Mostrando postagens com marcador Teologia Bíblica. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Teologia Bíblica. Mostrar todas as postagens

setembro 02, 2019

Sagrada Escritura: Divina e Humana


por Ulrik Vilhelm Koren (1826-1910)

Como as Escrituras Sagradas são inspiradas por Deus, mas também escrita por homens, a natureza do caso é que elas devem ter um elemento divino e humano. Sem o elemento divino não haveria revelação, e sem o elemento humano as revelações não chegariam mais ao indivíduo que as receberia.

Que Deus escolhe seus instrumentos de acordo com sua sabedoria é evidente. Mas também podemos sentir um pouco disso quando consideramos as diferentes características dos homens que ele usou. Elas aparecem mesmo quando escrevem sob a orientação do Espírito Santo. Assim, quando pensamos em Moisés, Isaías, Paulo, João, Pedro, Tiago, etc., vemos que Deus usou os dons que Ele próprio havia dado aos seus instrumentos. Essas testemunhas não eram robôs. São Paulo pode dizer: "Somos cooperadores de Deus" [1 Cor. 3: 9], mas quem o guia é o Espírito Santo.

Quanto à maneira pela qual o ato de inspiração ocorreu, nada nos é revelado. Os vários erros relacionados a esse assunto vêm do desejo que muitos mestres piedosos tiveram de tentar explicar por si próprios como a atividade do Espírito Santo se desenvolveu nesse assunto.

Mas podemos entender tão pouco quanto aconteceu, como podemos entender as duas naturezas na única pessoa do Salvador ou a união da alma e do corpo em nossa própria pessoa. O fato de não entendermos como Deus trabalhou na inspiração, no entanto, não deve nos surpreender. Também não sabemos como Deus trabalha na força da natureza, por exemplo, na eletricidade, raios-X e similares forças que os homens aprenderam recentemente e cuja natureza ninguém entende. Veja também como São Paulo fala da revelação superior em 2 Coríntios 12.

Querer explicar e entender a união do divino e do humano nas palavras da Bíblia resultou em vários erros. Por um lado, tanta ênfase foi colocada no divino que o humano foi completamente negligenciado. A partir disso, surgiu a chamada teoria mecânica, segundo a qual os autores sagrados são feitos para serem penas robôs. Esta explicação não tem base nas Escritura [...] Contradiz muitas passagens no Novo Testamento, em João, Lucas, Paulo, Pedro. Também não há um acordo completo em todos os detalhes, por exemplo, nos Evangelhos, como seria de esperar se fossem escritos por ditados de homens que eram apenas máquinas de escrever. Veja também o começo do Evangelho de Lucas e 1 João 1. [...]

Por outro lado, essa especulação sobre inspiração causou uma divisão muito mais perigosa que torna as palavras nas Escrituras Sagradas independentes do Espírito Santo e, portanto, as expõe a serem dominadas por pessoas, sábias em seus próprios conceitos. Essa especulação coloca tanto peso no lado humano das Escrituras que o lado divino é negado. Assim, esses mestres concluem que as Escrituras foram escritas por homens e que os homens certamente podem errar; portanto, mesmo as Escrituras também podem errar. Essa falsa conclusão é baseada no fato de que os escritores das Escrituras são chamados de "homens" sem explicar mais que esses homens também eram os instrumentos do Espírito Santo.

Ao mesmo tempo em que rejeitamos ambas as apresentações humanas unilaterais, uma vez que nenhuma delas tem base na Palavra de Deus, de acordo com as próprias Escrituras, devemos nos apegar à certeza inabalável que as Escrituras nos dão por sua autoridade inexpugnável: Dá toda a verdade total e completamente em cada uma de suas partes. 

***************

(Ulrik Vilhelm Koren, “The Inspiration of Holy Scripture,” Truth Unchanged, Unchanging [Lake Mills, Iowa: Graphic Publishing Company, Inc., 1978], pp. 149-50)

janeiro 14, 2019

Como ser Interessante e Inútil

 
O objetivo desta pequena exortação é que, no manusear as Escrituras, santificação e especulação aumentam e diminuem em proporção inversa. Com o aumento da especulação, a santificação diminui. Quanto mais adivinhação, menos bênção.

Poucas pessoas dariam suas vidas por uma especulação. Poucos vão arrancar um olho ou cortar a mão, por causa de uma adivinhação. Suposições fazem fracas exposições.

Este é o tipo de coisa que eu tenho em mente.

Pregadores, professores, e líderes de estudos bíblicos às vezes são tentados a especular porque as "possibilidades" são tão interessantes. 

  • Por exemplo, o que dizer das possíveis aparições de Cristo no Antigo Testamento? Quando se diz que Deus estava andando no Jardim do Éden (Gênesis 3:8) poderia isto ter sido Cristo? Era Melquisedeque realmente o próprio Cristo em Gênesis 14? Quando "o Senhor" apareceu a Abraão em Gênesis 18 foi isto uma aparência pré-encarnada de Cristo? Quando Jacó lutou a noite toda com "um homem" (Gênesis 32:24) era Cristo? Foi a quarta pessoa na fornalha ardente (Daniel 3:25) Cristo?
  • Poderia a divisão das águas do Mar Vermelho ser explicada por Deus usando uma catástrofe cósmica para criar as condições atmosféricas que fizeram as águas dividir?
  • Havia um documento escrito contendo todo o material comum a Mateus e Lucas mas faltando em Marcos, que poderíamos chamar de Q para o alemão Quelle, que significa fonte?
  • Foi a pobreza, mais tarde, da igreja em Jerusalém (Romanos 15:26) devida à má aplicação da política no início de ter "tudo em comum" (Atos 2:44, 4:32)?
  • Paulo era viúvo? Ou será que sua esposa o deixou quando ele se tornou um cristão? Ele teve filhos?
  • Será que Maria Madalena tinha uma queda por Jesus? Jesus teve que lidar com mais tentações do que geralmente pensamos?
  • Quando Paulo proibiu mulheres de ensinar e ter autoridade sobre os homens em 1 Timóteo 2:12 houve um problema na igreja como as mulheres tomando autoridade e ensinando, quando não estavam preparadas para fazê-los? Foi esta a única razão pela qual Paulo proibiu-as — porque elas não estavam prontas? 
 
Veja o Que Está Lá

Meu ponto é que as pessoas precisam de alimento sólido, não alimento possível. Eles precisam de uma palavra segura de Deus, não uma suposição do homem. Eles precisam de um bíblico "Assim diz o Senhor," não um "Talvez Deus disse."

Um fascinante desvio homilético de cinco minutos sobre o que poderia estar acontecendo em Corinto por trás deste ou daquele texto é um desperdício de tempo precioso. E eu acho que isso treina o nosso povo a esperar interlúdios de entretenimento histórico, e confundi-lo com uma visão profunda e alimento espiritual.

O que realmente está lá no texto da Escritura é infinitamente profundo, e incrivelmente interessante, e provocante. Especulação não é necessária para prender a atenção das pessoas. Se um pastor acha o que poderia ter sido mais interessante ao invés do que o que realmente está lá no texto, ele precisa de melhores poderes de observação, não melhores poderes de especulação. Ele precisa de uma sensação melhor para a maravilha que é, do que uma fantasia maior para o que poderia ter sido. 

E Sobre a Poesia?

Duas qualificações: 

  1. Poesia e pregação não são a mesma coisa. Ficção esclarecedora e exposição autoritária não são as mesmas. Adoro poesia e ficção. Estas são por natureza inventiva. Elas também têm o seu lugar e seu poder. Mas o poder santificador que elas têm é devido decisivamente as verdades mais profundas que transmitem, não as estruturas imaginativas que elas transmitem.
  2. Quando um texto da Escritura é aparentemente contraditório, e há pouco consenso sobre qual é a solução, é útil para as pessoas verem uma ou duas possíveis e plausíveis soluções. Estas serão mais ou menos especulativas. Nós dizemos a nosso povo que não temos certeza da resposta. Nós não queremos que elas tomem os nossos palpites como palavra de Deus. Mas oferecemos os nossos palpites para que elas possam ver pelo menos a possibilidade de que haja uma solução aqui ao invés de uma contradição. Mergulhe Mais Profundamente
 
Então eu digo mais uma vez, a necessidade desesperada no púlpito e na sala de aula não é a de gastar tempo especulando sobre o que poderia ter sido o caso, mas aprofundando-se no que realmente está lá no texto. A maioria de nós ainda está arranhando a superfície.

Se soubermos com certeza algo que não está na Bíblia, e vemos que derrama verdadeira luz sobre a Bíblia, isso é outro assunto. Que assim seja. Mas a minha sensação é de que a literatura secundária não é mais fácil de interpretar do que a Bíblia. O que significa que os textos secundários não são mais claros do que os textos bíblicos que supostamente iluminam. É uma coisa prejudicial ensinar seminaristas a ver a Bíblia como precisando de ajuda de fora, enquanto falham em ver que os documentos de fora também precisam de ajuda de fora.

Pastores e professores têm um tempo muito limitado para o estudo. O oceano de Escritura compreensível contextual é infinitamente profundo. Meu apelo é simples: mergulhe mais profundamente no que está lá.
 
***
 
John Piper (@ JohnPiper) é o fundador e professor da desiringGod.org e Chanceler do Bethlehem College & Seminary. Por 33 anos, ele serviu como pastor da Igreja Batista Belém, Minneapolis, Minnesota.
 
Fonte: https://www.desiringgod.org/articles/how-to-be-interesting-and-unhelpful?lang=pt

julho 18, 2018

Bultmann e os mitos sobre Jesus



Por Nathan Buzzatto

Antes de mais nada, já adianto, este artigo terá uma vocabulário um pouco mais técnico. 

Uma famosa obra teológica neotestamentária do século XX, Escrita por Rudolf Bultmann, como se bem sabe, colocou ensinamento de Jesus deliberadamente de lado, vendo-os como pressuposto da teologia neotestamentária e não como parte integrante de seu conteúdo, dispensando-lhe, por isso, atenção mínima em sua discussão. 

Há, é claro, um sentido específico no qual ele está certo. Se estamos escrevendo uma teologia do Novo Testamento, e Jesus não foi autor de nenhum de seus livros, logo, podemos concluir que o pensamento e o ensinamento de Jesus não são o pensamento e o ensinamento dos autores neotestamentários. Da mesma forma, ao incluir em sua obra uma discussão bem mais profunda acerca do querigma das igrejas primitivas e helênicas, ele coerentemente também classificou esse tópico como um dos pressupostos e temas da teologia do novo testamento e não como uma das partes da própria teologia. 

Entretanto esse argumento pode ser refutado com base na observação de que os ensinamentos de Jesus foram inseridos no Novo Testamento pelos autores dos Evangelhos. Eles consideravam ser a sua tarefa relatar grande parte de que Jesus havia ensinado e ao fazê-lo, aceitar esses ensinamentos como parte integrante de sua própria mensagem. Nós também devemos seguir por esse mesmo caminho. Em um livro que estuda a teologia do novo testamento, a ênfase deve recair sobre os ensinamentos de seus verdadeiros autores. Porém também deve ser dada atenção à figura do próprio Jesus na medida em que ele foi uma das fontes principais do pensamento dos Evangelistas. 

No entanto, de que forma isso deve ser feito? Devemos destacar aqui que os Evangelistas consideraram importante não apenas registrar os ensinamentos de Jesus, mas também apresentar em seus Evangelhos, de forma mais profunda e tematicamente organizada, a história da vida de Jesus, ou melhor, as partes de sua história que entenderam relevantes para suas audiências. É altamente significativo o fato de que existem cristãos que sentissem necessidade de deixar registrada a forma como eles viam e entendiam a vida de Jesus, isso numa época em que muitas das epístolas já haviam sido escritas e algumas já eram presumivelmente conhecidas em outros locais, além de seus destinos originais. Consequentemente, isso mostra que, embora houvesse teólogos entre os primeiros cristãos, como São Paulo, a falta de informação a respeito da vida e obra de Jesus deixava extremamente insatisfeita a Igreja primitiva, que desejava ver a teologia das epístolas dentro de um contexto mais amplo, ou seja, em uma integração com a vida e os ensinamentos de Jesus realizada pelas obras teológicas que hoje conhecemos como os Evangelhos. Assim, o Jesus histórico e os seus ensinamentos foram inseridos no Novo Testamento e, portanto, em sua teologia por meio fundamentalmente dos Evangelhos. 

Poderíamos dizer então que Jesus histórico é relevante para teologia do novo testamento em 3 níveis: 

Primeiro: Jesus, mais que qualquer outro que se possa imaginar é a figura histórica cuja obra e mensagem constituem a base e a formação da configuração da igreja. Desse modo, Jesus tem direito de ser ouvido por aquilo que representa. 

Segundo: a atuação histórica do mestre é o ponto de partida de todo o cristianismo de toda prática e pensamento Cristão, portanto nada mais apropriado do que um estudo sobre a influência de Jesus. Nesse sentido ele é o pressuposto da teologia de seus seguidores. Podemos aqui dizer que este foi o ponto sobre o qual Bultmann se deteve em sua análise, talvez até certo ponto, um pouco do primeiro, mas não na exata extensão do registro Bíblico, uma vez que seu revisionismo exclui material que ele atribuiu a supostas fontes cuja existência ou entender cristológico sequer pode ser traçado. 

Terceiro: Jesus é o tema da reflexão dos Evangelhos, logo as obras dos Evangelistas devem ser vistas como parte significativa na busca por uma teologia do novo testamento. 

Considerando-se esses três níveis, o tratamento que Bultmann conferiu a mensagem de Jesus restringiu-se apenas ao segundo nível e ele, de alguma forma, deu um jeito de omitir o terceiro nível, fornecendo um clássico exemplo de como matar com êxito a teologia neotestamentária. Bultmann, por fim, ao invés de analista dos documentos da igreja primitiva, projeta para sua obra seu ceticismo com relação à maior parte dos registros existentes e sua convicção de que história das realizações de Jesus era irrelevante para a fé cristã. Para ele, o que realmente importava e os desafios existenciais das poucas palavras que poderiam ser seguramente atribuídas a Jesus. 

Assim, continua existindo uma grande divergência entre estudiosos e dogmáticos que defendem que os Evangelhos sinóticos oferecem um panorama bastante confiável sobre a forma como Jesus agia e falava, e estes revisionistas que sustentam serem duvidosas as narrativas dos Evangelhos, sustentando que há alguma diferença substancial entre o Jesus histórico e o presente na narrativa Bíblica. 

Deve-se discutir a teologia de Jesus da maneira como nos é apresentada pelas Evangelhos, com base no sólido pressuposto que as apresentações de Jesus que encontramos nos Evangelhos sinóticos são próximas o suficiente da realidade histórica de forma a compreender a sua mensagem e missão. 

Evidentemente, Bultmann, que encabeça este artigo não é o único que por estes fundamentos desvia seu olhar da ortodoxia mediante falsos pressupostos, pode-se entre erros similares enumerar uma lista de críticos, revisionistas e similares. Entretanto, em que pese o nome destes autores, o mero pressuposto da construção de uma teologia neotestamentária torna suas particulares desconsiderações da mensagem evangélica seu maior erro. Neste intuito para este artigo breve, contive-me a analisar o pressuposto revisionista da “desmitificação”, nos termos do próprio Bultmann apenas de um ponto: o elemento humano das Escrituras. A simples menção da inspiração divina sobre os Evangelhos, especialmente como professada em nossa fé na suggestio litteralis (inspiração literal) das Escrituras, já desclassifica o método crítico em toda sua gama.

dezembro 19, 2017

Breve História da Tradução da Bíblia


A Bíblia é traduzida desde, pelo menos, a época de Esdras e Neemias (leia Ne 8.8 ). Naquela época, era necessário fazer uma tradução oral ou falada para o aramaico, necessidade sentida ainda nos tempos de Jesus. No entanto, a mais antiga tradução da Bíblia em forma escrita é a Septuaginta, que foi feita ao longo dos últimos 200 ou 300 anos antes de Cristo.

Septuaginta 

É uma tradução do Antigo Testamento hebraico para o grego, feita no Egito, para a comunidade judaica que não mais entendia o texto bíblico em hebraico. É claro que a Septuaginta inclui também alguns livros que foram, originalmente, escritos em grego. O termo “Septuaginta” significa “Setenta” e é derivado da tradição de que foram 72 sábios de Israel (seis de cada tribo) que fizeram a tradução, a pedido do rei do Egito. Foi a Bíblia utilizada por muitos dos primeiros cristãos, inclusive apóstolos e evangelistas. Nas cartas de Paulo, por exemplo, uma de cada três citações do Antigo Testamento parece ter sido tirada diretamente da Septuaginta. Além disso, a Septuaginta ajuda a entender a linguagem do Novo Testamento, em especial o novo significado de palavras gregas. Um exemplo disso é a palavra dóxa, que significa “opinião”, mas que a partir da Septuaginta, adquiriu também o significado de “glória”.

Outras traduções 

Depois, já na era cristã, surgiram novas traduções, para línguas como o copta (no Egito), o etíope, o siríaco (no norte da terra de Israel), e o latim, além de muitas outras. A tradução para o latim é, com certeza, a mais importante, por sua ampla utilização no Ocidente, especialmente ao longo da Idade Média.

A Vulgata 

A tradução mais importante ao latim é a (Vulgata), feita pelo eminente biblista Jerônimo, no final do quarto século e começo do quinto século (mais ou menos 400 d.C.).Tudo indica que Jerônimo fez apenas uma revisão do texto latino do Novo Testamento.

No caso do Antigo Testamento, fez uma nova tradução a partir do original hebraico (que ele chamava de veritas hebraica, ou “verdade hebraica”), pois as traduções latinas existentes na época haviam sido feitas a partir da Septuaginta grega. Para fazer uma tradução de qualidade e fiel aos originais, Jerônimo foi à Palestina, onde viveu durante 20 anos. Estudou hebraico com rabinos famosos e examinou todos os manuscritos que conseguiu localizar. Sua tradução tornou-se conhecida como “Vulgata”, ou seja, a tradução “divulgada” ou “difundida”. Embora não tenha sido imediatamente aceita (afinal, era diferente das outras traduções conhecidas na época), tornou-se o texto oficial do cristianismo ocidental. Neste formato, a Bíblia difundiu-se por todas as regiões do Mediterrâneo, alcançando até o Norte da Europa.

Traduções na Europa 

Na Europa, os cristãos entraram em conflito com os invasores godos e hunos, que destruíram grande parte da civilização romana. Em mosteiros, nos quais alguns homens se refugiaram da turbulência causada por guerras constantes, o texto bíblico foi preservado por muitos séculos, especialmente a Bíblia em latim, na tradução de Jerônimo.

Não se sabe quando e como a Bíblia chegou até as Ilhas Britânicas. Missionários levaram o evangelho para a Irlanda, a Escócia e a Inglaterra, e certamente havia cristãos no exército romano que dominou aquela região durante o segundo e o terceiro séculos.

Provavelmente a tradução mais antiga na língua do povo dessa região é a do Venerável Beda. Relata-se que, no momento de sua morte, em 735, ele estava ditando uma tradução do Evangelho de João; entretanto, nenhuma de suas traduções chegou até nós.

John Wycliffe 

Nascido por volta do ano de 1330, no interior da Inglaterra, Wycliffe tem o seu nome associado à primeira tradução da Bíblia para o inglês. Os líderes da Igreja se opuseram violentamente à Bíblia em inglês e perseguiram Wycliffe.

Ele foi condenado postumamente, ou seja, depois de morto, tendo o corpo desenterrado e queimado.

Lutero 

Lutero traduziu o Novo Testamento para o alemão, num período de onze semanas, quando estava refugiado no castelo de Wartburg. Essa tradução foi publicada em setembro de 1522. A tradução do Antigo Testamento só foi concluída após 12 anos de trabalho (publicada em 1534), sendo que Lutero contou com a colaboração de uma equipe de professores de teologia de Wittenberg (que não se dedicaram ao projeto em regime de tempo integral). A tradução de Lutero antecipa, em parte, o modelo de tradução de equivalência dinâmica, utilizado na Nova Tradução na Linguagem de Hoje. (Lutero) se expressou assim: “Não se deve perguntar às letras na língua latina como se deve falar em alemão, (…) e sim, é preciso perguntar à mãe em casa, às crianças na rua, ao popular na feira, ouvindo como falam, e traduzir do mesmo jeito, então vão entender e notarão que se está falando alemão com eles”. Por ter seguido este princípio, a tradução da Bíblia feita por Lutero caiu no gosto popular, embora não tivesse sido a primeira tradução
para a língua alemã.

Publicado originalmente em: www.sbb.org.br

setembro 13, 2017

Lutero e a Salvação pela Fé [somente]


De fato, nós estimamos que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei. (Romanos 3.28 TEB)

Comentário da Bíblia de Estudos Tradução Ecumênica sobre esta passagem:

Em sua tradução da Epístola aos Romanos, Lutero acrescentou uma palavra: "O homem é justificado pela fé somente". Este acréscimo deu ensejo, no tempo da Reforma protestante, a uma viva polêmica. Entretanto, ele não trai o pensamento de Paulo que, nesta passagem, visa retirar toda função às obras na justificação do pecador. Para Paulo, a fé é o caminho único que conduz à misericórdia de Deus. Do ponto de vista linguístico, este acréscimo é até necessário, se se admitir que Paulo pensa à maneira semítica, pois o aramaico omite a palavra "somente" onde o uso ocidental a considera indispensável.