junho 30, 2018


INTRODUÇÃO

O livro de Apocalipse é um livro profético. Ele visa consolar a Igreja Cristã nos tempos do fim. Este período teve seu início com o nascimento de Cristo pela virgem Maria, em Belém da Judéia e terminará com a vinda de Cristo em glória para julgar vivos e mortos.

O cumprimento da profecia de Jesus sobre a desolação e o terror dos últimos dias esta ai (Lucas 21.36). O mundo treme diante das coisas do porvir. Nós cristãos também. Satanás multiplica sua astúcia e procura desviar da fé, se possível, os próprios eleitos (Marcos 13.22).

Em vista disso, muitos fieis estão lendo e estudando o livro de Apocalipse em busca de consolo. O próprio livro afirma: Bem-aventurados aqueles que leem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nele escritas (Apocalipse 1.3).

O objetivo do livro

A palavra "apocalipse" significa "tirar o véu," revelar. Deus revelou aspectos do futuro para consolar seus fiéis, o povo de Deus no último período. O livro não visa fornecer um relato cronológico sobre os acontecimentos históricos da humanidade e da igreja, mas traz quadros numa linguagem simbólica, para mostrar a vitória de Cristo e de sua igreja sobre Satanás. No livro há repetições, parêntesis e páginas fechadas. Por exemplo, o livro que traz a história da igreja e do mundo nem sequer foi aberto (Apocalipse 5.1-4). Isto porque o objetivo do livro não é ensinar ou revelar a história futura, mas consolar os fiéis nas mais diferentes tribulações e angústias dessa vida (Apocalipse 14.22).

Nenhum livro da Bíblia descreve a glória de Cristo com tantas palavras como o livro de ­Apocalipse. Os evangelhos mostram a ação do Salvador em sua humilhação; Apocalipse, a ação do Salvador em sua glória, durante o tempo em que a igreja espera a volta de Cristo em glória. Cristo venceu o pecado, a morte e a Satanás. Agora, glorificado, Jesus governa sua igreja, que por sua vez ainda está sob a cruz. Seus inimigos, mesmo que vencidos, ainda não foram colocados “por estrado dos pés de Jesus” (Hebreus 10.13). Eles ainda gozam de certa liberdade de ação e usam esta liberdade para lutar contra a igreja. Jesus não sofre mais, mas sua igreja, aqui na terra, ainda está sob a cruz. A morte foi vencida. Satanás derrotado. Toda autoridade foi dada a Jesus. E ele ordenou a seus discípulos que preguem o evangelho a todas as criaturas (Mateus 28.19; Marcos 16.15; Atos 1.8). Satanás, porém, procura por todos os meios impedir que a igreja cumpra sua missão. A luta e árdua. Por vezes, o grupo de fieis parece pequeno. Deus Espírito Santo consola e fortalece sua igreja, certificando a da vitória. Não temais, ó pequenino pequeno (Lucas 12.32). Deus Espírito Santo a consola.

Com esta verdade em mente, qualquer pessoa, mesmo não compreendendo a simbologia do livro, captará de cada visão o consolo. A saber, que o Cristo glorificado guia sua igreja através de muitas lutas e tribulações à glória celestial (Atos 14.22).

Interpretação

O livro de Apocalipse, por ser um livro profético, oferece alguns problemas na interpretação. Cumpre lembrar aqui, as principais regras de interpretação da Bíblia. Deus deu sua Palavra em linguagem humana. Para interpretá-la, precisamos conhecer as leis gramaticais e o sentido lexicológico das palavras. Isto é, devemos tomar as palavras conforme o conteúdo que o dicionário lhes confere e interpretar as frases conforme as leis gramaticais, exceto, quando o contexto nos força a tomar uma palavra ou a história de forma figurativa. Por exemplo: Ide dizer a essa raposa (Lucas 13.33). A palavra "raposa" tem aqui um sentido figurativo. Pois, Jesus se refere ao rei Herodes. Por outro, devemos interpretar tudo conforme a “analogia da fé cristã”, isto é, conforme a doutrina central da Bíblia, que é Cristo. Ele é o centro de tudo, com a doutrina da justificação do pecador pela graça de Cristo. Em terceiro lugar, convém lembrar que todos os trechos difíceis, devem ser interpretados à luz de palavras claras da Bíblia.

Quando se trata de interpretar profecias, devemos ter cuidado especial, pois Deus nos revela coisas futuras em linguagem simbólica e em figuras. Nem poderia ser diferente. Se ele nos falasse em linguagem celestial, não compreenderíamos (João 3.12). Por isso, Deus usa a linguagem simbólica e figurativa, como o fez no Antigo Testamento. Mas, como interpretar essas figuras e símbolos? Na maioria dos casos, só conseguimos captar-lhes o consolo. A não ser, se o próprio Deus nos concede a interpretação por suas palavras no evangelho ou nas cartas dos apóstolos. Ou, então, quando a profecia se cumpriu e o momento histórico passou. Então vemos com clareza o cumprimento da profecia. Isto é como se na noite encontramos um carro com luz alta. Esta luz nos ofusca e não vemos nada. Quando o carro passou, e olhamos para traz, então vemos onde estamos. Vejamos alguns exemplos. 0 profeta Malaquias, falando da vinda do Salvador, disse: Eu lhes enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia (Malaquias 4.5). Os ouvintes do profeta Malaquias, provavelmente, sabiam tratar-se de profecia. Sabiam que, conforme a doutrina bíblica, nenhum profeta voltaria à terra para urna segunda missão. Logo, o significado dessa afirmação só poderia ser figurativa, isto é, Deus enviaria um profeta no espirito de Elias. Os fariseus, no entanto, interpretaram a profecia literalmente, julgando que Elias voltaria. Jesus lhes disse que esta profecia se cumpriu em João Batista (Mateus 11.14). Aliás, os fariseus fizeram esse erro muitas vezes. Por isso esperavam um Messias que lhes proporcionasse conforto material. É bom lembrar, quanta dificuldade os discípulos de Jesus tiveram para compreender as profecias sobre a paixão e morte de Jesus, e sobre o reino de Deus (Lucas 19.42), apesar de Jesus ter-lhes explicado isso muitas vezes. Mesmo assim sonhavam, ainda no dia da ascensão de Jesus, com um reino de glória aqui na terra. Só após o dia de Pentecostes, compreenderam as palavras de Jesus: O meu reino não é deste mundo (João 18.36). Ainda hoje muitos interpretam as profecias erradamente e sonham com uma igreja gloriosa aqui na terra, a saber, com o milénio. Isso discorda frontalmente da doutrina bíblica sobre o reino de Deus e do fim de todas as coisas. Também igrejas pentecostais afirmam: Deus não quer ver ninguém doente e pobre. Basta amar a Deus de coração e Deus concederá saúde e prosperidade. Que engano.

Diante disso perguntamos: Por que Deus envolveu conhecimento tão preciosos e consolador em figuras de tão difícil compreensão? Não sabemos. Deus julgou por bem fazê-lo assim. E quer que leiamos as profecias para nosso consolo e edificação. Muitas coisas nos são difíceis, porque conhecemos tão pouco a Escritura e devido a nossa cegueira em coisas espirituais. Pois o livro de Apocalipse não quer esconder coisas, mas revelar, mesmo mantendo para o nosso bem, muitos detalhes históricos velados. O fato de não compreendermos de todo as profecias, nos mantém humildes. Cabe a cada geração reler as profecias com oração, pedindo a assistência de Deus Espírito Santo para captar-lhes o consolo. Lembrando sempre que o objetivo do livro não é fornecer aos fiéis uma visão cronológica dos acontecimentos da história, mas consolar.

Por isso, antes de iniciarmos a leitura do livro de Apocalipse, vamos, de forma resumida, clarificar dois assuntos: Primeiro, o que é o reino de Deus, o novo Israel? Segundo, como será o fim do mundo. Compreendido isso, evitaremos erros na interpretação.


O REINO DE DEUS E A VINDA DE CRISTO EM GLÓRIA

a) O reino de Deus. – Deus criou o universo para sua glória e o ser humano para viver em bem-aventurada comunhão com Deus, como administrador da terra, que lhe foi confiada. Com a queda em pecado, o ser humano foi expulso do paraíso, da presença de Deus. O homem perdeu sua imagem divina[1]. Agora ele nasce com o pecado original[2]. Nascemos espiritualmente cego, morto e inimigo de Deus (1 Coríntios 2.14; Efésios 2.2; Romanos 8.7; 1 Co 12.3; Romanos 5.19; Salmos 51.5; Jo 3.6; Romanos 7.18; Gênesis 8.21; Efésios 2.5). Ao Deus expulsar os primeiros homens do paraíso, ele disse: Maldito é a terra por tua causa (Gênesis 3.17). E,toda a criatura a um só tempo geme e suporta angústias até agora. E não somente ela, mas também nós cristãos, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, esperando a adoção de filhos, a redenção de nosso corpo (Romanos 8.22,23).

Em grande amor, Deus prometeu salvar a humanidade pelo descendente da mulher que é seu filho Jesus Cristo (Gênesis 3.16; João 3.16). Adão e Eva se consolaram com esta promessa. Deus conservou esta promessa através da história. Escolheu o povo de Israel para conservar o seu nome na terra. O Salvador nasceu do povo de Israel. No tempo de terminado, Jesus nasceu da virgem Maria em Belém da Judeia (Gálatas 4.4). Como substituto de toda a humanidade, Jesus cumpriu a lei; por seu sacrifício na cruz, pagou pelos pecados de toda a humanidade. Por sua ressurreição mostrou sua vitória sobre pecado, morte e Satanás, e Deus Pai declarou que aceitou o sacrifício de seu Filho unigênito em favor de toda a humanidade, que agora está reconciliada com o Pai. Enfim, com seu sacrifício, reconciliou a humanidade com Deus (Hebreus 7.27), (justificação objetiva - Romanos 5.19; 2 Coríntios 5.19). Agora se proclama ao mundo, por ordem de Deus: Arrependei-vos e crede no evangelho (Marcos 16.15). Deixai-vos reconciliar com Deus (2 Coríntios 5.20). Todo o pecador que se arrepende e seus pecados e confia na graça de Cristo, recebe este perdão dos pecados, vida com Deus e a eterna salvação. Pois onde há perdão dos pecados, há também vida e eterna salvação (justificação subjetiva). Este receber o perdão, o renascer pela fé, o receber vida nova pela fé é chamada, na Bíblia de "a primeira ressurreição"(Apocalipse 20.5[3]). Pois pela fé voltamos à comunhão com Deus e nos tomamos membros da família de Deus, do reino de Deus e herdeiros da vida eterna.

Enquanto Deus nos deixa aqui na terra, procuramos crescer na fé pelo estudo da palavra de Deus e a participação da Santa Ceia, lutamos contra o pecado e procuramos cumprir a missão que Deus nos confiou, proclamando a salvação de Cristo ao mundo. Formamos assim a grande família de Deus. Esta filiação, por ser fé no coração, e invisível. Só o Senhor conhece os que lhe pertencem (2 Timóteo 2.9). Os fieis são todos membros do corpo de Cristo. A glória desse corpo será revelada no dia do juízo final. O apóstolo afirma: Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se revelou o que havemos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele (1 João 3.2). Ali também desaparecerão as diferenças. Não haverá mais nem romano nem judeu, nem homem nem mulher (1 Coríntios 12.13: GáIatas 3.28). Mas, enquanto aqui na terra, as diferenças permanecem e há ainda muitas fraquezas entre os fiéis, bem como hipócritas em seu meio.

b) A volta de Cristo em glória. - O que ensina a Escritura sobre a volta de Cristo em glória para julgar vivos e mortos? A Bíblia ensina:


1) O fato de sua vinda:

a)Este Jesus que dentre vos foi assunto ao céu, assim vira do modo como o vistes subir(Atos 1.11).

b) Objetivo de sua volta: julgar o mundo com justiça. Atos 17.31.

2) Como voltará?

Visível e glorioso. Mt 24.29,30; Lc 17.24; Lc 21.35; Mt 13.49; 25.32-33;13.42

3) Quando virá?

a) O dia não foi revelado. Poderá ser a qualquer momento: Mt 24; Lc 12;2 Ts 2

b) Este dia já está estabelecido pelo Pai: At 17.31; Mc 13.3.

4. SINAIS DE SUA VINDA

a) Sinais na natureza: terremotos, inundações, tempestades.

b) Sinais na terra: guerras, rumores de guerras, pestilências, fomes, injustiças, tempos perigosos: 2 Tm 3.1-4

c) Sinais na igreja visível: hipocrisia, falsos mestres, esfriamento do amor fraternal, apostasia da verdade e da fé, o aparecimento do anticristo: 2 Ts 2.3-4

5. Finalidade dos sinais.

Alertar a igreja da proximidade do fim: Mt 24.33; Lc 12.28; Lc 21.35; 2 Pe 3.10; 1 Pe 4.7; O fim de todas as coisas está próximo.

6. A ressurreição dos mortos.

a) A Bíblia ensina uma ressurreição geral de todos os mortos quando Jesus voltar para julgar vivos e mortos. Os vivos serão arrebatados e estarão com os ressuscitados diante do trono de Deus para julgamento: Jo 5.28-29; 1 Co 15.23,24; 1 Ts 4.16

b) E um ato da onipotência de Deus.

c) Haverá diferenças na ressurreição:

- Os fieis terão seus corpos transformados e glorificados, com novas qualidades para viverem no novo céu e na nova terra (Mt 13.43; 1 Co 15.43; Ap 21.4; Fp 3.21)..

- Os infiéis serão um horror para toda a came (Mt 10.28; Mc 9.43,44; Dn 12.2; Is 66.24; Fp 3.21).

d) Cremos firmemente na doutrina da ressurreição. Pois, se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens 1 Co 12.19,25-27; Jó 19.25-27.

CONCLUSÃO

Estão em erro aqueles que esperam a volta de Cristo para governar em paz por um espaço de mil anos aqui na terra. A Bíblia fala somente de uma volta de Cristo em glória e de um ressurreição da came. Não esperamos um reino de Cristo neste mundo, mas os novos céus e a nova terra. Jesus deixou isso bem claro ao afirmar: O meu reino não é desse mundo (João 18.36).

As seguintes passagens proféticas: Is 2.4; Mq 4.1-7; Dn 9; Ez 37-39; Zc 12-14, que parecem falar de um reino esplendido na terra, são passagens que falam em linguagem figurativa do reino celestial. O exame exegético do contexto mostra isso claramente.

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Autor: Rev. Horst Kuchenbecker
Fonte: http://horstkuchenbecker.blogspot.com

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