N.T Wright, bispo anglicano e expositor da NPP |
A Nova Perspectiva em Paulo (NPP) está crescendo entre os evangélicos, conduzidos por exegetas de alto perfil do Novo Testamento, como James Dunn e N.T Wright. A nova perspectiva não é exatamente "nova". Sua articulação remonta à década de 1960, nas obras de um exegeta luterano sueco, Krister Stendahl, e mais tarde na década de 1970 por E. P. Sanders.
Então, qual é essa nova perspectiva? - No seu núcleo é o reconhecimento de que o judaísmo não é uma religião de auto-justificação pela qual a humanidade busca merecer a salvação diante de Deus. O argumento de Paulo com os judaizantes não era sobre a graça cristã versus o legalismo judaico. Seu argumento era mais sobre o estado dos gentios na igreja. A doutrina da justificação de Paulo, portanto, tinha muito mais a ver com assuntos judeus-gentios do que com questões sobre o estado do indivíduo perante Deus, conforme definido por thepaulpage.com.
A definição anterior da NPP deve soar o alarme entre os luteranos do Brasil¹. As principais deficiências da NPP , partindo de uma perspectiva luterana, são a compreensão errônea de Lutero e sua incapacidade de apreciar a complexidade, profundidade e trajetória das visões exegética, hermenêutica e teológica de justificação em Lutero. A NPP julgou erroneamente a culpa introspectiva de Lutero diante de Deus, o que o teria feito errar em sua compreensão de justificação como soteriológica e focada na posição do indivíduo diante de Deus, em vez da igreja e do povo judeu. A NPP procura redefinir a justificação.
Alarmar-se é uma coisa, mas oferecer respostas teológicas adequadas é bastante diferente. Erick M. Heen, Professor de Novo Testamento e Grego no Lutheran Theological Seminary, na Filadélfia, fez exatamente isso. Ele escreveu um artigo "Uma resposta luterana à nova perspectiva em Paulo", publicado no Lutheran Quarterly Journal, Fall 2010.
Neste artigo abundante e bem pesquisado, Heen tentou corrigir e descartar as noções errôneas do entendimento de Lutero e os conhecimentos teológicos fornecidos pelos proponentes da NPP. Exemplo: Heen observou que um dos termos mais incompreendidos na teologia luterana dentro da NPP é "Lei". N. T Wright caracterizou o esquema luterano como tendo a Lei como algo mal que foi abolido em Cristo. Isto é, por suposto, um erro. Os luteranos tem discutido vários usos da Lei por Deus. Os luteranos falam sobre o uso civil da Lei e sobre o terceiro uso da Lei. Mesmo para uso espiritual, a Lei não é uma coisa má, mas a Palavra de Deus ativa que conduz a Cristo. Para os luteranos, o que é mal não é a Lei, mas a persistente concupiscência da humanidade sob a escravidão.
Heen também enfatizou a compreensão de Lutero de dois tipos de teólogos; teólogo da cruz e teólogo da glória. O primeiro crê no terno coração de Deus, apesar das adversidades, o último crê que o sofrimento deve ser evitado. O primeiro depende da misericórdia de Deus, o segundo é baseado em auto-justiça e méritos. No coração da suspeita de Lutero sobre justiça própria, está a experiência da Cruz de Cristo e não a obsessão medieval com a culpa ou a consciência introspectiva.
Para Lutero, a fé não é tanto outorgar um consentimento cognitivo às proposições soteriológicas, mas sim a confiança na promessa de Deus. Portanto, Lutero e Paulo compartilharam uma compreensão semelhante da relação entre a promessa de Deus e a resposta da fé. Heen também argumentou que Lutero pode estar mais perto do conhecimento tradicional judaico da Lei Sinaítica do que o encontrado na NPP. Lutero viu que Paulo, depois de Damasco, entendeu que, ainda que a Lei seja boa e santa, não pode justificar diante de Deus. Somente a fé nos méritos adquiridos na Cruz de Cristo pode fazê-lo.
Na NPP, a justificação luterana é caracterizada como forense e meramente a imputação da justiça. Heen observou que o Renascimento de Lutero trouxe uma nova apreciação da profundidade e complexidade das visões exegéticas e hermenêuticas de Lutero. Um sentido mais completo de justificação foi recuperado. Observou-se que Lutero também enfatizou o lado institucional do evento da justificação: a igreja que pertence aos reinos espiritual e secular. Alguns teólogos finlandeses também encontram na noção ortodoxa de theosis, uma analogia útil para entender a justificação em Lutero.
Este artigo de Erick Heen ofereceu excelentes respostas luteranas à Nova Perspectiva sobre Paulo. Ele também discutiu muitas outras coisas, não apenas as que mencionei anteriormente. Se as proposições da NPP o interessarem, será bom lê-lo.
Notas
[1] 1 - Original: Dos Estados Unidos
Publicado Originalmente em http://lutherantheologystudygroup.blogspot.com.br
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