julho 09, 2018


Sobre a encarnação do Verbo, 8-9 (SC 190)

«Jesus entrou, tomou a menina pela mão e ela levantou-se».

O Verbo, a Palavra de Deus incorpórea, incorruptível e imaterial, veio habitar no meio de nós, ainda que antes não tivesse estado ausente. Com efeito, não deixara parte alguma da criação privada da sua presença, pois Ele estava em todas as coisas e em toda a parte, Ele que mora junto do Pai. Mas tornou-Se presente humilhando-Se por causa do seu amor por nós, e a nós Se manifestou [...]. Teve piedade da nossa espécie, teve compaixão da nossa fragilidade, condescendeu para com a nossa perecível condição. Não aceitou que a morte nos dominasse; não quis ver perecer o que tinha iniciado, nem que se malograsse a obra de seu Pai ao criar o homem. Tomou portanto um corpo, e um corpo que não era diferente do nosso. Porque Ele não queria somente habitar um corpo nem somente manifestar-Se. Se tivesse apenas querido manifestar-Se, poderia ter realizado essa teofania com outro e maior poder. Mas não: foi de facto um corpo igual ao nosso que Ele tomou [...].

O Verbo tomou um corpo capaz de morrer para que esse corpo, ao participar do Verbo que está acima de tudo [...], se tornasse imperecível pelo poder do Verbo que nele existe, e para libertar da degradação definitiva todos os homens, pela graça da ressurreição. O Verbo ofereceu pois à morte o corpo que tinha tomado, como sacrifício e vítima isenta de toda a mácula; e logo aniquilou a morte, dela libertando todos os homens seus semelhantes, pela oferenda desse corpo que se lhes assemelha.

O Verbo de Deus, a todos superior, que ofereceu o seu próprio templo, o seu corpo, em expiação de todos, pagou a nossa dívida com a sua morte, cumprindo a justiça de seu Pai. Unido a todos os homens por um corpo semelhante, o Filho incorruptível de Deus a todos reveste de incorruptibilidade, com a promessa da ressurreição. A própria corrupção, implicada na morte, já não tem poder algum sobre os homens, por causa do Verbo que entre eles habita num único e mesmo corpo.

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