Por Nathan Buzzatto
Terceira reflexão na Quaresma: “perdoa-me, Senhor, Se em teu caminho não segui.”
John Bunyan, em sua obra “O Peregrino” expõe de maneira sublime porque erramos em nossa caminhada: “Olha: nessa aldeia próxima, que se chama Moralidade, vive um homem de muito juízo e grande reputação, cujo nome é Legalidade, o qual é muito hábil em tratar pessoas como tu, o que tem sido provado com numerosos exemplos; além disso, também sabe curar os indivíduos que padecem do cérebro. A casa dele fica daqui a um quarto de légua, quando muito, e, se ele não estiver em casa, seu filho, Urbanidade, que é um mancebo de grande talento, poderá servir-te tão bem como seu pai. Não deixes de lá ir. E se não estás disposto, como não deves estar, a voltar à tua cidade, manda buscar tua mulher e teus filhos, porque na aldeia de que te falo há muitas casas devolutas, e podes arranjar uma por preço muito módico. Outra coisa boa aí encontrarás: vizinhos honrados, de fino trato e bons costumes. A vida ali é muito barata e cômoda.”
E assim vai a história! “Cristão” deixa o caminho que lhe foi mostrado por conta de um conselho de um “sábio”. Sua proposta era simples, trocar o caminho difícil por uma vida tranquila e agradável na aldeia da “Moralidade”. Ele não se desviou porque buscava o mal, muito pelo contrário, ele o fez porque queria alívio ao seu fardo. Buscando o bem, praticou o mal. Quantas vezes não caímos no mesmo erro! Nem mesmo os Santos Apóstolos estava imunes a praticar o mal enquanto suas intenções eram de bem. São Paulo também lamenta de si mesmo: “Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo. Romanos 7:19”
Ah sedutora vila da moralidade! Quantas vezes buscamos alívio no que se apresenta como bem, mas está longe do caminho. Quantas vezes buscamos transformar nossa caminhada cristã num conjunto de “regras para uma vida melhor”, trocamos o Evangelho da Cruz para acatarmos orientações práticas sobre o que podemos ou não ouvir, o que podemos ou não ver, que posição política devo aceitar, quanto devo “semear”, com quais pessoas devo ou não falar. O senhor “Legalidade” anda bem ocupado distribuindo os seus conselhos em toda parte. O que vemos na vila da “moralidade”? Existe ordem, bons costumes, pessoas finas! Que desvio perigoso! Uma vida de aparente segurança, onde é convidativo para que se fique, mas ESTE NÃO É O CAMINHO!
Não se pode buscar a justificação em Cristo, se o fizer mediante a lei. Ser justificado é ato gracioso de Deus, e por isto mesmo, depende exclusivamente do Evangelho. A vila da legalidade destrói o bendito consolo que Deus tencionou dar aos homens pela gloriosa doutrina da justificação pela fé. Ao passo que a esta doutrina confere ao crente completa certeza da salvação, a da justificação pelas obras afasta esta certeza; porquanto arrebata a salvação da mão graciosa de Deus e a coloca na mão pecaminosa e impotente do próprio homem. É fato significativo que todos os que erram negando o sola fide, também negam a verdade escriturística que o crente possa estar seguro de sua salvação.
Quantas vezes caí no lodo da desconfiança, tive medo de fazer da graça de Deus uma “graça barata” e fui até a vila da “Moralidade”, me sentei com o senhor “Legalidade” para ouvir seus conselhos. Quantas vezes fui à igreja, confiando assim ter algum favor de Deus., Quantas vezes já participei de campanhas de oração crendo que nelas eu teria algum mérito para com Deus, ou dei ofertas em troca de bênçãos. Quantas vezes fui aos cultos, não porque sentia a necessidade, mas para não ficar em falta com o pastor e me complicar com Deus. Quantas vezes deixei de aproveitar uma diversão sadia porque achava ofender a Deus com minha felicidade numa diversão qualquer de uma festa.
Sim, eu pisei fora do caminho muitas vezes! Tentei fazer com que a Graça não fosse barata, tentei dar um preço a ela! Busquei a certeza de minha salvação, não no fato de ter ouvido a Palavra e recebido os sacramentos, mas nas obras que fiz. São Pedro negou a Cristo 3 vezes. Eu não sei quantas vezes eu já fiz isto buscando a vila fora do caminho. Aquele galo que cantou aos ouvidos do Apóstolo, repetidamente canta aos meus ouvidos.
Hoje, esta é a oração de alguém que se perdeu no caminho: “perdoa-me, Senhor, Se em teu caminho não segui."
Para Citar
Buzzatto, Nathan. Terceira Reflexão na Quaresma. Disponível em <http://justosepecadores.blogspot.com.br/2018/02/por-nathan-buzzatto-terceira-reflexao.html>
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