maio 09, 2018


Por Rev. Aaron Moldenhauer

A Festa da Ascensão marca a subida de Jesus ao céu quarenta dias depois da Páscoa. Os relatos das escrituras[1] sobre  este evento são simples. Enquanto abençoava seus discípulos, Jesus foi tomado e uma nuvem o encobriu da vista deles. Dois anjos apareceram e disseram aos discípulos que esse Jesus voltará da mesma maneira.

Se bem que o relato é simples, a ascensão de Jesus levanta algumas questões. O que significa ascender? Onde Jesus está agora? Que benefícios obtemos da ascensão de Jesus? Os reformadores luteranos apontam, em seus sermões, as respostas que a Escritura dá à essas questões. Eles enfatizam a vitória de Cristo sobre o pecado e sua presença contínua com sua igreja no mundo.

Martinho Lutero

Em 1534, Lutero pregou o dia da Ascensão. Lutero fala sobre a história e o fruto da ascensão. Esta história estabelece o que aconteceu, como Cristo foi tomado envolvido por uma nuvem. Se isto é pregado apenas como história, diz Lutero, não nos beneficia. No entanto, é pregado para o nosso bem, o que leva Lutero a se concentrar mais no fruto da ascensão.[2]

Enquanto prega o fruto e o uso da ascensão em nosso favor, Lutero proclama que Cristo levou cativo o cativeiro. Aqui, Lutero está delineando Efésios 4.8, e sua citação do Salmo 68.18. O grego literalmente diz: "levou cativo o cativeiro".[3] Lutero prega que isto significa que Cristo fez cativo todas as coisas que nos mantinham cativos. O pecado, a morte, o diabo, etc. Eles não nos prendem mais. Cristo os prendeu em um cativeiro no alto. Como Cristo capturou os nossos opressores, agora estamos livres das coisas que nos mantinham cativos diante de Deus: pecado, morte, inferno e demônio.[4]

Um dos principais frutos disso para nós é que estamos livres do pecado. Lutero diz que agora podemos zombar do pecado. Se o pecado ameaça nos aterrorizar, podemos responder: "Você é meu servo, eu sou teu senhor". Você não ouviu o cântico 'Você subiu' [ referindo-se a Efésios 4.8]". [5] Este é um componente de estar livre do pecado, liberdade do medo diante de Deus. Outro componente é a liberdade para fugir do pecado. Lutero prega ambos os componentes.

"Se você crê em Cristo, então o texto diz que você crê que ele está sentado, e que levou cativo o meu cativeiro, isto é, o meu pecado. De que maneira? Eu não deveria me aterrorizar diante de Deus... Creio naquele que está acima, que capturou o pecado, portanto, não conheço nenhum outro pecado além do pecado que está cativo, que agora está condenado diante de Deus e que no final será decapitado... Você [pecado] quer me levar ao desespero e tristeza, presunção e idolatria. Mas você não tem mais poder. Você foi levado cativo. Sua tirania e domínio acabaram. Eu nem deveria... Faço coisas más, me sinto orgulhoso, odioso e ciumento, mas o pisoteio e sou paciente, etc." [6]

Livres em Cristo, podemos zombar do pecado e nos opor às suas tentações, porque Cristo levou o pecado ao cativeiro através de sua ascensão.

Johannes Brenz

Johannes Brenz publicou um sermão sobre a ascensão na década de 1550. Brenz foi um reformador luterano amplamente conhecido e respeitado no século XVI, publicando muitas obras e participando de eventos como a Disputa de Heidelberg, o Colóquio de Marburgo, a Dieta de Augsburgo e do Concílio de Trento. Foi o reformador de  Schwäbisch-Hall  e depois trabalhou em Württemberg.

O sermão de Brenz expande a estrutura do sermão de Lutero. Como Lutero, Brenz discute a história e os frutos da ascensão. Além disso, Brenz cita uma ampla gama de passagens bíblicas além de Atos 1, que falam da ascensão. Brenz então acrescenta uma seção sobre o que significa que Cristo ascendeu ao céu.[7]

Brenz refuta os argumentos de que a ascensão de Cristo e o sentar-se à destra de Deus significam que o corpo de Cristo está restrito a um único lugar físico no céu. Por causa dessa suposta restrição à localização do corpo de Cristo, os Sacramentários argumentaram que o corpo e sangue de Cristo não poderiam estar presentes no sacramento do altar. Brenz sustenta que Cristo ascende ao céu para preencher todas as coisas. Esta presença vai além da compreensão humana, de modo que Cristo está "fora, dentro, acima e abaixo de todos os lugares, tanto no céu como na terra". Enquanto Cristo está presente em toda parte, esta presença não é mais visível. A ascensão ao céu é o fim do tempo de Cristo vivendo visivelmente com seus discípulos na terra. Sua presença com a igreja na terra é agora invisível.[8]

Brenz expande os frutos da ascensão de Cristo. Como Lutero, ele proclama que Cristo amarrou nossos inimigos como a desgraça, a morte e o inferno. Mas então ele acrescenta que Cristo nos levou para o céu. Brenz faz a pergunta retórica óbvia: como pode ser isso? Os discípulos ficaram no monte quando uma nuvem cobriu Jesus. Todavia, nós estamos neste mundo. Brenz responde que a resposta se encontra em Paulo: Vossa vida está escondida com Cristo, em Deus (Colossenses 3.3). Cristo, o cabeça da igreja, ascendeu. Nós, os membros do seu corpo, ascendemos com ele. Mas agora a nossa ascensão com Cristo está oculta. Nosso reinado em Cristo nos dá esperança em tempos difíceis. Esses problemas foram feitos cativos por Cristo. Nós reinamos sobre eles. Chegará um tempo em que Cristo e nossa vitória se tornarão visíveis para nós.[9]

Conclusão

Os reformadores têm muito conforto para oferecer ao pregar sobre a ascensão. Lutero e Brenz contam a história e mostram como Cristo usa a ascensão para o nosso bem, levando cativo o cativeiro. Brenz proclama a presença contínua de Cristo conosco e oferece a rica consolação de que agora reinamos em Cristo sobre todos os problemas e calamidades. Estamos ansiosos para o dia em que nossa fé e esperança se concretizem.

****************

O Rev. Aaron Moldenhauer é pastor associado da Zion Lutheran Church, Beecher, Ill.


Referências

[1] Luke 24:50-53 and Acts 1:6-11.

[2] WA 37:395.

[3] Modern English translations (such as the NRSV, NIV, and ESV) translate this rather freely, saying that you led “a host of captives in your train.”

[4] WA 37:395-396.

[5] WA 37:397.

[6] WA 37:398.

[7] Johannes Brenz, In Acta Apostolica Homiliae Centum Viginti Duae (Frankfurt: Petrus Braubach, 1561), 14-15.

[8] Brenz, In Acta Apostolica Homiliae, 15-18.

[9] Brenz, In Acta Apostolica Homiliae, 19-21.

0 comentários:

Postar um comentário

Atenção: Os comentários devem ser respeitosos e relacionados estritamente ao assunto do post. Toda polêmica será prontamente banida. Todos os comentários são de inteira responsabilidade de seus autores e não representam, de maneira alguma, a posição do autor do blog. Reservo-me o direito de excluir qualquer comentário que julgar inoportuno.