Dando sequência a nossa série sobre as controvérsias que deram origem à Fórmula de Concórdia, hoje o texto é sobre a Controvérsia Majorística. O assunto desta discussão girou em torno da seguinte pergunta: As boas obras são necessárias para a salvação?
Embora a controvérsia carregue com razão o nome de Jorge Major, cabe-nos esclarecer que ele apenas seguiu o exemplo de Melanchthon, a quem Major muito respeitava. Na edição de 1535 de sua grande obra <Loci>, Melanchthon utilizou uma frase, repetida depois por outros: "As boas obras são necessárias para a salvação".
Lutero conseguiu persuadir os colegas de não mais fazerem uso de tais palavras. Por ocasião do Ínterim¹ o assunto veio novamente à tona com a formulação: "Ninguém pode ser salvo sem amor e boas obras".
Amsdorf, em 1551, acusou, numa publicação, abertamente, a Bugenhagen e Major de terem deturpado a doutrina do sola fide, somente pela fé, deixando fora no Ínterim a palavra somente. Nesta altura Major foi nomeado superintendente em Eisleben e de pronto s pastores de lá protestaram contra sua nomeação em virtude de sua posição no Ínterim.
Major respondeu às acusações, negando que tivesse posto em dúvida o sola fide, mas com respeito às boas obras declarou enfaticamente:
Isso digo e confesso, porém, que tenho ensinado, e ainda ensino, e todos os dias ensinarei que as boas obras são necessárias para a salvação. E eu declaro publicamente e com palavras claras e precisas que ninguém se salva por más obras, e também que ninguém se salva sem boas obras. E digo mais, quem ensinar outra coisa, mesmo que seja um anjo do céu, seja anátema.
E novamente:
Por isso é impossível que o homem seja salvo sem boas obras.
Mais tarde Major recuou um pouco, sustentando que as obras obras são necessárias não para obter a salvação, mas para reter, para conservar a salvação. Também esta tese foi rejeitada pela Fórmula de Concórdia.
Como acontece muitas vezes, um extremo conduz a outro extremo. Amsdorf, combatendo a Major com todo o ardor, chegou a fazer a incrível afirmação de que as boas obras são prejudiciais à salvação, erro que a Fórmula de Concórdia igualmente refuta e rejeita no artigo <<De Boas Obras>>.
Nota:
1 - http://justosepecadores.blogspot.com.br/2017/12/a-controversia-adiaforistica.html
Este texto foi adaptado da Obra "Cremos, por isso também falamos", de Otto A. Goerl, publicado pela Igreja Evangélica Luterana do Brasil em maio de 1977.
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