janeiro 17, 2019

Trechos dos Escritos dos Pais da Pré-Reforma que foram Incorporados nas Confissões Luteranas do Século XVI

(As citações confessionais são do Livro de Concórdia, traduzido por Arnaldo Schüler e editado por Darci Drehmer.)

INTRODUÇÃO

Os reformadores luteranos do século XVI não eram inovadores sectários que se propuseram a criar uma nova igreja. Pelo contrário, eles reconheceram e se alegraram por estar em continuidade com a igreja dos apóstolos e dos antigos Padres cristãos. Os reformadores sabiam que Cristo havia prometido preservar sua igreja até o fim dos tempos, e na história da igreja eles observaram que, “a fim de manter o evangelho entre os homens, publicamente opõe ao reino do diabo a confissão dos santos e, em nossa fraqueza, declara seu poder. Os perigos, trabalhos, e sermões do apóstolo Paulo, de Atanásio, de Agostinho, e de outros, semelhantes a esses, os quais ensinaram as igrejas, são obras santas, sacrifícios verdadeiros, agradáveis a Deus, pelejas de Cristo, pelas quais reprimiu o diabo, arredando-o dos que creram”. (Apologia da Confissão de Augsburgo IV: 189-90, p. 138) Os reformadores formalmente e sem reservas endossaram os Credos Ecumênicos com a seguinte declaração: “E, visto que, imediatamente após os tempos dos apóstolos e ainda em vida deles, penetraram falsos mestres e hereges, contra os quais se compuseram, na igreja primitiva, Symbola, isto é, confissões breves e categóricas, que foram consideradas como a fé e a confissão unânimes, universais e cristãs, da igreja ortodoxa e verdadeira, a saber, o Símbolo Apostólico, o Símbolo Niceno e o Símbolo Atanasiano, nós os confessamos por nossos e rejeitamos, com isso, todas as heresias e doutrinas introduzidas na igreja de Deus contrariamente a eles” (Fórmula de Concórdia, Introdução: 3, p. 498).

Foi a convicção dos reformadores de que “os escritos proféticos e apostólicos do Antigo e do Novo Testamento são a única regra e norma, segundo a qual devem ser ajuizadas e julgadas, igualmente todas as doutrinas e todos os mestres”, e portanto concordaram com Santo Agostinho “que também aos bispos regularmente eleitos não se deve obedecer caso errem ou ensinem ou ordenem algo contra a santa e divina Escritura” (Fórmula de Concórdia, Introdução: 1, p. 498; Confissão de Augsburgo XXVIII: 28, p. 58) Os reformadores sabiam que os Padres da igreja, como eles mesmos, eram homens que “podiam errar e ser enganados”, e que “de quando em quando também eles edificaram palha sobre o fundamento, palha que, todavia, não lhes destruiu a fé" [cf. 1 Cor 3.11-13]. (Apologia XXIV: 95, p. 286; VII / VIII: 21, p. 180) Mas eles também acreditavam que “não se rejeitam outros livros bons, úteis e puros, tais como interpretações da Sagrada Escritura, refutação de erros e explicação dos artigos doutrinários" (Fórmula de Concórdia, Declaração de Sólida, Da Suma: 10, p. 543) Tais "escritos... dos antigos ou dos novos mestres, seja qual for o nome deles. não devem ser equiparados à Escritura Sagrada", mas podem e devem ser recebidos como “testemunhas da maneira como e quanto aos lugares onde essa doutrina dos apóstolos e profetas foi preservada nos tempos pós-apostólicos” (Epítome, Introdução: 2, p. 499) Em consonância com este princípio, os reformadores conseguiram afirmar: “no que tange ao pecado original, nada pensamos que seja estranho à Escritura ou à igreja católica, mas repurgamos e restituímos à luz gravíssimas sentenças da Escritura e dos Pais, soterradas por discussões sofísticas de teólogos recentes." (Apologia da Confissão de Augsburgo II: 32, p. 105) Em relação ao "artigo principal" da fé cristã, eles também foram capazes de dizer: "as coisas por nós ditas são consentâneas com as Escrituras proféticas e apostólicas, aos santos Pais, Ambrósio, Agostinho e a muitos outros e com toda a igreja de Cristo, a qual, certamente, confessa que Cristo é o propiciador e justificador.”(Apologia da Confissão de Augsburgo IV: 389, p.175) E estava claro para os reformadores que o Senhor preservou seus meios de graça dentro da igreja também nos séculos mais recentes, pois “Deus confirma o batismo pela infusão de seu Espírito Santo, conforme bem se percebe em alguns Pais, como São Bernardo, Gérson, João Hus e outros.” (CatecismoMaior, IV: 50, p. 481) 


O que se segue é uma antologia de citações diretas dos escritos dos Padres, organizados topicamente, que aparecem nas Confissões Luteranas oficiais do século XVI. Esses Padres - latinos e gregos, antigos e medievais - são, em um sentido muito real, contribuintes pré-reformadores da teologia da Reforma do Livro de Concórdia. A presença destes trechos patrísticos no Livro de Concórdia valida a afirmação confessional de que tudo no ensino ortodoxo luterano “se fundamenta claramente na Sagrada Escritura e, além disso, não é contrário nem se opõe à igreja cristã universal e, na verdade, tampouco à Igreja Romana, quando se pode coligir dos escritos dos Pais”, e que entre os luteranos nada“nada se ensina que seja contrário à Sagrada Escritura ou à igreja cristã universal, havendo-se apenas corrigido alguns abusos”. (Confissão de Augsburgo, epílogo de XXI, 1, p. 40; prólogo para XXII, 1, p. 40)

PESSOA DE CRISTO

No mesmo tempo em que vivia o herege Manes, um chamado Paulo - o qual, samosateno de nascimento, foi, porém, bispo de Antioquia, na Síria - impiamente ensinou que Cristo Senhor nada foi além de mero homem no qual Deus Verbo habitou como um em cada um dos profetas. Por isso, também julgou que a natureza divina e a humana estão separadas e destacadas uma da outra, e que em Cristo nenhuma comunhão têm entre si, exatamente como se um fosse Cristo e outro Deus Verbo, que nele habita. (Theodoro de Raithu [6° século], Preparação; citado em Solid Declaration VIII: 16, p. 594)

PECADO E GRAÇA

À pergunta sobre o que seja pecado original, responde-se corretamente, dizendo que é concupiscência imoderada. Também acerta quem responde que é carência da justiça devida. E uma dessas respostas inclui a outra. (São Boaventura [+1274], Comentário às Sentenças II, 30: 2c; citado em Apologia da Confissão de Augsburgo II: 28, p. 104-105) 

O pecado original abrange privação da justiça original e, com isso, desordenada disposição das partes da alma, não sendo, por consequência, pura privação, mas uma espécie de hábito corrupto. (São Tomás de Aquino [+1274], Summa Theologiae II: 1, q.82, a.1 ad 1; citado em Apologia da Confissão de Augsburgo II: 27, p. 104)

Se a capacidade natural, pelo livre arbítrio, é auto-suficiente, tanto para saber como se deve viver, quanto para bem viver, Cristo morreu em vão, o escândalo da cruz está esvaziando. Por que não exclamaria também eu aqui? Certo que exclamarei, increpando-os com aflição cristã: De Cristo vos desligastes vós que sois justificados na natureza da graça decaístes. Pois, ignorando a justiça de Deus e querendo instituir a vossa, não vos sujeitais à justiça de Deus. Pois, assim como Cristo é o fim da lei, assim também é o salvador da viciosa natureza humana, para a justiça de todo aquele que crê. (Santo Agostinho de Hipona [+430], De natura et gratia 40:47; citado em Apologia da Confissão de Augsburgo IV: 29-30, p. 113-114) 

Não está, portanto, conforme à imagem divina a alma em que Deus não é sempre. (Santo Ambrosio de Milão [+397], Hexaëmeron VI, 8:45; citado em Apologia da Confissão de Augsburgo II: 19, p. 103)

Errei nisso de haver sustentado que a graça de Deus consiste apenas em Deus, na pregação da verdade, revelar sua vontade, mas que nosso assentir ao evangelho pregado é nossa própria obra e está em nossos poderes... errei, quando disse que está em nosso poder crer no evangelho e querer, mas que é obra de Deus dar, aos que crêem e querem, o poder de operar algo. (Santo Agostinho de Hipona, De praedestinatione sanctorum III: 7; citado em Declaração Sólida II: 27, p. 565) 

Para que não aconteça desvanecer-se alguém como inocente e, exaltando-se a si mesmo, pareça mais ainda, é instruído e ensinado que peca diariamente, enquanto se lhe ordena orar todos os dias, à vista de seus pecados. (São Cipriano de Cartago [+258], De oratione dom, 22; citado em Apologia da Confissão de Augsburgo IV: 322, p. 164)

Antes de mais nada é preciso crer que não podes ter remissão de pecados a não ser por indulgência divina. Depois, que não podes ter nenhuma boa obra a menos que também isso ele o tenha dado. Por último, que não podes merecer a vida eterna por obra alguma, senão que também ela é dada gratuitamente... Ninguém se engane, por que se quiser pensar bem, descobrirá sem dúvida, que com dez mil não pode sair ao encontro daquele que lhe vem com vinte mil. (São Bernardo de Claraval [+1153], Sermo I. in annunciat. b. Mariae Virginis I: 1-2; citado em Apologia da Confissão de Augsburgo XXVII: 32, p. 294)

Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, não tenho prazer na morte do perverso, mas em que o perverso se converta do seu caminho e viva. Ele convida a salvação por meio de prêmio, jurando até. Ao dizer "Vivo eu", deseja ser crido. Ó bem-aventurados aqueles por causa dos quais Deus jura! Ó misérrimos, se não cremos nem ao Senhor que jura! (Tertuliano [+230], De Paenitentia, 4; citado em Apologia da Confissão de Augsburgo XII: 94, p. 207)

A lei que está nos membros fica remitida pela regeneração espiritual e remanescente na carne mortal. Fica perdoada porque a culpa fica remitida no sacramento, pelo qual os crentes renascem; permanece, contudo, porque gera desejos contra os quais batalham os crentes. (Santo Agostinho de Hipona, Contra Julianum II: 3; citado em Apologia da Confissão de Augsburgo II: 36, p. 107)

Ai da vida dos homens - por mais louvável que seja - caso julgada sem misericórdia. (Santo Agostinho de Hipona, Confissões IX: 13; citado em Apologia da Confissão de Augsburgo IV: 322, p. 164) 

Deus nos conduz à vida eterna não por nossos méritos, porém, segundo a sua misericórdia. (Santo Agostinho de Hipona, De gratia et libero arbitrio, IV, 9: 21; citado em Apologia da Confissão de Augsburgo IV: 322, p. 163)

Deus coroa em nós os seus dons. (Santo Agostinho de Hipona, De gratia et libero arbitrio, VI, 9, 15; citado em Apologia da Confissão de Augsburgo IV: 356, p. 169)

Não digo que te exponhas publicamente, nem que a ti mesmo denuncies ou declares culpado junto a outrem, mas obedece ao profeta, que diz: 'Revela ao Senhor os teus caminhos'. Por isso, além de tua oração, confessa-te ao Senhor Deus, o verdadeiro juiz; não diga aos teus pecados com a língua, mas em tua consciência. (São João Crisóstomo [+407], Homilia 31 [sobre a Epístola aos Hebreus], ​​citado em Gratian, Decretum II: 33, q.3, dist.I, c.87: 4; citado em Confissão de Augsburgo XXV: 11, 47) 

LEI E EVANGELHO

A justiça da lei - que viverá nela quem a cumprir - , sem dúvida, é proposta com o intento de que, cada um, quando tiver reconhecido sua infirmidade, conciliando o justificador, não por sua própria força nem pela letra da lei - coisa impossível -, mas pela fé, a alcance, realize e nela viva. Boa obra tal, que, quem a faz, nela tenha vida, não há senão no justificado. Mas justificação só se obtém pela fé... Pela lei tememos a Deus; pela fé esperamos em Deus. Mas a graça é oculta aos que temem a pena. Se a alma sofre debaixo desse temor, etc., refugie-se, pela fé, na misericórdia de Deus, para que dê aquilo que ordena. (Santo Agostinho de Hipona, De spiritu et litera 29: 51; citado em Apologia da Confissão de Augsburgo IV: 106, p. 126-127)

O mundo porém lhe foi sujeito pela lei, porque, segundo a norma da lei, todos estão denunciados, e, pelas obras da lei, ninguém é justificado, isto é, porque, pela lei, conhece-se o pecado, mas não se desfaz a culpa. A lei, que a todos faz pecadores, parecia ter prejudicado, mas o Senhor Jesus, ao vir, perdoou a todos o pecado que ninguém pudera evitar e destruiu, pela efusão de seu sangue, nosso escrito de dívida. É o que se lê: "Avultou o pecado pela lei; superabundou, porém, a graça por Jesus. Porque, depois de sujeitado o mundo universo, tirou o pecado de todo o mundo, conforme testifica João, dizendo: "Eis o cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". E, por isso, ninguém se glorie de obras, já que ninguém é justificado pelo que faz. Porém, aquele que é justo, o é por dádiva, visto haver sido justificado desde o lavacro. É, pois, a fé que liberta pelo sangue de Cristo, porque "bem-aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada, cujo pecado é coberto. (Santo Ambrosio de Milão, Epístola a Ireneu; citado em Apologia IV: 103, p. 126)

Nos convém crer que devemos arrepender-nos, como que devemos ser perdoados; contudo, de modo que esperemos o perdão como proveniente da fé, a qual o obtém como que de nota promissória. (Santo Ambrósio de Milão, De poenitentia adv. Novatianos II: 9; citado em Apologia da Confissão de Augsburgo XII: 96, p. 207) 

JUSTIFICAÇÃO

Considerada, pois, e tratada a questão na medida das forças que o Senhor se digna dar, coligimos que o homem não é justificado pelos preceitos de uma vida reta, senão pela fé em Cristo Jesus. (Santo Agostinho de Hipona, De spiritu et litera 13:22; citado em Apologia da Confissão de Augsburgo IV: 87, p. 124) 

Pois, antes de tudo, é necessário creres que não podes ter remissão dos pecados senão por indulgência de Deus, mas acrescenta ainda que crês também isto: que por ele os pecados te são perdoados. Este é o testemunho que o Espírito Santo dá em teu coração, dizendo: Perdoados te são os teus pecados. Assim, pois, julga o apóstolo que o homem é justificado gratuitamente, pela fé. (São Bernardo de Claraval, Sermo in festo b. Mariae Virg. I: 1; citado em Apologia da Confissão de Augsburgo XII: 73, p. 203)

Por conseguinte, somos justos quando nos confessamos pecadores, e nossa justiça consiste na misericórdia de Deus, não em mérito próprio. (São Jerônimo [+420], Dial. adv. Pelagianos I: 5; citado em Apologia da Confissão de Augsburgo IV: 173, p. 135)

Cumprem-se todos os mandamentos de Deus quando é perdoado tudo o que não se faz. (Santo Agostinho de Hipona, Retractationes I, 19: 3; citado em Apologia da Confissão de Augsburgo IV: 172, p. 135)

E como as néscias não podem sair ao encontro em razão de estarem as lâmpadas extintas, pedem lhes emprestem azeite as prudentes, ao que estas responderam que não podiam dar, visto não haver, talvez, o suficiente para todas; isto é, ninguém deve ser ajudado com obras e méritos alheios, porque é necessário a cada qual que compre azeite para sua própria lâmpada. (Santo Hilário Poitiers, Comentário sobre o Evangelho segundo Mateus, 27: 5 (em Mateus 25: 8, 9); citado em Apologia da Confissão de Augsburgo XXI: 30, p. 247)

SANTIFICAÇÃO

Se Deus, por causa daquele pecado [de Davi], tivesse ameaçado que ele seria ameaçado assim pelo filho, por que, então, remitido o pecado , cumpriu o de que o havia ameaçado? A resposta é que aquela remissão de pecado se efetuou a fim de que o homem não fosse impedido de receber a vida eterna. Seguiu-se, porém, o exemplo da ameaça, para que a piedade do homem fosse exercitada e provada até naquela humildade. Assim, Deus também infligiu ao homem, por causa do pecado, a morte do corpo e, depois da remissão dos pecados, não a removeu, tendo em vista exercitar a justiça, isto é, para que se exercesse e provasse a justiça daqueles que são santificados . (Santo Agostinho de Hipona, De peccatorum meritis et remissione, II, 34: 56; citado em Apologia da Confissão de Augsburgo XII: 160, p. 219) 

Despojai-vos do velho homem... para não acontecer que alguém julgue que se deve depor a substância ou a essência do homem, ele mesmo explicou o que vem a ser despojar-se do velho homem e revestir-se do novo, ao dizer nas palavras subsequentes: Por isso, deixai a mentira e falai a verdade. Eis que isso é despojar-se do velho homem e revestir-se do novo. (Santo Agostinho de Hipona, Enarratio in Psal. XXV, II: 1; citado em Declaração Sólida II: 81, p. 576)

SANTO BATISMO

Quando a palavra se junta ao elemento ou substancia natural, faz-se o sacramento. (Santo Agostinho de Hipona, Tratado 80 [em João 3]; citado em Catecismo Maior V: 10, p. 487, em Catecismo Maior IV: 18, p. 477, e em Artigos de Esmalcalde III, V: 1, p. 333)  

O pecado é remitido no batismo não assim que já não exista, mas de maneira que não é imputado. (Santo Agostinho de Hipona, De nupt. et cconcup. I: 25; citado em Apologia da Confissão de Augsburgo II: 36, p. 107)

A SAGRADA EUCARISTIA

O próprio Cristo prepara e abençoa esta mesa. Pois homem nenhum faz do pão e do vinho postos diante de nós corpo e sangue de Cristo, se não o mesmo Cristo que foi crucificado para nós. As palavras são proferidas pela boca do sacerdote, mas os elementos postos diante de nós na ceia são consagrados pelo poder e pela graça de Deus, pela palavra que ele diz: Isto é o meu corpo. E, assim como a palavra: Crescei, multiplicai-vos e enchei a terra foi dita uma só vez, sendo, porém, sempre eficaz na natureza, de sorte que ela cresce e se multiplica, assim também esta palavra foi dita uma só vez, mas até o dia de hoje e até a sua vinda, ela é eficaz, fazendo com que na ceia da igreja seu verdadeiro corpo e sangue estejam presentes. (São João Crisóstomo, De proditione Iudae 1: 6; citado em Declaração Sólida VII: 76, p. 624)

Não recebemos isso como pão ordinário ou bebida ordinária, mas, assim como Jesus Cristo, nosso Salvador, se fez carne pela Palavra de Deus e também teve carne e sangue por causa de nossa salvação, assim cremos que o alimento por ele abençoado com a palavra e a prece é o corpo e o sangue do Senhor Jesus Cristo. (Justino Mártir [+165], Primeira Apologia, 66; citado na Declaração Sólida VII: 39, p. 617)

[Na Ceia do Senhor] o pão não é só figura, porém que é verdadeiramente mudado em carne. (Teofilato de Acrida  [+1108], Comentário sobre o Evangelho de Marcos, 14: 22; citado em Apologia da Confissão de Augsburgo X: 2, p. 179)

Não negamos, contudo, que somos unidos espiritualmente a Cristo por fé verdadeira e amor puro. Mas, deveras, negamos, e resolutamente, que com ele não tenhamos nenhuma espécie de conjunção segundo a carne. E dizemos que isso é de todo em todo estranho às divinas Escrituras. Pois quem duvidou que também desse modo Cristo é videira e nós ramos que dele obtemos vida para nós? Ouvi o que diz Paulo: Porque "todos somos um só corpo em Cristo", porque, "embora muitos, somos, contudo, um nele, pois todos participamos de um mesmo pão". Julga ele, porventura, que ignoramos a virtude da bênção mística? Esta, quando está em nós, acaso não fará, também corporalmente, que Cristo, pela comunicação da carne de Cristo, habite em nós?... Deve considerar-se, por conseguinte, que Cristo não está em nós apenas segundo um hábito que é entendido pelo amor, mas, ainda, por participação natural, etc. (Cirilo de Alexandria [+444], In John. Lib X: 2; citado em Apologia da Confissão de Augsburgo X: 3, p. 189) 

Se um pecado não é de natureza tal que se possa com razão excluir a pessoa da congregação e considerá-la como não-cristã, não deve a gente abster-se do sacramento. (Santo Hilário, Decretum Gratiani, P. III D. 2 c. 15; citado em Catecismo Maior: 59, p. 492)

Ide a ele e sede absolvidos, porque ele é a remissão dos pecados. Perguntais quem é ele? Ouvi a ele mesmo dizer: Eu sou o pão da vida, o que vem a mim não terá fome, e o que crê em mim, jamais terá sede. (Santo Ambrósio de Milão, Expositio in Psalmum, 18: 28; citado em Apologia da Confissão de Augsburgo XXIV: 75, p. 281)

Foram ordenadas pelos apóstolos as comunhões celebradas às quartas-feiras, às sextas-feiras e aos domingos. (Santo Epifânio de Salamina [+403], Heresias III; citado em Apologia da Confissão de Augsburgo XXIV: 8, p. 267)

IGREJA E MINISTÉRIO

A Pedro revelou o Pai que dissesse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. A edificação da igreja é, portanto, sobre a pedra dessa confissão. Essa fé é o fundamento da igreja. (Santo Hilário de Poitiers [+368], A Trindade VI: 36-37; citado em Tratado sobre o Poder e o Primado do Papa, 29, p. 350)

A questão é a seguinte: onde está a igreja? Portanto, que é que haveremos de fazer? Procurá-la-emos em nossas palavras ou nas de seu cabeça, nosso Senhor Jesus Cristo? Penso que devemos procurá-la nas palavras daquele que é a Verdade, q que muito bem conhece o seu corpo. (Santo Agostinho de Hipona, Epístola Contra os Donatistas [De Unitate Ecclesiae] IV, 15: 2; citado em Apologia da Confissão de Augsburgo IV: 400, p. 176)

Não consiste a Igreja em homens por virtude de poder ou dignidade eclesiástica ou secular, pois que se descobriu que muitos príncipes e arcebispos e outros, de categoria inferior, apostataram da fé. A igreja, por isso, consiste naquelas pessoas em que há conhecimento e confissão verdadeiros da fé e da verdade. (Nicolau de Lira [+1349], Postilla super Matth, 16:10; citado em Apologia da Confissão de Augsburgo VII/VIII: 22, p. 181)

Os sacerdotes administram o sacramento e distribuem ao povo o sangue de Cristo. (São Jerônimo, comentário sobre Sofonias, 3; citado em Confissão de Augsburgo XXII: 6, p. 41 e em Apologia da Confissão de Augsburgo XXII: 4, p. 251).

Os diáconos, segundo a ordem, recebem do bispo ou do presbítero, a sagrada comunhão, depois dos presbíteros. (Cânon 18 do Concílio de Nicéia [325], citado em Confissão de Augsburgo XXIV: 38, p. 80)

Por outro lado, contudo, em Alexandria é às quartas e sextas-feiras que as Escrituras são lidas e os doutores as interpretam, e faz-se tudo sem o solene costume do sacrifício. (Sócrates [5º século], História Eclesiástica V: 22; citado em Cassiadorus, História Eclesiástica Tripartida IX; citado em Confissão de Augsburgo XXIV: 41, p. 80)

Por isso, segundo a tradição divina e a observância apostólica, deve ser diligentemente guardado e praticado o que também se observa entre nós e em quase todas as províncias: que, para celebrar as ordenações apropriadamente, todos os bispos vizinhos da mesma província devem reunir-se com o povo para o qual o preposto deve ser ordenado e o bispo deve ser eleito na presença do povo que conhece integralmente a vida de cada um, o que, segundo vimos, também foi feito entre vós na ordenação do nosso colega Sabino, que, pelo sufrágio de toda a fraternidade e pelo juízo dos bispos que se haviam reunido na presença deles, o episcopado lhe foi conferido e lhe foram impostas as mãos. (São Cipriano de Cartago, Epístola 67; citado em Tratado sobre o Poder e o Primado do Papa, 14, p. 348)

Mas que depois foi escolhido um para ser posto sobre os demais, isto foi feito como remédio contra o cisma, a fim de não acontecer que, com cada qual atraindo para si, a igreja de Cristo se despedaçasse. Pois também em Alexandria, desde Marcos evangelista até o tempo dos bispos Esdras e Dionísio, os presbíteros sempre elegiam um entre eles e o colocavam em lugar mais elevado, chamando-o bispo. Assim como um exército estabelece um comandante para si, os diáconos, por sua vez, elejam entre eles um do qual saibam que é ativo e o nomeiem arcediácono. Pois, executada a ordenação, que faz o bispo que o presbítero não faça? (São Jerônimo, Epistola a Evágrio; citado em Tratado sobre o Poder e o Primado do Papa, 62, p. 356)

Se à questão é concernente à autoridade, o orbe é maior que o urbe. Onde quer que tenha havido um bispo, seja em Roma, seja em Eugúbio, seja em Constantinopla, seja em Régio, seja em Alexandria, é ele da mesma dignidade e do mesmo sacerdócio. É o poder da riqueza e a humildade da pobreza o que torna superior ou inferior. (São Jerônimo, Epist. 146 ad Euangelum; citado em Tratado sobre o Poder e o Primado do Papa, 18, p. 348)

LIBERDADE CRISTÃ

Não foi a intenção dos apóstolos instituir dias santos, mas ensinar fé e amor. (Sócrates, História Eclesiástica V: 22; citado em Cassiodoro, História Eclesiástica Tripartida IX: 38; citado em Confissão de Augsburgo XXVI: 45, p. 51)

Não fiqueis a calcular [a data da páscoa], as celebrai-a quando celebram vossos irmãos da circuncisão; fazei-o no mesmo tempo em que eles o fazem e, ainda, que se hajam enganado eles, não seja isso motivo de preocupação para vós. (Epifânio de Salamina, Panarion haer 70:10 [um "decreto apostólico"]; citado em Apologia da Confissão de Augsburgo VII/VIII: 42, p. 185)

Desacordo em jejum não dissolve acordo na fé. (Santo Irineu de Lião [+202], Epístola a Victor; citado em Confissão de Augsburgo XXVI: 44, p. 51, em Epitome X: 7, p. 531, e em Declaração Sólida X: 31, p. 660)

Apenas a virgindade é coisa que se pode aconselhar, não ordenar; é mais coisa de voto do que de preceito. (Santo Ambrósio de Milão, Exortação à Virgindade 3: 17; citado em Apologia da Confissão de Augsburgo XXIII: 20, p. 257)

Se, porém, não querem ou não podem guardar a castidade, é melhor que casem do que caírem no fogo por sua própria volúpia. E devem acautelar-se bem para não causarem nenhum escândalo aos irmãos e irmãs. (Cipriano de Cartago, Epístola 62: 2; citado em Confissão de Augsburgo XXIII: 25, p. 44)

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Compilado por David Jay Webber, traduzido e adaptado ao Livro de Concórdia em Português por Denício Godoy.

Publicado Originalmente em www.angelfire.com

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