto para exaltar um pastor sobre o outro (1 Corintios 1.12). Contudo, houve algo que de momento detinha e reprimia essa tendência (2 Tessalonicenses 2.5-7). Foi, de um lado, a autoridade dos apóstolos ainda vivos (Atos 20.29,30); de outro lado, havia o grande poder do império Romano pagão, que não era lá muito amigável para com os cristãos e certamente não toleraria essa extravagante reivindicação de superioridade. Durante os primeiros séculos da igreja, e particularmente seus líderes, foram perseguidos. Não era, por isso, seguro ter excessiva proeminência na igreja. Eliminados esses obstáculos, nada haveria que impedisse a revelação do anticristo a seu tempo. Furtiva, sub-reptícia, mas persistentemente as pessoas lutariam por autoridade e poder na igreja, até que um conseguisse exaltar-se acima de tudo que se chama deus e se adora, de modo a assentar-se, como Deus, no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus.
e) A força impelente por trás dessa luta ambiciosa por proeminência e primazia na igreja é o próprio Satanás, que “com todo poder, sinais e prodígios da mentira, e com todo engano de injustiça” sustentará e promoverá esse movimento anticristão (2 Tessalonicenses 2.9,10). Pretensos milagres e sinais, exibição externa de poder, pompa e grandeza, o aparente êxito em estabelecer e difundir seu regime cegariam e enganariam os que não se atrelam à verdade da palavra de Deus. Contemplando o que a si mesmo fez cabeça da igreja, esqueceriam quele que é o cabeça da igreja.
f) Esse anticristo continuará na igreja visível até o fim dos tempos. “... a quem o Senhor Jesus matará com o sopro de sua boca, e o destruirá, pela manifestação de sua vinda” (2 Tessalonicenses 2.8)
Quem é esse anticristo?
A Bíblia não declara expressamente quem é esse anticristo, mas o descreve, de modo que os cristãos podem reconhecê-lo e ficar advertidos. Quando nos esforçamos para determinar quem pode ser esse anticristo, não devemos tomar um ou dois traços, mas o quadro todo conforme aqui pintado e ver quem cabe no quadro. Quando estudamos a história da igreja, encontramos apenas uma instituição que tem todas as marcas aqui atribuídas ao anticristo, e essa instituição é o papado romano.
Em virtude do fato de ainda haver crentes na Igreja Católica (Crianças batizadas e aqueles que, apesar de doutrinas falsas, oficialmente ensinadas, apegam-se pessoalmente a Cristo e a seus méritos), essa igreja deve ser incluída na igreja visível de Cristo na terra, o “santuário de Deus”. Más no que diz respeito aos ensinamentos oficiais, houve grosseira apostasia da verdade do evangelho. A doutrina segundo a qual os pecadores são salvos somente pela graça, mediante a fé em Cristo, é oficialmente condenada (CF. Cânones 9,11 e 12 do Concílio de Trento, conforme citados em Popular Symbolics, p. 179). Por causa das falsas doutrinas ensinadas também houve uma grande apostasia da fé. Muitas almas simples foram realmente transviadas e se perderam. O papa não está fora mas dentro da igreja visível, e se levantou “contra tudo que se chama deus, ou objeto de culto” (2 Tessalonicenses 2.4). Afirma que é vigário de Cristo na terra e que tem supremacia sobre todo poder temporal, e certamente exerce autoridade suprema dentro de sua denominação ( Para prova de fontes católicas sobre a doutrina do primado papal cf. Popular Symbolics, parágrafo 225,226).
O surgimento do papado foi gradativo. Quando Constantino, o Grande, se tornou imperados único, cerca de 300 D.C, a religião cristã de saída foi tolerada e protegida. Depois tornou-se a religião do Estado e foi sustentada pelo poder e pelos rendimentos públicos do Império. Assim, se tornou possível a ascendência do papado. O obstáculo principal no caminho de pessoas ambiciosas, o Império Romano pagão e hostil, havia sido removido. Os bispos passariam a exaltar-se acima dos presbíteros; os bispos metropolitanos passariam a exaltar-se acima dos outros bispos. Finalmente, a rivalidade se circunscreveu ao bispo de Roma e ao de Constantínopla, rivalidade que acabou no cisma entre o Oriente e o Ocidente em 1504. No Ocidente, o primado do papa e seu poder temporal eram universalmente reconhecidos cerca do ano 1100. Quanto aos prodígios de mentira, chamamos a atenção para os milagres alegadamente feitos por santos e relíquias, com os quais, até o dia de hoje, o povo é enganado.
Príncipes e concílios eclesiásticos têm lutado contra o poder e o primado do papa, mas ele não só sobreviveu, senão que, dentro de sua igreja, sua posição se estabeleceu mais firmemente. Em 1870, foi decretada a infalibilidade papal pelo Concílio Vaticano, por insistência de Pio IX. “Nós, com a aprovação do sacro concílio, ensinamos, e assim definimos como dogma divinamente revelado, que o pontífice romano, quando fala excathedra – isto é, quando no desempenho do ofício de pastor e mestre de todos os cristãos, em virtude de sua suprema autoridade apostólica, define uma doutrina a respeito de fé e moral a ser crida pela igreja universal – é, através da divina assistência prometida ao bem aventurado Pedro, dotado de infalibilidade com a qual o divino Redentor quis estivesse dotada sua igreja para definir doutrina a respeito de fé e vida; e que, por isso, tais definições do romano pontífice são, por si mesmas, e não pelo consentimento da igreja, inalteráveis. Mas se alguém se aventurar (o que Deus queira impedir) a contradizer nossa definição, seja anátema” (Citado de Popular Symbolics, p.162). Esse decreto confere ao papa autoridade divina em matéria de fé e vida, e prova que ele se assenta no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus (2 Tessalonicenses 2.4). Quando PIO XII foi ordenado no dia 3 de março de 1939, usou-se a seguinte fórmula, segundo o Chicago tribute de 12 de março de 1939: “ Entrego-te a tiara adornada de três coroas; saibas que és o pai dos príncipes e reis, o guia de todo o mundo e o vigário de nosso Senhor Jesus Cristo, ao qual, só, é devida honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém.” Tudo isso mostra que as reivindicações da supremacia papal na igreja e no mundo são sustentadas até o dia de hoje.
Não há nada na história da humanidade que satisfaça tão completamente a descrição do anticristo feita na Bíblia como o papado romano. Quando dizemos que o papa é o anticristo, não pensamos numa pessoa individual, mas numa sucessão de pessoas, cada qual continuando onde seu antecessor parou. Aplica-se ao sistema do qual o papa individual é o cabeça. (Cf. Os Artigos de Esmalcalde, Do Poder e Primado do Papa, Livro de Concórdia, Os Artigos de Esmalcalde, Parte II Art. IV, Do Papado, Livro de Concórdia); Popular Symbolics, Parágrafo 223, 225, 226.)
Do Livro: Sumário da Doutrina Cristã | Edward W. A. Koehler
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