Por Nathan Buzzatto
Antes de começar meus estudos em Teologia, era assim que muitos me advertiam sobre o que eu deveria estudar. Uma matéria de nome feio, “Apologética”, que era feita só para testar a fé dos futuros pastores. Era ali que quem não estivesse firme iria cair. Enfim, comecei meus estudos e pouco vi sobre isto, mas o suficiente para ver que meus amigos tinham uma visão um pouco exagerada sobre o tema.
Vieram os mestrados, e isto implicava que quase metade da grade em um mestrado em Estudos Bíblicos seria em apologética. Eu finalmente teria que encarar esta matéria de frente. Será que era realmente tão ruim assim? Até lá eu ainda me perguntava.
Começaram os estudos, isto era por volta de 2012, e com a graça de Deus tive excelentes professores, que cuidaram justamente de tratar esta questão antes mesmo de entrar na matéria.
Voltando um pouco em Aristóteles, o homem tem algo que é ao mesmo tempo uma benção e um peso: Somos animais sociais! Diferente dos animais gregários, onde seres da mesma espécie convivem, somos sociais, pois além de manifestarmos o que nos é necessário para sobreviver, temos qualidades sociais: a ética, a estética, cultura, valores, preceitos sociais, etc... e nos tornamos dependentes desta interação também.
Nós tendemos a nos tornar semelhantes aos que nos rodeiam, tanto para o bem, quanto para o mal, e por isto, Deus nos diz, pelo dedo de Salomão: “Aquele que anda com homens sábios será sábio, mas um companheiro de tolos será destruído.” (Pv 13.20). De igual modo, nosso Senhor, inspirando a 2 carta de João assim nos deixa: “Se alguém chega a vocês e não trouxer esse ensino, não o recebam em casa nem o saúdem.” (2 João 1.10).
O motivo então se torna claro: Somos seres humanos imperfeitos, temos uma forte tendência em nós de nos tornarmos semelhantes aos que nos rodeiam. Desta forma, nos organizamos em grupos. Temos a família, o grupo dos amigos com a mesma opinião política, o grupo da academia, a panelinha na escola, o grupo da igreja. Nossas redes sociais são organizadas em grupos por interesses semelhantes, hoje, uma corrida pelos grupos de WhatsApp já revelam muito de nossos interesses.
Então a fórmula parece simples: quem quer aprender de Cristo, busque quem tem interesse semelhante, e todos caminham juntos na mesma direção. Quer se aprofundar, junte-se a um grupo de estudantes de teologia ou de pastores que poderão ser boas referências. Quem não ajunta, espalha! Cristãos unidos, jamais serão vencidos!
Aí vem a tal matéria do diabo, aquela de nome feio: “apologética” e bagunça tudo. Se estamos bem entre nós, então, para que colocar algo para fazer o meio de campo entre o nosso time e os demais? Já não basta o número destes “apologistas” que deixaram a nossa fé por se envolverem demais com o outro time?
Os últimos séculos marcaram uma época onde filosofias anticristãs floresceram por toda a sociedade por onde o cristianismo se espalhou. Filosofias em que o homem é elevado à posição de Deus é a grande corrente de pensamento da atualidade. É o fundamento de praticamente todo o modo de pensar e educar. Quando um aluno deixa a escola, ele já tem em si uma carga de centenas de conceitos contrários à fé, que para os jovens, é em si um peso sufocante. Nenhum ser humano pode dar resposta a todo e qualquer questionamento, mas com a ajuda do método apologético, um cristão mais experiente pode ajudar a este outro, em crise. Conhecendo-se a base do humanismo, pode-se esclarecer grande parte dos questionamentos, por exemplo.
Não há pessoa que não enfrente problemas, questionamentos e medos de toda espécie. Tais realidades não se superam apenas por ignorá-las. Isto também se aplica à fé. Ignorar os questionamentos como se fossem irrelevantes não irá fazer com que desapareçam, principalmente quando os questionamentos surgem, como sempre foi no caso do cristianismo, de pessoas altamente estudadas.
A Apologética cristã é o ramo da Teologia do Cristianismo que lida com a defesa da fé. É uma atividade totalmente bíblica porque foi aconselhada e demonstrada em diversos contextos nas Escrituras. Por exemplo: “Antes, santificai ao SENHOR Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós," (1 Pedro 3.15).
Praticamente todo o livro de Jó é uma Apologética da justiça de Deus em relação aos homens. Em face da oposição dos aliados de Jó, este levanta as razões de sua lealdade e confiança em Deus. Ele esclarece que seu Deus não era como os deuses dos povos ao seu redor, estabelece sua fidelidade para aqueles que confiam no Deus único. Os Salmos 14 e 19 também são de caráter apologético. Romanos 1:20 confirma quando diz que as coisas visíveis o testemunho do Deus invisível. A mensagem do Espírito através de Paulo em Atos 17 é outro exemplo de discurso apologético, que foi usado para pregar aos Atenienses.
Uma leitura dos escritos de caráter apologético da Bíblia e dos pais da igreja mostra que a natureza dos ataques mudaram em cada geração, e que a resposta tinha que ser adaptada para atender as necessidades de cada geração. Apesar de esta abordagem mudar de ênfase, o propósito da apologética manteve-se inalterado durante todo o tempo.
Apologética Cristã é um tema em constante desenvolvimento, com argumentos a cada dia se tornando mais e mais sólidos. Em um assunto de rápida expansão como este, as pessoas muitas vezes podem negligenciar o papel desempenhado pela Apologética. Isto é especialmente evidente na Apologética cristã. A Apologética cristã é uma disciplina em rápido crescimento. Assim, muitos cristãos ainda não entendem ou confundem o papel, propósito e contribuições da apologética. Deve-se tomar muito cuidado em observar o que a apologética se destina a fazer, e também o que não se destina a fazer.
As Escrituras são perfeitamente capazes de autodefesa. Ela tem sobrevivido aos ataques com sucesso por quatro mil anos, enquanto os críticos e suas afirmações foram passando. Assim, o propósito da Apologética não é dar uma mãozinha às Escrituras, mas para ajudar o investigador sincero. Assim, a defesa da Bíblia é apresentada, não para a preservação das Escrituras, mas preservar a mente do pesquisador de suas dúvidas.
DEBATES PÚBLICOS COM PESSOAS HOSTIS: E isto se aplica muito aos que se dedicam às redes sociais onde os debates sejam públicos. O objetivo da apologética cristã não é ganhar debates, mas o apuramento da verdade. Nossa geração é conhecida pela falta de tempo para ouvir os debates prolongados. Cheios de pessoas superficiais, e de palavras carregadas, os debates acalorados em meios públicos tendem a não ser da mesma eficácia que um dia já foram. Em meio ao debate acalorado, não é uma boa estratégia para a discussão de verdade espiritual. Assim, convém ao apologista evitar debater em público, exceto em se puder debater com um grupo razoavelmente maduro composto por um pequeno número de debatedores dominado por um verdadeiro espírito de investigação. Além disso, o outro lado do debate deverá ser apresentado por uma ou mais pessoas que não são dadas as palavras carregadas ou ao ridículo. Pessoas que são dadas ao desprezo gostam de manipular a opinião, não como as Escrituras nos orientam, em mansidão, mas de tal modo que elas podem transformar a opinião pública contra o apologista pelo ridículo, embora eles não tenham nada de substancial a oferecer.
Então vale a pena expor questões de fé na internet? Minha avaliação é que a grande Graça das redes sociais, seja por blog ou páginas pessoais, é que podemos deixar tudo escrito, e isto serve, em primeiro lugar a nós mesmos, e, a exposição pública, pode atingir um número de pessoas que cada vez mais, tem usado as redes sociais para esclarecer dúvidas.
Então, Apologética é do diabo? Não! É uma matéria voltada para o homem, onde buscamos entender as dúvidas e os ataques ao cristianismo e oferecer uma resposta racional.
Mas, e aqueles famosos apologistas que se “desconverteram”, deixaram a igreja e tudo o mais? Infelizmente, muitos, na busca sincera de entender o outro lado dos argumentos, entraram de cabeça em posições que tentavam combater, beberam muito da água que tinham a oferecer, mas não alimentaram a sua própria fé em meio aos seus irmãos. Um abismo chama a outro abismo, até que alguns passaram a negar a fé que tanto buscavam defender. Isto não torna esta matéria “do diabo”, mas nos alerta sempre que todo aquele que quer se dedicar à apologética cristã não deve se deixar influenciar pela conduta dos pecadores, nem se deter na roda dos escarnecedores, seu prazer não está em vencer um debate, mas em meditar na lei do Senhor (Sl 1.1,2)
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