Por Jordan Cooper
Recentemente surgiu uma discussão na blogosfera em torno de Karl Barth
e, em particular, sua estranha relação com Charlotte von Kirschbaum.
Embora por algum tempo a natureza exata da relação entre Barth e sua
secretária estivesse sujeita a especulação, publicações recentes confirmam o
que se supunha: era uma relação adúltera, certamente, quase de
natureza sexual. Bobby Grow do blog calvinista evangélico fez
várias publicações sobre o tema, discutindo sua frustração com a óbvia imoralidade
na vida de Barth [1]. William Evans acrescentou alguns de seus próprios
pensamentos sobre Barth no calvinista eclesialblog [2]. A questão
que surge neste momento é se a imoralidade de um mestre tem algum impacto sobre
o benefício de seus ensinamentos. Embora alguns argumentem que é irrelevante
como a verdade ou a falsidade do ensinamento de um não depende de nada dentro
do caráter desta pessoa, Grow notou que a natureza de tal imoralidade é uma
desqualificação bíblica para ter uma posição de ensino na igreja. Certamente,
nenhum mestre está imune a crítica. Lutero, muitas vezes, zomba de sua atitude
em relação ao judaísmo, e Calvino pela maneira em que Genebra castiga aos
hereges sob o direito civil. Porém, os defeitos de Barth parecem diferentes, já
que era muito consciente da natureza pecaminosa de sua situação, e também foi
advertido por Bonhoeffer e outros. No entanto, permaneceu impenitente em tal
estilo de vida até sua morte. Qualquer que seja a conclusão que se chegue sobre
este ponto, estou convencido de que não é tão grande perda se alguém rejeitar
os ensinamentos de Barth. Na minha opinião (seja o que for vale a pena), Barth
é um pensador muito superestimado.
Eu leio muito Barth. Estudei seis volumes da Church
Dogmatics e li muitas interpretações de seu pensamento por Hunsinger,
McCormack e outros. Minha opinião não é, então, por ignorância, mas pela
quantidade significativa de tempo com fontes, tanto primárias como secundárias.
Barth, sem dúvida, é um pensador brilhante, versado tanto em teologia como em
filosofia. Neste sentido, realmente entendo seu impacto. Porém, há alguns
problemas significativos com seu pensamento.
Meu primeiro problema com Barth é simplesmente seu
obscurantismo. Lendo a Church Dogmatics, descobri
que, muitas vezes, há contradições aparentes, mesmo dentro de algumas
páginas. Muitas passagens parecem deliberadamente obscuras, o que causa tantas
interpretações de Barth. Depois de ler estas diversas interpretações, está claro
que quase todas elas podem utilizar genuinamente passagens de Barth. Estou
convencido de que o problema não é tanto os intérpretes, mas a própria escrita
de Barth. Uma das razões que eu recomendo ler os teólogos escolásticos é
que, sem dúvida, eles falam claramente sobre seus posicionamentos em
várias questões. O fato de que ninguém pode concordar se Barth acreditou
mesmo na ressurreição histórica literal é bastante revelador. Por alguma estranha
razão, tal confusão parece ser uma marca distintiva de influentes escritores do
século XX. Uma leitura de Heidegger levará a mesma conclusão frustrante de que
seus escritos são simplesmente impenetráveis.
Em segundo lugar, apesar de todos seus avanços do liberalismo do século
XIX, Barth não superou os problemas fundamentais com o impacto de Kant sobre a
teologia liberal. Quer intencional ou não, a negação da teologia natural
parece implicar a adoção da divisão fenomenal/noumenal de Kant. Deus não pode
revelar-se nas coisas ordinárias da natureza para o sujeito humano, e assim deve
fazê-lo sobrenaturalmente através do acontecimento da revelação, que ocorre
diretamente entre Deus e a pessoa humana. Ao proclamar "nein" para a
teologia natural e divorciar as verdades cristãs de qualquer história
comprovável, verificável no reino da supra história, Barth nunca respondeu
realmente os problemas com o liberalismo contra o qual lutou. Simplesmente se
esquivou.
Em terceiro lugar, há teólogos simplesmente melhores dentro da tradição
neo-ortodoxa. Brunner, por exemplo, é capaz de dar muitas ideias de Barth e as
críticas da teologia liberal sem a necessidade de uma fraseologia tão obscura.
Uma leitura de seu tratamento em três volumes da teologia cristã não deixa
absolutamente nenhuma dúvida sobre onde se posicionava em várias questões,
que é talvez por que não há muita erudição em seu pensamento. A confusão das
palavras de Barth, creio, é parte do apelo para muitos. Brunner tampouco está
disposto a tirar simplesmente a categoria da teologia natural por completo.
Reconhecemos, simultaneamente, suas limitações. Torrance é, na minha opinião, a
melhor voz dentro da tradição Barthiana. Ele toma as melhores ideias de
Barth, esclarece-as e infunde um extenso conhecimento da teologia
patrística neles. Se algum dos pensadores neo-ortodoxos pode falar claramente
com a igreja hoje, eu diria que é Torrance, e não Barth.
Eu não sou proponente do pensamento neo-ortodoxo sozinho. Vejo problemas
significativos com sua visão limitada de revelação e estou convencido de que o
divórcio entre o Espírito Santo e os meios de graça levou a uma teologia
sacramental extremamente baixa em nome desta tradição. No entanto, reconheço
que há benefícios nestes escritores, particularmente em suas críticas a
Schleiemacher, Ritschl e outras vozes proeminentes do liberalismo protestante. Fiquei
particularmente encorajado pela ênfase de Torrance na centralidade da
encarnação e no uso de ideias orientais em sua soteriologia. Eu simplesmente
penso que o próprio Barth, enquanto o escritor mais importante do movimento,
historicamente, é superestimado.
Claro, sou um luterano que não está convencido de que Martinho Lutero
seja o melhor teólogo da minha própria tradição, então talvez a raridade
não seja tanto Barth como eu.
Notas:
[1] https://growrag.wordpress.com/2017/10/01/my-final-post-ever-on-karl-barth-and-charlotte-von-kirschbaum/
[2]
https://theecclesialcalvinist.wordpress.com/2017/10/02/why-i-still-dont-much-care-for-karl-barth/
Read more at
http://www.patheos.com/blogs/justandsinner/karl-barth-overrated/#PPYJyJAGo8azdeZm.99
Publicado originalmente em Just
and Sinner, traduzido por Denício Godoy.
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