O velho Adão é uma pessoa muito "espiritual". E o maior de seus "dons espirituais" é auto-justificação. No entanto, esforçar-se para se justificar através de obras de genuína moralidade é bastante desgastante. É muito mais fácil, e muito mais auto-satisfatório, justificar e defender nossos vícios favoritos, racionalizando-os como virtudes. Gregório, o Grande, aponta isso em sua Regra Pastoral : “Frequentemente, os vícios assumem a aparência das virtudes. Por exemplo, a avareza se apresenta, com frequência, com o nome de parcimônia, enquanto a prodigalidade se esconde sob o falso nome de generosidade. A indulgência excessiva é considerada bondade e a ira desenfreada, vigor de zelo espiritual. Com frequência, considera-se a precipitação como prontidão a executar, e a lentidão no agir como prudência da sabedoria.” (p.59,60).
Esse perigo é real para todo cristão, em todas as etapas da vida. Mas Gregório está escrevendo para pastores, e ele faz um destaque especial para a ira se apresentando como zelo espiritual. Sua preocupação é que os pastores são tentados à ira excessiva e pessoal quando repreendem o pecado na vida de seu povo. Eis Gregório:
Vamos nos empenhar pela verdadeira virtude e buscar o perdão no estrito Juiz que se uniu à nossa natureza.
Esse perigo é real para todo cristão, em todas as etapas da vida. Mas Gregório está escrevendo para pastores, e ele faz um destaque especial para a ira se apresentando como zelo espiritual. Sua preocupação é que os pastores são tentados à ira excessiva e pessoal quando repreendem o pecado na vida de seu povo. Eis Gregório:
Em tudo isso é preciso saber que, se a alma do doutor se torna áspera ao corrigir, é muito difícil que não lhe escape alguma palavra que não deveria dizer. Acontece com frequência que, quando a culpa dos fiéis é corrigida com ímpeto exagerado, o mestre deslize em palavras desenfreadas. Quando o fogo da correção ultrapassa a medida, o coração dos pecadores se deprime no desespero. É, portanto, necessário que o pastor que tenha sido rude demais, tomando consciência de haver ferido o coração dos seus fiéis mais do que o devido, recorra sempre, dentro de si, ao arrependimento, a fim de que, por seus gemidos, obtenha o perdão na presença da Verdade, mesmo que a sua culpa provenha precisamente do seu excessivo zelo por ela. O Senhor o expressou com imagens, por meio de Moisés: Se um homem vai ao bosque com seu amigo para cortar lenha e, impelindo com força o machado para cortar a árvore, o ferro escapa do cabo, atinge o companheiro e o mata, tal pessoa poderá, então, refugiar-se numa das cidades acima mencionadas, ficando com a vida a salvo. Isso para que o vingador do sangue, enfurecido, não persiga o homicida, o alcance e o mate. Nós vamos ao bosque com um amigo cada vez que nos dispomos a examinar as faltas dos fiéis. Cortamos lenha simplesmente quando, com intenção de caridade, cortamos os vícios de quem faz o mal. Mas o machado escapa da nossa mão quando a correção se torna excessivamente rude. E o ferro salta do cabo quando, na correção, se deixam escapar palavras muito duras. E ele golpeia e mata o amigo porque a palavra de desprezo faz morrer nele o espírito de caridade. Sim, a alma de quem sofre a correção acaba caindo no ódio se a excessiva correção o condena mais de quanto seria justo. Mas aquele que golpeia imprudentemente a árvore e mata o seu próximo deve fugir para uma das três cidades, para viver bem protegido numa delas; pois, arrependendo-se, chorando lágrimas de penitência e buscando salvação na unidade do sacramento, através da esperança, da fé e da caridade, não é considerado réu de homicídio perpetrado. O parente próximo da pessoa morta, encontrando-o, não o fere a morte e, assim, quando vier o severo Juiz que a nós se uniu, compartilhando a nossa natureza, não o julgará réu de culpa, porque fé, esperança e caridade o colocam sob o abrigo do seu perdão. (p. 63,64)
Vamos nos empenhar pela verdadeira virtude e buscar o perdão no estrito Juiz que se uniu à nossa natureza.
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Citações de Gregório Magno. Regra Pastoral, vol. 28. Paulus, SP.
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