fevereiro 19, 2018

As tentações de Cristo


Comentário do dia por Santo Agostinho, Bispo e Doutor da Igreja
Discursos sobre os Salmos, PS 60; CCL 39, 766

«Ele mesmo foi provado em tudo, à nossa semelhança, excepto no pecado» (Heb 4,15)

«Escutai, ó Deus, o meu clamor, atendei a minha oração! [...] Dos confins da terra grito por Vós, com o meu coração desfalecido» (Sl 60,2-3). Dos confins da terra, ou seja, de toda a parte. [...] Não é só uma pessoa que fala assim; e, no entanto, é uma só pessoa, porque não há senão um só Cristo, do qual somos os membros (Ef 5,23). [...] Aquele que grita dos confins da terra está angustiado, mas não foi abandonado. Porque fomos nós, ou seja, o seu corpo, que o Senhor quis prefigurar no seu próprio corpo. [...]

Simbolizou-nos na sua pessoa quando quis ser tentado por Satanás. Lê-se no Evangelho que Nosso Senhor, Cristo Jesus, foi tentado no deserto pelo diabo. Em Cristo, és tu que és tentado, porque Cristo tomou de ti a sua humanidade para te dar a sua salvação, de ti tomou a sua morte para te dar a sua vida, de ti sofreu os seus ultrajes para te dar a sua honra. Foi portanto de ti que Ele tomou as tentações, para te dar a sua vitória. Se somos tentados nele, nele também triunfaremos do diabo.

Reconheces que Cristo foi tentado, e não reconheces que alcançou a vitória? Reconhece-te como tentado ele, reconhece-te como vencedor nele. Ele poderia ter impedido o diabo de se aproximar dele; mas, se não tivesse sido tentado, como nos teria ensinado a maneira de vencer a tentação? Por isso, não é de espantar que, atormentado pela tentação, Ele grite dos confins da terra segundo este salmo. Mas porque não é vencido? O salmo continua: «Conduzi-me ao rochedo». [...] Recorda o Evangelho: «Sobre esta pedra edificarei a minha Igreja» (Mt 16,18). Assim, é a Igreja, que Ele quis construir sobre a pedra, que grita dos confins da terra. Mas quem se tornou rochedo, para que a Igreja pudesse ser construída sobre o rochedo? Ouçamos S. Paulo: «O rochedo era Cristo» (1Cor 10,4). É pois sobre Ele que nós somos edificados. Por isso, a pedra sobre a qual somos construídos foi a primeira a ser batida pelos ventos, pelas torrentes e pelas chuvas, quando Cristo foi tentado pelo diabo (Mt 7,25). Eis a fundação inabalável sobre a qual Ele te quis edificar.

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