fevereiro 24, 2017

União entre Luteranos e Católicos?


Se você prestou atenção aos noticiários em torno do dia 31 de outubro do ano passado, você provavelmente viu o Papa Francisco comemorando o aniversário da Reforma com os líderes da Federação Luterana Mundial em Lund, Suécia. Lá o papa fez um grande esforço para estender uma mão de aproximação em direção à nossa tradição Cristã. De fato, até mesmo além dos desejáveis ​​diálogos ecumênicos, tem havido conversas entre alguns católicos romanos de buscar um "Ordinariato" luterano - uma abertura para um grupo de pastores luteranos ordenados que gostariam de celebrar a comunhão (ou como a chamamos na IELB, comunhão de altar e púlpito) com a Igreja Católica Romana. Como nós olhamos para tudo isso, o que devemos pensar? Isso significa que podemos finalmente dar as mãos e chegar a uma paz com Roma? Isso significa que as afirmações do Concílio de Trento - A resposta romana à Reforma - que dizem: "Se alguém disser que a fé que justifica não é outra coisa, senão uma confiança na divina misericórdia, que perdoa os pecados por causa de Cristo ou que é só por esta confiança que somos justificados — seja excomungado", [1] foram superados e agora estamos de acordo?

Nós certamente podemos orar por isso. Na verdade, nós devemos orar isso.

No entanto, devemos também ser realistas. Infelizmente, os luteranos e os católicos romanos ainda estão divididos sobre a doutrina da justificação, o "ensino sobre o qual a Igreja permanece de pé ou cai". Em outras palavras, ainda não concordamos sobre como uma pessoa é apresentada diante de Deus e lhe é concedida entrada em Seu Reino Eterno.

Isso não quer dizer que não houveram esforços para discutir isso. O mais notável foi provavelmente a série de diálogos ecumênicos que resultaram na controversa "Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação". Neste documento, notáveis ​​teólogos luteranos luteranos e católicos romanos se reuniram e determinaram exatamente o que poderia ser um acordo. No final, chegaram a conclusões em muitos pontos. De fato, os teólogos determinaram que existem tantos pontos em comum, que naquele momento eles poderiam retrair aquelas "condenações doutrinárias", aquelas "excomunhões", que citamos acima. No entanto, no final, muitos membros da Igreja Católica Romana não concordaram, como também muitos luteranos e faculdades teológicas, incluindo o Seminário Concórdia, a faculdade de teologia da Igreja Evangélica Luterana do Brasil. [2]

Neste ponto você pode estar perguntando apenas sobre que tais pessoas discordaram da declaração. Falando sucintamente, como luteranos, dizemos que somos salvos pela graça de Deus, somente pela fé. Cremos que Deus salva alguém em virtude do que Cristo fez sozinho, uma salvação que é recebida pela fé, não por qualquer tipo de obras. Em outras palavras, Deus toma o que Jesus fez por nós e nos cobre com a obra de Cristo, ou a imputa à nós pela fé. Os católicos romanos concordam com a afirmação: "Somos salvos pela graça, pela fé", no entanto, eles dirão que esta graça não acontece como uma imputação da obra de Cristo para nós, mas que Deus a derrama em nós e através dessa graça nos faz inerentemente dignos do que Jesus fez por nós. Qual é a diferença? A diferença é que o entendimento luterano diz que sua salvação é algo que Deus faz completamente fora de nós, mas que Ele nos dá como se fosse nossa, como as vestes de branco de Apocalipse 7, ou, usando o exemplo do Culto Divino, como seu pastor se veste na manhã de domingo para celebrar o Culto. O entendimento romano diz que você é feito um novo homem de tal maneira que agora você faz coisas que são realmente dignas de ganhar a vida eterna. Para ser justo, os católicos romanos confessam que isso ainda é pela graça de Deus: Ele derrama essa graça em nós, mas nós ainda precisamos cooperar (sinergismo) com Ele naquela graça e fazer obras dignas.

Para alguns, isso parece ser como fios de cabelo, que são ideias diversas e que no fim resultam na mesma coisa. Mas se você pensar em erro teológico como o curso de um avião, onde uma pequena variação no plano de voo pode ter resultados catastróficos você mudará de ideia. Quanto maior a diferença entre o que o comandante de uma aeronave lança nos computadores de bordo e aquilo que se encontra no plano de voo, maior será a tragédia que envolverá aquele voo. Em teologia, as variações no ensino de como somos salvos podem ter resultados realmente catastróficos para a Igreja e para as almas se nos afastarmos daquilo que foi revelado.

Da meu ponto de vista pessoal, aqui digo como um ex-católico romano, penso que o fruto do erro sinergista que assola o catolicismo, a variação no destino desta doutrina, pode ser visto claramente em alguns dos escritos que resultaram do Concílio Vaticano II. Quando você começa a adicionar boas obras à salvação, de qualquer forma, o resultado é que mesmo que você afirme a necessidade da fé, eventualmente o foco estará nas boas obras.

Isso é exatamente o legado do catolicismo pós-concílio Vaticano II. Isso pode ser visto no Catecismo da Igreja Católica. Se você abrir o Catecismo Católico e ler a definição do que é a Igreja e de quem faz parte dela, verá isto: «Todos os homens são chamados [...] à unidade católica do povo de Deus; de vários modos a ela pertencem, ou para ela estão ordenados, tanto os fiéis católicos como os outros que também acreditam em Cristo e, finalmente, todos os homens sem excepção, que a graça de Deus chama à salvação» [3] De acordo com este parágrafo, quem pertence ao povo de Deus? Os fiéis da Igreja Católica Romana, em seguida, outros que creem em Jesus, mas em menor medida, todos os que são chamados pela graça de Deus para a salvação. Para ser claro, o ponto aqui não é apontar níveis diferentes de membros da Igreja. Em vez disso, consiste em salientar que esta lista inclui alguns que não creem em Jesus como revelado nos evangelhos mas que são alvo da graça de Deus. Este ponto de vista fica explícito nos parágrafos seguintes quando o Catecismo Católico diz que os judeus têm um vínculo com a Igreja em virtude da sua "resposta à revelação de Deus na Antiga Aliança". [4] Da mesma forma, os muçulmanos são explicitamente nomeados, dizendo: «O desígnio de salvação envolve igualmente os que reconhecem o Criador, entre os quais, em primeiro lugar, os muçulmanos que declarando guardar a fé de Abraão, connosco adoram o Deus único e misericordioso que há-de julgar os homens no último dia». [5

Finalmente, na descrição mais explícita da salvação por obras, o Catecismo da Igreja Católica declara: «Com efeito, também podem conseguir a salvação eterna aqueles que, ignorando sem culpa o Evangelho de Cristo e a sua Igreja, no entanto procuram Deus com um coração sincero e se esforçam, sob o influxo da graça, por cumprir a sua vontade conhecida através do que a consciência lhes dita» . [6]

É notável o rumo que a soteriologia católica tomou após anatematizar e abandonar a doutrina da justificação somente pela fé. Mas aqui devemos deixar claro que, apesar dos erros gritantes que envolvem a soteriologia católica, as confissões luteranas não afirmam que os Católicos Romanos não serão salvos. O que nossas confissões afirmam é que, como luteranos, somos incrivelmente abençoados com o puro ensino de que somos salvos por causa do que Jesus fez e não por nossas próprias obras. Como Paulo diz no segundo capítulo de sua carta aos Gálatas: "Não anulo a graça de Deus, pois se a justiça fosse pela lei, então Cristo morreu em vão". Em outras palavras, se pudéssemos adquirir a nossa salvação, então Cristo não precisaria se encarnar e morrer por nós. Mas, felizmente, Ele nos amou tanto que morreu por nós, como afirma São João. Ele viu nosso miserável estado e nossa incapacidade de agradar a Deus com as nossas obras.

Então, o que isso implica para os luteranos e católicos romanos? Implica que infelizmente as diferenças entre nós e a Igreja Católica Romana ainda permanecem. Na verdade, não é novidade que elas possam ter aumentado. Diante de tal situação, como disse antes, oramos. Oramos para que a Igreja seja unida. Mas também damos graças. Damos graças por que a promessa da salvação de Deus em Cristo ainda está sendo pregada puramente: aquela salvação que não é pelas obras, mas pela fé. Agradeçamos a Deus por isso, porque sem essa promessa do sangue de Cristo derramado por nós, não teríamos esperança alguma.

Equipe SJEP, adpt.

Um comentário:

  1. A igreja católica não respeita os 5 solas da reforma, não tem um evangelho centrado em Cristo, não tem a bíblia como a sua única regra de prática e fé, não crê em Cristo como único Mediador entre Deus e o homem, a sua teologia é contaminada por uma visão humanista e cega. Em resumo, não acredito no dialogo ecumênico, pois vai diretamente contra a Gálatas 1, verso 9.

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