fevereiro 19, 2018

Quarta reflexão na Quaresma: Se falhas cometi


Por Nathan Buzzatto

Quarta reflexão na Quaresma: Se falhas cometi


Na reflexão anterior me detive no mal que cometemos enquanto buscamos fazer o bem. Hoje me detenho no mal que cometo voluntariamente.

Se tem algo que me fala mais alto aos ouvidos no louvor de Maria, o Magnificat, é sem dúvidas “A minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador”. Que nobre canção! Após a anunciação do anjo, Maria tem tempo para pensar no que ouviu, certamente passou pela angústia de querer explicar e não saber como, tentar contar para alguém e não ser compreendida. Seu próprio noivo tentou deixa-la! Então, ela vai à casa de sua prima, e após ser recebida, entoa este louvor. 

As circunstâncias estavam longe de ser favoráveis para Maria, mas isto é o que ela traz consigo: A plena satisfação em Deus! Que espírito puro e humilde o dela.
Este texto também nos exorta. Enquanto aquela que é bendita entre as mulheres tinha sua satisfação em Deus, quantas vezes não pequei por buscar minha satisfação fora de Deus.
nesta mesma hora, quando me deparo com a satisfação plena de Maria em Deus, seu Salvador, olho para dentro de mim, para as minhas paixões. Vejo o pecado deliberado de louvar menos a Deus na provação que durante a bonança, o pecado consciente de estar ansioso, temendo que de alguma forma a providência de Deus venha a faltar, vejo como, estando decidido a ser moderado em meus gastos, ao ver um produto diferente, sou levado a comprar sem muito refletir. Vejo-me perdido nas paixões do coração quando me detenho na beleza com que Deus agraciou suas filhas. Peco voluntariamente em meus pensamentos, palavras e ações. Não sou sempre um homem bom que as vezes comete o mal tentando fazer o bem. Sou também um pecador. Miserável homem que sou!

Tal natureza decadente é com maestria transcrito por Paul Gerhardt, considerado o maior poeta luterano depois de Lutero. Seus versos, O Haupt voll Blut und Wunden, traduzido como “O Fronte ensanguentada”:

O que tens suportado
foi minha própria dor;
eu mesmo sou culpado
de tua cruz Senhor.
Ó vê-me, aflito e pobre:
castigo mereci;
com tua graça encobre
o mal que cometi!

Sim, eu matei a Cristo! Sempre que me deparo com um crucifixo, a primeira coisa que me vem à mente é o meu corpo naquela cruz. É exatamente como deveria ser! Eu sou aquele Barrabás legitimamente condenado porque, de fato, era inexcusável de seus atos. Tinha uma cruz feita na minha medida. Eu mereci cada chaga pelas vezes que me recusei a perdoar, Aquela lança era minha no momento que recolhi a mão que deveria ter ajudado. Me tornei digno dos espinhos todas as vezes que desviei os olhos do Criador para desejar suas criaturas de modo infame.

Eu sou Barrabás! Não peco apenas porque tento fazer o bem e as vezes falho! Peco de modo consciente! Esta é a minha miséria! Que esperança posso ter nesta quaresma? Cristo! Quando olho aquela cruz, não vejo apenas que eu deveria estar ali, também vejo que EU NÃO ESTOU ALI! Não cabe o meu corpo naquela cruz porque aquela vaga já está ocupada.

"Cristo, na cruz, toma sobre si os pecados que você cometeu, carrega-os em seu lugar e os destrói. Isso é graça e misericórdia. E crer nisso firmemente, tê-lo diante dos olhos, não duvidar, isso se chama olhar para a imagem da graça e imprimi-la em sua mente. Veja, aqui os pecados deixam de ser pecados, pois são destruídos em Cristo. Assim, a imagem da vida e da graça de Cristo é nosso consolo face à imagem do pecado e da morte."
Martinho Lutero

Este é nosso caminhar, Justos, porém pecadores! Pelo meu pecado, reconheço que sou um miserável e odioso ser, digno do inferno. Mas quando contemplo a Cristo, vejo meu pecado castigado nele. Meu pecado foi forte o suficiente para tirar o brilho dos olhos do Senhor, Deus forte e Pai da Eternidade, em uma face coberta de sangue e sofrimento. Entretanto, Cristo foi forte o suficiente para me buscar do fundo de um abismo, me batizar para dentro de seu próprio corpo e colocar em mim o brilho de seus próprios olhos nos meus ao contemplar uma nova vida. Neste momento, por todas as vezes que pequei voluntariamente, só posso levantar meus olhos aos céus e dizer: Se falhas cometi, estavas comigo, mas eu não estava contigo. Assim, longe de ti, me detinham as criaturas que nada seriam se em ti não existissem. Kyrie, eleison! Senhor, Tem piedade!

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