fevereiro 16, 2018


Por Nathan Buzzatto

Segunda reflexão na quaresma: se em meu agir o teu amor também não refletir.

Seguindo a reflexão anterior, hoje, volto o olhar para o amor. De todas as palavras, a mais bela, e também a mais mal compreendida. Deus é amor. Não o que penso, nem o que sinto, mas Deus, ele sim é o Amor. Se na primeira reflexão houve um lamento pela forma como se vive, nesta parte, firmamos um compromisso com Deus. Quaresma não é apenas o lamento pelo pecado, mas o que este lamento produz em nós para a vida eterna. Amamos nossos animais, nossos colegas de trabalho e estudos, nossos amigos, nossos familiares, amamos a Deus. Amamos também circunstâncias, amamos eventos, amamos! Simplesmente amamos!

De uma forma ou de outra, nossa vida é repleta de amores! Melhor ainda quanto este amor é correspondido! Certa vez Cristo sondou a Pedro sobre seu amor: “Amas-me?” Uma pergunta aparentemente fácil de responder, mas os Santos Evangelhos nos mostram uma riqueza maior, a palavra “amar”, usada por Cristo não retratava qualquer forma de amor, mas aquele amor que é atributo do próprio Deus. Ágape, o amor sublime e perfeito com que Pedro era amado! Ele sabia que não poderia retribuir a Cristo o mesmo amor, ele então responde: “Tu sabes que te amo”, e nesta resposta, não era mais este amor sublime, mas o termo “Fileo”, um amor mais limitado, imperfeito. Este jogo de perguntas se repete, Cristo pergunta novamente se teria de Pedro o amor que ele dava correspondido, e novamente a resposta “Fileo”. Era tudo o que ele tinha. O Apóstolo amado sabia que não teria como retribuir o mesmo amor que recebia. Cristo não seria correspondido!

Então na terceira vez, Cristo pergunta “Amas-me”, não com o ágape, aquele amor que ele dava, mas “Fileo”, o amor imperfeito, limitado, tão humano! O Apóstolo estava já entristecido, sabia que até mesmo o seu melhor amor, não era digno de Cristo, quando então Cristo muda sua pergunta, ele aceita o amor que Pedro oferecia, e então agora ele responde pela última vez “Tu sabes que te amo”. As perguntas terminam. Nada mais era necessário! Pedro sabia que amava de modo imperfeito e lamentou sua própria limitação humana, mas sabia que teria em Cristo um amor ainda maior, mesmo que não fosse digno.

De mesmo modo, Jesus tomou os 12 consigo e subiu a Jerusalém, mas os seus não o compreenderam sobre as coisas que se passariam ali, somos limitados em entender o Amor, mesmo quando ele se mostra diante de nós. Nas palavras de J.S.Bach: “Meu Jesus, atrai-me para Ti que virei correndo. Pois a carne e o sangue não entendem perfeitamente, tanto quanto Teus discípulos, o que foi dito. Eles anseiam pelo mundo e pelas multidões; querem também, quando Te transfigurares, construir uma fortaleza segura no monte Tabor, Mas a Gólgota, que é tão cheia de sofrimento, e teu aviltamento não querem olhar. Ah, crucifica em mim, em meu peito corrompido, antes de mais nada, este mundo e os prazeres proibidos, E, então, entenderei exatamente o que dizes E irei, com multiplicada alegria, a Jerusalém.” (BWV 22).

Sem dúvidas, temos nesta vida uma visão de relance do que seja o Amor. Deus nos fez desejosos de realmente prová-lo. Ele ocultaria uma revelação que satisfizesse a esse suspiro? Não se pode crer que um Deus amoroso e sábio permita que o homem pereça perplexo diante deste desejo em provar tão grande atributo no Ser de Deus. Somos levados a crer que Deus, enfim, coroará essa natureza passível de um amor incompleto com o Amor sobrenatural. A benevolência de Deus nos conduz a esperar que ele solucione a grave limitação de nosso amor incompleto, este que é ao mesmo tempo indigno de Cristo, mas também tudo o que podemos retribuir. A justiça de Deus nos conduz à esperança de que seremos infundidos neste Amor em tons claros e com autoridade à nossa consciência.

Somos miseravelmente indignos! O melhor de nosso amor, ainda é índigo! Por isto, nos arrependemos também da forma como amamos. “Se em meu agir o teu amor também não refleti.” Mata-nos em Tua bondade! Desperta-nos em Tua piedade. Mortifica o antigo homem para que possa viver o novo, bem aqui nesta terra, para que nossos sentidos e todos os desejos e pensamentos possam dirigir-se a Ti.

Para citar:

Buzzato, Nathan. Segunda reflexão na quaresma: se em meu agir o teu amor também não refletir. Disponível em <http://justosepecadores.blogspot.com.br/2018/02/segunda-reflexao-na-quaresma-se-em-meu.html>

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