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abril 05, 2019


As seguintes passagens mostram com que espírito as reuniões públicas da igreja deveriam ser abordadas e como as pessoas deviam se comportar nelas: 1 Coríntios. 11:17; Mateus 18:20; 1 Cor. 5: 4; Levítico 26: 2; Isaias 1:13; 1 Cor. 14: 26,40. As palavras do Decálogo nos ensinam que a alma deve ser afastada de todas as outras preocupações e entregar-se inteiramente aos serviços divinos públicos. Em Mateus 18:20 Cristo repete a promessa dada em Ex 25: 8 e Ezequiel 37:26: "Eu vou estar no meio deles e vou ouvir." Em 1 Coríntios. 14: 24-25: “Uma pessoa que entra na igreja deve ser convencida, para que ele relate que Deus verdadeiramente está entre nós.” 

Neste ponto, podemos acrescentar testemunhos que mostram o que as pessoas piedosas deveriam estar fazendo nas reuniões públicas da igreja. Eles incluem o seguinte: (1) Atos 13: 14-15, as palavras dos profetas são lidas todos os sábados; cf. Atos 15:21; 20: 7; 13:44 e segs. (2) Houve orações, Atos 16:13; Lucas 1:10; 1 Tim. 2: 1, 8. (3) Eles louvavam a Deus com salmos e encorajavam uns aos outros, Col. 3:16; 1 Cor. 14:26; Sl 42: 5. (4) A Ceia do Senhor era administrada, 1 Coríntios. 11:20 e segs; Atos 2:42; 20: 7 (5) Eles coletavam esmolas, 1 Coríntios. 16: 1-2. (Loci Theologici [Saint Louis: Concordia Publishing House, 1989], Vol. II, p. 392)

Quando... pergunta-se se a administração dos sacramentos deve ser feita sem certos ritos externos específicos, a resposta é clara e óbvia. Pois o próprio nome e definição de um sacramento abrange a presença de algum elemento visível e externo ao qual a Palavra deve vir e inclui isto, que toda a ação é realizada e administrada de uma certa maneira e com uma cerimônia divinamente instituída específica. Como isso deve ser feito foi declarado nas Escrituras e traçado de antemão para a igreja em uma palavra clara de Deus, a saber, que esses sinais e essas palavras devem ser usadas, que o próprio Deus instituiu e prescreveu na instituição de cada sacramento e que eles devem ser realizados e usados ​​como a instituição ordena e dirige. Esses ritos são essenciais e necessários na administração dos sacramentos, pois eles realizam a instituição. Além disso, fica claro nas Escrituras que a igreja apostólica na administração dos sacramentos cuidadosamente observou isto, que eles não deveriam ser óculos mudos, mas que a doutrina concernente à essência, uso e eficácia dos sacramentos deveria ser fielmente estabelecida e explicada. para os presentes e prestes a receber os sacramentos, da Palavra de Deus em uma língua que eles estavam acostumados e que era conhecida por eles, e que aqueles que estavam prestes a usar os sacramentos, tendo sido justamente instruídos, deveriam ser diligentemente advertidos sobre a sua recepção legal e salutar. Os Atos dos Apóstolos e Paulo (1 Coríntios 11:23 e segs.) Descrevem a administração do Batismo e da Ceia do Senhor com base na sua instituição: "Pregar o Evangelho!" Da mesma forma: "Quem crer." E: Façam isto em memória de Mim ”; “Anunciais a morte do Senhor”; “Que o homem examine a si mesmo” etc. Que também as orações foram usadas e as ações de graças tiradas da própria instituição do sacramento, as Escrituras testificam claramente. Pois a instituição testifica que Cristo deu graças e que Ele ordenou a igreja a fazê-lo: “Faça isto”. E Paulo diz: “Anunciais a morte do Senhor.” Da mesma forma (Atos 22:16): “Seja batizado e lave seu pecados, invocando o nome de Jesus. ” 

As Escrituras também mostram as fontes das quais as explicações, exortações, orações e agradecimentos devem ser retiradas, isto é, da instituição e do ensinamento sobre os sacramentos, conforme é transmitido na Palavra de Deus. Não prescreve, porém, uma certa forma em palavras fixas, mas deixa-a livre de acordo com as circunstâncias da edificação, desde que o fundamento seja preservado. Estas são as coisas que são principalmente observadas e requeridas na administração dos sacramentos, porque são prescritas na instituição e têm o testemunho e exemplo da Escritura, que tudo pode ser feito decentemente, em ordem e para edificação. ... 

A seguir estão as coisas que têm o testemunho e exemplo da Escritura na administração dos sacramentos. Também após o tempo dos apóstolos, na igreja primitiva, permaneceu por um tempo a simplicidade evangélica e apostólica de que na administração dos sacramentos eram empregadas
somente aquelas cerimônias que tinham a ordem e exemplo da Escritura. Mais tarde, no entanto, pouco a pouco certas outras coisas começaram a ser acrescentadas a estas, a princípio sem nenhum mal ou intento perverso, a saber, que pelos ritos externos auxiliavam os fiéis, e particularmente os mais ignorantes. Para a Igreja, a grandeza dos sacramentos poderia ser mais recomendada e protegida contra o desprezo e que o poder, efeito e uso dos sacramentos poderiam, através dessa ação, ser explicados brilhantemente e expostos diante de seus olhos. Também nessas cerimônias adicionais foi dada consideração ao que parecia servir à preservação da ordem e do decoro nas assembleias onde a celebração dos sacramentos deveria ser observada. 

Essas adições eram de dois tipos, pois consistiam em palavras, cerimônias e gestos. Eu digo que consistiam de palavras, como exortações, orações, agradecimentos, leituras das Escrituras sobre os sacramentos, confissão de fé, interrogações e certas palavras formuladas pelas quais a doutrina sobre o uso e a eficácia do batismo ou a da Ceia do Senhor é explicado e colocado diante dos olhos, como o exorcismo, a renúncia, etc. Mas quando administravam os sacramentos, eles não estavam contentes apenas com palavras para estabelecer instrução na doutrina sobre o valor de cada sacramento e sobre seu uso e eficácia; mas, para que essa instrução pudesse ser impressa de forma mais duradoura nos sentidos e na memória, e que pudesse mover o espírito com mais força, eles começaram a acrescentar àquelas palavras certas cerimônias e gestos. E, de fato, o que uma vez foi estabelecido em palavras e instruções, começaram depois a mudar para pior em muitos atos simbólicos. Então, por exemplo, uma vez ensinaram em palavras que o Batismo é iluminação espiritual; para isso, mais tarde veio a grande vela da Páscoa. Contudo, no início, essas cerimônias eram muito poucas em número, mas depois começaram a se acumular gradualmente, de modo que, finalmente, essas cerimônias quase se transformaram em uma produção teatral. E embora este plano dos antigos não deva ser condenado de maneira absoluta, não obstante, os mestres e demandantes das cerimônias exaltam-no de maneira demasiado rígida e grandiosa, como se sem eles a autenticidade ou o valor ou a eficácia dos sacramentos não estivessem presentes. (Examination of the Council of Trent , Part II [Saint Louis: Concordia Publishing House, 1978], pp. 109-10, 112-13)

Que os apóstolos instituíram para as igrejas certos ritos é firmemente estabelecido a partir de seus próprios escritos; e é provável que também outros ritos externos, que não são mencionados nas Escrituras, fossem transmitidos pelos apóstolos.
 

Também não há dúvida de que a igreja após os apóstolos acrescentou alguns outros ritos com o propósito de edificação, ordem e decoro. Não pode, de fato, ser provado com testemunhos firmes e seguros de que os ritos foram certamente entregues pelos apóstolos, embora [eles não possam ser mostrados nas Escrituras]. Podemos, no entanto, ter uma abordagem apostólica certa para a avaliação e uso de todas as tradições, ritos ou cerimônias externas, independentemente de onde possam ter sua origem. E isso é mais certo e mais útil do que continuar com discussões incertas sobre os autores. Conseqüentemente, as tradições relacionadas a ritos externos não podem, na ausência de uma regra apostólica segura, flutuar agora nesta direção, depois em outra, ou vagar incessantemente, certas regras seguras são coletadas daquelas instituições ou ritos externos, sobre os quais se sabe de seus próprios escritos que os apóstolos os entregaram, e de acordo com essas regras, a pessoa deve e pode julgar à maneira dos apóstolos com relação a todos e cada um dos ritos ou cerimônias.

I. Existem alguns ritos que podem ser provados pela Escritura, porque contêm o uso, exercício e explicação proveitosa daquela doutrina que é divinamente revelada na Escritura. Assim Paulo, em 1 Coríntios 11:27-29, deduz da instituição como a Ceia do Senhor deve ser celebrada de maneira piedosa. E da doutrina dos apóstolos que está contida na Escritura há conclusões: em 2 Tessalonicenses. 3:6-8, que se deve retirar aqueles que levam vidas desordenadas; em 1 Cor 5, referente à excomunhão; em Atos 14:23, sobre a nomeação de ministros para a igreja, etc. Tais ritos nós corretamente amamos e retemos: como a confissão de fé, a renúncia de Satanás, e outros ritos no ato do Batismo, que explicam e ilustram a doutrina concernente ao Batismo que é entregue na Escritura como proveitosamente para edificação. Assim, encontramos nas Escrituras testemunhos claros a respeito da revogação do sábado, e as Escrituras indicam claramente em Atos 20:7 e 1 Coríntios. 16:2 que os apóstolos realizaram suas reuniões no primeiro dia da semana. E em Apocalipse 1:10 é encontrada a designação “o Dia do Senhor”. Assim, os apóstolos basearam sua decisão no ensino do amor ao próximo e de receber os fracos na fé. 


Tais são também aqueles costumes eclesiásticos dos quais Agostinho acredita que eles têm sua origem na tradição dos apóstolos: concernente ao batismo de crianças e não rebatizar aqueles que receberam o batismo de hereges segundo a forma instituída por Cristo. Pois esses costumes ensinam o exercício e uso dessa doutrina que está contida nos testemunhos das Escrituras. Que tais ritos devam ser chamados de apostólicos, não nos opomos, pois assim, como já foi dito, eles têm testemunho na própria Escritura. 


II. Paulo distinguiu os ritos apostólicos com essas marcas, para que todas as coisas fossem feitas decentemente, de maneira ordenada e para edificação. Assim ele mostra em 1 Coríntios. 11: 5-10 que o costume das mulheres usarem véu é louvável nas Escrituras; ele cita o costume e mostra que serve decoro. Em 1 Cor. 14, quando ele quer mostrar as razões para as orientações sobre línguas, profecias, salmos, orações, etc., ele menciona edificação, decoro e ordem. E eu julgo que tais ritos devem certamente ser mantidos e preservados, os quais são (como já foi bem dito) incentivos e ajudas à piedade, isto é, de acordo com o governo de Paulo, que antes de tudo edificam, que os homens possam ser convidados para o Palavra, aos sacramentos e a outros exercícios de piedade; que a doutrina pode ser mais apropriadamente apresentada, mais valorizada, mais ansiosamente recebida e melhor retida; e que a penitência, a fé, a oração, a piedade e a misericórdia podem ser estimuladas e valorizadas, etc. Em segundo lugar, aquelas que servem à boa ordem; pois é necessário que nas reuniões públicas da igreja haja uma ordem merecedora de dignidade eclesiástica. Em terceiro lugar, aquelas que contribuem para o decoro. Agora, por decoro, não entendemos pompa teatral ou esplendor cortês, mas tal decoro como mostra, por meio de ritos externos, a honra em que mantemos a Palavra, os sacramentos e as funções remanescentes da Igreja e pela qual outros são convidados a reverenciar Palavra, os sacramentos e as assembleias da igreja. 


III. A liberdade cristã coloca um limite nos ritos apostólicos, a saber, que as cerimônias podem ser de acordo com sua natureza adiaphora, poucas em número, boas e proveitosas para edificação, ordem e decoro, e que todo este tipo, exceto em caso de ofensa, deve ser observado em liberdade, para que eles possam ser instituídos, alterados ou eliminados por razões de edificação, lugar, tempo, pessoas, etc. Assim, o decreto dos apóstolos sobre o que foi estrangulado e sobre o sangue há muito tempo deixou de existir, estar em uso, porque a razão pela qual foi feita não existe mais. Em 1 Cor 11:4 Paulo ordena que os homens devem orar e profetizar com a cabeça descoberta, as mulheres com cabeça coberta. E isso ele tira da circunstância dos lugares e tempos. Pois naquela época e naqueles lugares os homens saíam ao público com a cabeça descoberta, mas mulheres, escravas e livres, com a cabeça encoberta, como escreve Plutarco em Quaestiones Romanae. E era um sinal de autoridade falar com a cabeça descoberta, pois, por outro lado, uma cabeça coberta era um sinal de sujeição. Nos nossos tempos e lugares o oposto é observado. Pois falar ou escutar com a cabeça descoberta é um sinal de sujeição, mas o sinal de autoridade é falar com a cabeça coberta.
Assim, a tripla imersão, a prévia degustação de leite e mel, as posições em oração no Dia do Senhor e entre a Páscoa e o Pentecostes, há muito tempo deixaram de ter o uso necessário. As festas de aniversário das quais Tertuliano menciona o Sínodo de Nicéia aboliram livremente. Mesmo os papistas agora não têm palavras especiais quando o pão consagrado da Eucaristia é mostrado, e ainda assim os antigos acreditavam que esses costumes haviam sido transmitidos pelos apóstolos. A igreja, portanto, declarou sua liberdade em tradições desse tipo por esse mesmo fato. Pois a doutrina é universal e perpétua, mas as cerimônias podem ser livremente alteradas de acordo com as circunstâncias. 


Além disso, certas regras também são reunidas a partir dos escritos dos apóstolos, que mostram quando tradições desse tipo sobre cerimônias devem ser opostas pelo ensino e pelo exemplo, ou seja, quando afirmam coisas que conflitam com a Palavra e o mandamento divino (cf. Mat. 15: 1-9) ou quando com cerimônias, que são em si mesmas coisas indiferentes, as noções de adoração, mérito e necessidade estão ligadas, mesmo que não ofendam. Aqui também pertence a queixa de Agostinho na Carta n º 119: "Religião, que a misericórdia de Deus queria deixar livre, com muito poucas e muito claras celebrações sacramentais, essas cerimônias oprimem com cargas escravas, de modo que a condição dos judeus é mais tolerável, que foram submetidos aos encargos da Lei, não às presunções humanas ”. 


Esta é a verdadeira maneira apostólica de julgar as tradições deste tipo. E é mais certo e útil do que discutir sobre coisas incertas, como, por exemplo, quais tradições foram proferidas por quais apóstolos, em que tempo, em que lugar, etc., sobre o qual nenhuma prova pode ser apresentada a partir das Escrituras.


Portanto, não rejeitamos e condenamos simplesmente todas as tradições desse tipo. Pois não desaprovamos o que Jerônimo escreve a Lucino, a saber, que as tradições da igreja, especialmente aquelas que não prejudicam a fé, devem ser observadas quando são transmitidas pelos anciãos. Também o que Agostinho diz: “tudo o que for ordenado que não impeça a fé ou a boa moral deve ser considerado algo indiferente e observado em benefício daqueles entre os quais se vive.” Quero que estas coisas sejam entendidas de acordo com as regras apostólicas, que, como já dissemos, são reunidas na Escritura. Pois também Agostinho, na Carta n º 119, diz que certos ritos devem ser reprimidos, embora não se possa encontrar facilmente de que maneira eles são contra a fé, ainda, porque eles sobrecarregam a igreja pelo seu número e pela presunção da necessidade, devem ser revogados. (Examination of the Council of Trent , Part I [Saint Louis: Concordia Publishing House, 1971], pp. 268-71)

As cerimônias da missa não são todas de um tipo. Algumas têm um mandato divino e exemplos das Escrituras que devem ser feitos na celebração da Ceia do Senhor, por serem essenciais, por exemplo, trazer o pão e o cálice à assembléia pública, abençoar, distribuir, comer e beber. proclama a morte do Senhor. Alguns, na verdade, não têm uma ordem expressa de Deus, que necessariamente devem ser feitos assim na celebração da Ceia do Senhor, todavia são em sua natureza bons e piedosos se forem usados ​​corretamente para edificação, tais como salmos, leituras da Escritura, orações piedosas e ações de graça, confissão do Credo, etc. Algumas são per se, supersticiosas e ímpias, por exemplo, o sacrifício da Missa pelos vivos e pelos mortos, a invocação dos santos, a satisfação pelas almas do purgatório, a missa privada, a consagração do sal, a bênção da água, etc. Algumas cerimônias, na verdade, são adiaphora, como vestimentas, vasos, ornamentos, palavras, ritos e coisas que não são contra a Palavra de Deus. Coisas que são do primeiro tipo devem necessariamente ser observadas, pois elas pertencem à substância da Ceia do Senhor. Das coisas que pertencem ao segundo e quarto tipo, muitas que contribuem para a edificação das pessoas são observadas em nossas igrejas sem infringir a liberdade cristã.
O terceiro tipo, no entanto, sendo supersticiosa e sem deus, foi merecidamente, com razão e necessariamente revogada e eliminada. ...
... os pais ... Na celebração da Ceia do Senhor ... observaram cerimônias que podem ajudar e explicar a proclamação da morte do Senhor, que foi feita por meio da pregação pública da Palavra; tais cerimônias, junto com a Palavra, ensinariam aos homens algo útil sobre a doutrina e uso do sacramento e os incitariam a dar atenção mais atenta à doutrina da Palavra e às coisas que pertencem à substância da Ceia do Senhor. Tais cerimônias eram observadas na liberdade cristã, pois não eram iguais e semelhantes em todos os lugares, nem forçavam os outros à observação de suas cerimônias. Nós alegremente aprovamos e observamos bons e úteis ritos em tal liberdade. 

Mas os papistas acumularam as cerimônias dos antigos, misturando muitos rituais inúteis, tolos e supersticiosos, com o resultado de que a doutrina e o verdadeiro uso da Ceia do Senhor começaram, pouco a pouco, a ser obscurecidos e oprimidos pela numerosidade desses ritos, até que finalmente a ação da Ceia do Senhor foi transformada no que é claramente uma coisa de outro tipo - um sacrifício. ( Examination of the Council of Trent , Part II, pp. 524-26)

Pois na administração dos sacramentos distinguimos entre as cerimônias, e ensinamos que uma distinção deve ser feita. Pois em primeiro lugar há certos ritos que são ordenados na instituição e, portanto, são necessários e essenciais na administração dos sacramentos. Afirmamos que neles nada deve ser omitido, alterado ou revogado. 


Segundo, há certas coisas na administração dos sacramentos que têm testemunhos e exemplos nas Escrituras, pois lemos nas Escrituras o que a primeira igreja apostólica observou na administração dos sacramentos, por exemplo, explicações da doutrina dos sacramentos, exortações. , orações, agradecimentos, etc. Estas coisas também nós observamos e ensinamos que deveriam ser diligentemente observadas - no entanto, de tal maneira que se conformam à doutrina dos sacramentos como é transmitida nas Escrituras, pois os sacramentos não são espetáculos mudos ou ociosos, mas foram instituídos para fortalecer a fé e expor a promessa da Palavra mais claramente. 


Terceiro, há certos outros ritos que não possuem nem o mandamento nem o testemunho das Escrituras, mas foram acrescentados pelos clérigos. E julgo que nem todos devem ser rejeitados ou condenados em geral, mas aqueles que consistem em palavras e interrogações que concordam com as Escrituras e que lembram e explicam algo sobre a doutrina dos sacramentos podem ser mantidos livremente, como entre nós, o exorcismo, a renúncia, a confissão de fé, etc., são mantidos na administração do Batismo. No entanto, nas coisas que consistem em cerimônias ou gestos, essa liberdade que a Escritura dá deve ser preservada e que a verdadeira igreja sempre usou em tradições humanas desse tipo, a saber, que essas coisas podem ser retidas e usadas sem nenhuma mistura de impiedade e superstição. Da mesma forma, tais como não têm jogos ociosos, mas servem boa ordem ou decoro na igreja, ou podem promover a edificação do povo por admoestação útil e piedosa. Finalmente, como ilustrar as coisas que pertencem à essência dos sacramentos, mas não escondem ou obscurecem, nem as transformam em uma ação que é claramente diferente, como acontece no sacrifício da Missa. No entanto, no caso daquelas cerimônias eclesiásticas sobre as quais ensinamos que podem ser retidas, que seja observado o que dissemos acima, a saber, que estas devem ser distinguidas por uma clara distinção daquelas que têm uma ordem ou um testemunho das Escrituras, para que não sejam feito igual de qualquer maneira, muito menos ser preferida a elas. Que nenhuma eficácia espiritual seja atribuída a essas coisas sem uma promessa divina, nem que as coisas que são peculiares aos sacramentos sejam transferidas para tais cerimônias, no todo ou em parte. Também não se deve pensar que tais cerimônias pertençam à integridade e genuinidade dos sacramentos, muito menos que sejam necessárias para isso, mas devem ser consideradas como ritos indiferentes que, se deixam de ser úteis para a edificação e se degeneram de seu propósito salutar e uso em superstição e abuso, deve ser corrigido ou mudado ou, após o exemplo da serpente de bronze, ser revogado e totalmente retirado. Esses ritos que também são retidos devem permanecer o que de fato são - cerimônias indiferentes, a fim de que não se tornem ciladas de consciência, mas sejam livremente observados sem qualquer idéia de que sejam necessários, de modo que, salvo ofensa, possam ser omitidos ou mudado ou anulado pela direção e consentimento da igreja. Por isso não deve ser permitido em particular ao capricho de ninguém. No entanto, se isso for feito legalmente, é útil mostrar a liberdade no caso de adiaphora deste tipo, mas de tal forma que todas as coisas são feitas ordenadamente, decentemente e para edificação, de acordo com a regra de Paulo. Igualmente, as igrejas não devem ser condenadas por causa de diferenças de ritos desse tipo ou se, omitindo-as ou mudando-as, elas usam sua liberdade de acordo com a referida regra de Paulo. ( Examination of the Council of Trent , Part II, pp. 116-17)


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Publicado originalmente em: http://www.angelfire.com/ny4/djw/lutherantheology.chemnitzrites.html
Tradução parcial: Apostolado SJEP

fevereiro 06, 2019


Por Rev. Hermann Sasse

A nova constituição* é aceitável para as igrejas da Reforma hoje, ou pode pelo menos ser considerada como um passo na direção de um acordo da controvérsia? Nossa resposta deve ser: apresenta um bom ponto de partida para um diálogo sério entre Roma e as igrejas evangélicas, mas só isso. Ajuda a esclarecer os problemas para formular o verdadeiro estado de controvérsia. Qual é o ponto em questão? Nós não negamos a existência de uma tradição viva na igreja. A doutrina não é transmitida simplesmente pela transmissão de um livro. Como os escritos proféticos e apostólicos surgiram da proclamação oral dos profetas e apóstolos, eles são transmitidos não apenas como livros escritos ou impressos, mas como a base da pregação e ensino da Igreja. Esta tradição deve ter existido já no tempo do Antigo Testamento ...

[Por uma questão de brevidade, omitimos aqui uma parte do discurso de Sasse, em que ele discute os possíveis condutos da "tradição oral" entre o povo de Deus no AT, que culmina nas meditações do povo piedoso comum.]

Quando falamos de tradição, não devemos apenas pensar sobre a tradição apostólica no Novo Testamento, mas também a tradição que manteve viva a Palavra de Deus escrita nos séculos antes de Cristo. Existem, é claro, tradições de naturezas diferentes. Em Jerusalém, havia as tradições dos saduceus que consideravam apenas a Torá como a palavra de Deus e tinham interesses litúrgicos muito fortes. Havia a tradição dos fariseus, e novamente entre eles várias escolas de pensamento. A tradição foi mantida nas escolas rabínicas. Havia pessoas simples que vivia a esperança dos pais. Maria e José, Zacarias e Isabel, Simeão e Ana podem encontrar-se entre eles. Nesses círculos, o Benedictus, o Magnificat e o Nunc Dimittis eram cantados.

A tradição se opunha à tradição. Os salmos, os profetas foram interpretados diferentemente por diferentes tradições, assim como os textos petrinos dos Evangelhos foram interpretados de maneira diferente pelas tradições do Oriente e do Ocidente. É o mesmo com o ensino oral dos profetas. Jeremias proclamou a destruição de Jerusalém. Ele foi denunciado como um falso profeta. Isaías não profetizou o contrário e foi justificado pelos acontecimentos? Jeremias considerou em seu tempo os profetas de um final feliz como falsos profetas. O povo de Jerusalém estava confuso. Onde estava o ofício infalível de ensino designado divinamente para decidir este assunto com autoridade? Quem decidiria nos dias terrenos de nosso Senhor se a declaração dele estava certa ou errada?  Se uma decisão clara havia sido esperada em qualquer lugar, então foi no Sinédrio que os santos instruídos das Escrituras e os mais eminentes líderes religiosos do povo de Deus constituíram a mais alta autoridade espiritual que existia no mundo naquela época. Sua decisão foi incorreta.

* A nova constituição é Dei verbum, a 'Constituição dogmática sobre a revelação divina' aprovada pelo Concílio Vaticano II e promulgada pelo Papa Paulo VI em 18 de novembro de 1965.

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Holy Church or Holy Writ? The Meaning of the Sola Scriptura of the Reformation IVF Graduates Fellowship, Syndey, 1967, pp.19-20.

agosto 26, 2018


Sobre a natureza da fé, batistas e luteranos compartilham da mesma visão, profundamente bíblica, por sinal de qual seja a sua natureza. Fé é uma certeza que aponta para o futuro e para a realidade das coisas que fogem aos nossos sentidos, como Hebreus 11 afirma. 

De igual modo, compartilhamos o mesmo pensar bíblico de que a esta certeza não deve vir apenas da razão humana, mas uma certeza sobrenatural, operada por Deus, ainda que, em momentos de fraqueza, esta certeza possa ser turbada, mas, assim como as águas, passada a agitação, torna-se cristalina novamente. 

O objeto de nossa fé também não é algo em que haja controvérsias: confiamos nas promessas de Deus que chegam a nós por sua palavra revelada. 

Basicamente, cremos no mesmo Deus triuno, e depositamos nossa confiança na mesma palavra da promessa. 

Entretanto, os desdobramentos sobre o que seja a fé em sua essência têm suas diferenças. 

Há essencialmente duas linhas na igreja batista, a fundamentalista e a reformada, cada uma com suas especificidades (há também a linha renovada, que foi uma reformulação em aspectos de culto da linha fundamentalista). 

Na linha fundamentalista, a exemplo das igrejas filiadas à Convenção Batista Brasileira, a definição de fé deriva de uma evolução histórica de conceitos que é condensada na própria declaração doutrinária desta convenção e adotada por suas igrejas, a qual podemos ler no ponto V, parágrafo 2, inciso 1: 

“(...) A fé é a confiança e aceitação de Jesus Cristo como Salvador e a total entrega da personalidade a ele por parte do pecador.” 

A declaração doutrinária, nesta linha pelo menos, não se dedicou extensivamente em pontuar a forma como esta fé deve se demonstrar de modo prático sob o mesmo ponto: a salvação, mas tece seus posicionamentos a respeito de questões seculares sob o termo “mordomia Cristã”. 

Aceitar estas posturas de mordomia equivale à citada passagem sobre a “total entrega da personalidade”, ou seja, ser bom mordomo das coisas do Senhor (tudo o que envolve os atos da vida) é um elemento que constitui a fé. Em outras palavras, fé é uma somatória de mente e mãos. 

Este pensamento, na verdade, não é algo criado sem propósito no seio denominacional, afinal, a linha reformada, muito mais antiga já compartilhava deste posicionamento. Na declaração de 1689, sobre as boas obras pode-se ler: 

“As boas obras, feitas em obediência aos mandamentos de Deus, são os frutos e a evidência de uma fé verdadeira e viva. Por meio delas os crentes demonstram a sua gratidão, fortalecem sua certeza de salvação (...)” 

Novamente encontramos aqui a referência de que a fé envolve uma parte sobrenatural: o crer, e uma parte natural: o agir, de modo que sempre se associa a fé e as obras num único conceito. 

O conceito doutrinário de um modo bem abrangente entre todos os batistas, portanto, não nos permite separarmos a crença em Deus do que fazemos. 

Então temos a seguinte situação: alguém passa por uma crise de fé. Começa a questionar sua própria salvação. O que fazer? Sendo bem instruída então, esta pessoa irá refletir sobre o seguinte ponto: Eu tenho fé? Em outras palavras: Eu creio de verdade em tudo o que a Bíblia diz? Bom, se a pessoa está em crise, esta resposta será um tanto incerta, as dúvidas aparecerão de imediato, então passa-se ao segundo ponto: Como eu posso saber se tenho fé? Então nos voltamos para o elemento natural da fé: o agir. Pelas obras posso mostrar a minha fé. Isto parece estar de acordo com Tiago 2:18, então, parece um caminho seguro. O que tenho feito da minha vida? Agora um cristão sincero deve realmente entrar em crise! Se tenho feito coisas boas, isto não é sinal de fé, pois até os ímpios são capazes de fazer coisas boas (Mt 7:9), se tenho feito coisas ruins, então minha fé não pode se manifestar nestas obras. 

Que angústia é essa! Tenho dúvidas sobre a minha salvação, então olho para as obras, que, confessionalmente são parte do quesito “fé”, e vejo que faço coisas más, e mesmo as coisas boas que faço não são suficientes para me diferenciar de um não-cristão! Caridade todo mundo pode fazer! Obedecer às leis, eu não preciso ser cristão para isso! Trabalhar na igreja, uma pessoa de qualquer religião não cristã também o faz com alegria em seus respectivos locais de culto, então não há nada, absolutamente nada que me garanta que tenho fé salvadora. 

Ah! Mas eu creio em Jesus, isto deve bastar! Na verdade, não! Até os demônios que Jesus expulsava criam nele (Mc 1:34). 

Então como posso saber se tenho fé salvadora? A verdade é que não há esta certeza salvo pelo testemunho interno do Espírito Santo. A fé salvadora não é uma fé reflexa, fruto apenas de uma atividade intelectual, portanto, a única resposta que podemos dar para uma pessoa vivendo a crise de sua fé é: Busque ler mais a Bíblia, intensifique suas orações que Deus vai trabalhar esta certeza em você. 

Por outro lado, a certeza e a boa consciência em Deus ocupam uma posição de extrema importância na espiritualidade luterana. A crise existencial e a certeza da fé são endereçadas com muita seriedade como centrais à vida de um cristão. 

Admitimos que o cristão pode às vezes, como fruto da limitação de nossa natureza, não estarmos cientes de nossa fé. O cristão não ser capaz de afirmá-la, ou de meditar sobre ela, de modo algum implica em sua ausência. Apreendemos a graça de Deus sobre nós mediante a fé, mesmo que não a possamos sentir. Mesmo diante da mais vil tentação, onde a auto-reprovação é forte, ali está a fé. Por ser dom sobrenatural de Deus, o coração humano não precisa sentir algo especial para saber que tem fé. Biblicamente falando, nossa salvação não é observada nas circunstâncias, mas na pessoa de Cristo e recebida pelo Evangelho, que é poder de Deus para salvação de todo aquele que crê. Quem duvida é o coração limitado e enganador que temos, a fé, por outro lado não depende de sinais, ou evidências. Desta forma, as crianças possuem fé verdadeira se estiverem em Cristo (Mt 18:6). Não podemos confundir a capacidade humana de organizar o pensamento e a fala com o dom de Deus pai, Fruto do Espírito e obra de Cristo, que é a nossa fé. 

Tomemos por exemplo uma pessoa com deficiência mental grave. Ela pode nunca ser capaz de expressar uma frase dizendo que crê em Jesus, ou de levantar sua mão, entendendo o que se passa, para receber uma oração do pastor, mas pode ter fé e ser salva! De igual modo uma pessoa em coma pode nunca ter tido a oportunidade de manifestar alguma evidência, e ainda assim, guardar sua fé! 

Portanto, no mesmo caso prático: o cristão passa por uma crise em sua fé, sendo bem instruído biblicamente ele saberá de imediato que a dúvida é um problema espiritual grave, afinal, incredulidade é algo muito sério (Jo 8.46; Mt 14.31), então, biblicamente se busca a solução para a falta de fé: a proclamação do Evangelho (Rm 5.20; 8.15-17)! Sim, falta de fé não se deve resolver olhando para as próprias obras, pois como vimos, embora necessárias na vida do cristão, elas não são suficientes para sairmos do dilema, não somos salvos por elas, mas pela Graça divina e pela Graça somente! Esta Graça está no Evangelho, então, toda crise de fé é resolvida, não buscando em nós mesmos algo de divino, mas buscando na Palavra, pelo Evangelho, e assim, dissipando as dúvidas. 

Serve ainda de consolo para quem tem dúvida, que a própria busca de se assegurar estar salvo em Cristo já demonstra a fé ativa na vida desta pessoa. Por isto que em nossos documentos confessionais podemos ler na Declaração Sólida II, 14:

“Esta preciosa passagem / Fp 2.13 / é de muito conforto para todos os cristãos piedosos que sentem e experimentam em seus corações uma centelhazinha e desejo da graça divina e de salvação eterna, por saberem que Deus acendeu em seus corações este princípio de verdadeira santidade e quer continuar fortalecendo-os em sua grande fraqueza e ajudando-os a perseverar na fé verdadeira até o fim.” 

Confessamos juntos, sim, que nossa fé é assegurada no testemunho interno do Espírito, mas não entendemos este testemunho como o “sentir” Deus. Somos compelidos pela Palavra a entendermos que o testemunho interno do Espírito Santo não é outra coisa senão a própria fé (1 Jo 5:10). Deus não vai soprar em nossos ouvidos “olha! Você tem fé!” Não! o Espírito Santo que habita em nós testifica de Cristo, isto já é a fé! 

Então, onde entram as obras nesta história? 

Para sermos estritamente bíblicos, não podemos nos fiar nas obras de nossas próprias mãos para dizermos se temos fé. Já vimos que nossa fé não é obra humana, nem se pode mostrar por ela. 

Então, como devemos entender Tiago 2:18 que diz: 

“Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.” 

Para isto cabe a pergunta: que obras? 

A confissão de fé batista de 1689 traz uma resposta no capítulo 16, ponto 6: 

“Se nossas obras são boas é porque procedem do Espírito. Contudo, à medida em que são desempenhadas por nós, essas obras vão sendo contaminadas, e mescladas a tanta fraqueza e imperfeição, que não podem suportar a severidade do julgamento divino. 

Todavia, desde que os crentes, como pessoas, são aceitos por meio de Cristo, as suas obras também são aceitas em Cristo, mas isto não significa que nesta vida tais obras sejam totalmente irreprováveis e irrepreensíveis aos olhos de Deus. Antes, significa que, vendo-as em seu Filho, Deus se agrada em aceitar e recompensar aquilo que é sincero, apesar de realizado com muitas fraquezas e imperfeições.” 

Logo, estamos aqui falando de todo o tipo de obra que possamos realizar, elas serão sempre imperfeitas, mas, para os que são de Deus, ele aceita, não as obras em si, mas a intenção na qual são feitas. Uma caridade feita por cristão é uma boa obra porque é feita na sinceridade do coração para Cristo, mesmo que no fundo haja alguma vaidade que suje o serviço. Em outras palavras, Deus é como aquele pai que recebe um presente de seu filho que ele mesmo fez nas aulas de educação artística. Cheio de falhas, pintura fora das bordas, mistura de cores sem muito critério, mas o pai recebe com orgulho porque seu filho fez o seu melhor para ele. 

Somos então confrontados com o que seria o testemunho externo dos Espírito Santo, como o amor a Deus e à sua palavra (Jo 8.47; 1Ts 1.3-6; 2Ts 2.13-15), o amor ao próximo (1Jo 3.14), o fruto do Espírito (Gl 5.22-24). Sabemos que o próprio amor é algo que flui de Deus em nós. Sabemos que o resumo de todos os mandamentos é este: o amor. 

Portanto, biblicamente, sem confundir lei e evangelho, não podemos confundir nossas obras deficientes com as boas obras preparadas por Deus para que andemos nelas. Acima de tudo, não podemos sustentar pelas Escrituras que nossas obras sejam um presente a Deus, mas antes um presente de Deus. 

Somente Deus é Deus e capaz de nos salvar, redimidos por Cristo, sejamos gratos a Deus por nos dar a sua justiça, a qual nós respondemos voluntária e conscientemente mortificando as obras da carne. Livremente, e somente assim abraçamos a verdadeira piedade cristã, a verdadeira boa obra. 

Ainda sobre esta natureza da fé como o testemunho interno do Espírito Santo, então esbarramos em um artigo que compõe a introdução da declaração de fé batista: 

“(...) somente essas pessoas eram por eles batizadas e não reconheciam como válido o batismo administrado na infância por qualquer grupo cristão, pois, para eles, crianças recém-nascidas não podiam ter consciência de pecado, regeneração, fé e salvação.” 

Diante de todo o exposto temos aqui um ponto que devemos discordar “crianças recém-nascidas não podiam ter consciência de pecado, regeneração, fé e salvação”. Evidente que não discordamos que crianças recém-nascidas não tem de fato a capacidade de autoexame. Mas nossa fé não é fruto de um exame de consciência! Em primeiro lugar, as crianças creem: Dos lábios das crianças e dos recém-nascidos firmaste o teu nome como fortaleza Salmos 8:2a, O próprio João Batista recebeu o testemunho do Espírito Santo (portanto a fé) ainda no ventre de sua mãe: e será cheio do Espírito Santo desde antes do seu nascimento. Lucas 1:15. 

Sejamos estritamente apegados ao texto bíblico: quem convence do pecado, da justiça e do juízo, quem testifica a fé salvadora, não são as minhas obras, não é a minha capacidade humana de avaliar minha condição, nem minha auto-consciência. O Espírito Santo testifica tanto no adulto quanto na criança a fé para a vida eterna, quer o cristão esteja consciente ou não de sua vida espiritual. 

Quando temos a fé como o crer e o agir desviamos os olhos da Palavra para nossas próprias mãos no momento de dúvida. Quando entendemos, porém, que o agir decorre da fé, sabemos que as obras que fazemos são boas, não porque sentimos que são agradáveis, mas porque a Palavra afirma que são boas! 

Tiremos nossas ações do centro das nossas preocupações, coloquemos o Evangelho, que as obras que realmente importam fluirão. 

Não busquemos fazer nossas obras com a ajuda de Deus, mas fazer as obras de Deus com Deus e em Deus para a maior glória de Deus! 

Não olho circunstâncias! 

Mas olho seu amor! 

Não me guio por vista! 

Alegre sou!

agosto 22, 2018


por Nathan Buzzatto

Antes de mais nada, esta não é uma provocação, mas algo que conheci de perto.

Tendo crescido em um lar batista fundamentalista, devo dizer que sou profundamente grato a Deus por ter pais cristãos, que se importaram em me ensinar a sã doutrina em casa e me ensinarem sobre a importância da igreja e de Cristo na vida quotidiana. Foi como batista que tive a minha formação como pessoa e como batista que fui estudar teologia, uma graduação, dois mestrados e muitas experiências que jamais poderia deixar de lado.


Entretanto, foi exatamente depois disto, dos estudos, dos mestrados onde as coisas começaram a decantar. Há uma fase complicada na vida de todo seminarista: muitas leituras, muitos conceitos, muita matéria e saímos de lá com a cabeça repleta de técnica, muita ortodoxia, pouca ortopraxia (a prática no viver diário de tudo o que se aprende). Esta era a fase de aprender a colocar tudo o que foi visto em termos de ações práticas.

Como todo bom teólogo de tradição reformada, somos ensinados a avaliar tudo, todas as práticas e pensamentos dentro de nossas igrejas. Não as aceitar apenas pela conveniência, mas questionar tudo o que não fosse absolutamente bíblico. Foi então aí, e hoje entendo, por mão divina, que não me inspirei em seguir um outro mestrado ou pleitear um doutorado, mas apenas me recolher a meditar sobre tudo.

Não houve um ponto particularmente especial que me trouxe até o luteranismo, mas por agora me detenho sobre este: A Espiritualidade.

Por este termo entendemos todo o nosso viver perante todas as ações da vida e como isto se reflete em nosso relacionamento com o corpo de Cristo.

O problema, na verdade, caminha em datas: em 1647, promulga-se os catecismos de Westminster, que em parte, contribuiriam para a formação das primeiras confissões de fé batistas. No catecismo maior de Westminster lê-se:

1. Qual é o fim supremo e principal do homem?  Resposta. O fim supremo e principal do homem e glorificar a Deus e gozá-lo para sempre.

Não é uma má resposta, mas disto surgiu uma discussão relevante: Como o homem então pode glorificar a Deus? Esta era uma discussão relevante, pois dela dependia o entendimento da primeira questão do catecismo. Esta questão, em termos práticos foi resolvida de uma forma que mais tarde, em 1689 os batistas colocariam em seu texto sob o ponto 6:

Reconhecemos que há algumas circunstâncias, concernentes à adoração a Deus e ao governo da igreja, que são peculiares às sociedades e costumes humanos, e que devem ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as normas gerais da Palavra que sempre devem ser observadas.

Eis aí o começo da problemática. O texto parece muito bom, faz até sentido se comparado ao ensino de 1 Cor. 11; entretanto, neste ponto encontra-se o problema. Para que o homem cumpra seu fim de glorificar a Deus, além dos ditames Bíblicos para agravar as consciências e nos deixar o que deve e o que não deve ser feito, também se admite como regra para o fim de que o homem possa glorificar, as listas de regras sobre a prudência.

Evidente que prudência e moralidade são coisas desejáveis ao cristão, e quanto a isto não cabe questionar, mas o ponto onde esbarramos é que toda vez então que os comportamentos sociais fujam a estas listas de comportamentos prudentes e morais, o homem não é apenas descuidado ou de pouca reflexão, mas um perigo para si mesmo e para a igreja por não glorificar a Deus com seus atos, mesmo sobre coisas nas quais não há menção Bíblica.

A espiritualidade passa a ser sinônimo de um viver prudente segundo os ditames sociais da igreja. Por prudência, neste caso, voltamos à regra: o cristão deve seguir regras específicas, não apenas o que está nas Escrituras, mas o que socialmente a igreja considerar como adequado.

Desta forma, decide a igreja, por exemplo que o consumo de álcool em qualquer circunstância é pecado, mesmo que não haja nada sobre este ponto nas Escrituras a não ser prevenindo o abuso da substância. Entretanto, o chocolate, igualmente nocivo à saúde permanece liberado irrestritamente. Não se trata aqui de querer ou não consumir bebida alcóolica, mas de onde vem a autoridade para a comunidade dizer o que é a vontade de Deus se ela não está escrita. De forma semelhante, o Credo Apostólico, usado por toda a cristandade como uma declaração de fé é rejeitado, não pelas suas afirmações, mas pela “prudência cristã” em não se assemelhar aos que praticam orações repetitivas. A igreja assim decidira que não convém, isto vale como regra, quem a viola, peca!

O que fazer então com este pecador? Dele espera-se a autodisciplina, mas se não houver, a comunidade espera que o seu pastor o faça! Note-se que aqui não estamos falando apenas do viver espiritual, mas do viver quotidiano sobre questões pessoais, como o gosto por esportes (há os que condenem esportes de contato como brechas para o diabo), vida em família, educação dos filhos, etc...

Artes marciais, em algumas igrejas, é pecado (e sim, sempre fui muito condenado por isto, Deus abomina violência, logo eu pecava e ainda levava outros a pecarem), recitar o Credo como um resumo de sua fé em Deus, é pecado, não educar os filhos numa escola confessional, pecado! Um cristão que toque músicas não-cristãs, peca! (embora nada seja dito do professor que ensina não cristãos sem entrar no mérito da religião com seus respectivos alunos). Note-se que sobre estas coisas, não há nenhuma disposição bíblica. Estes regulamentos são da comunidade dos membros, qualquer novo membro, é convidado a aceitar as regras da casa.

Este problema sobre as listas da prudência cristã (que por si só já se contrapõem à liberdade cristã à qual fomos chamados, e este princípio, sim, é bíblico) desemboca em outro problema:
O que fazer com o membro que peca?

Como dito, espera-se a moralidade segundo os padrões das escrituras somados aos padrões comunitários, se o membro não o fizer, espera-se do pastor que tome uma atitude. Com isto, atribuímos aos pastores não apenas a responsabilidade sobre o crescimento espiritual segundo as Escrituras, mas transformamos qualquer questão social em algo espiritual.

Surge então outra figura: o aconselhamento pastoral. Este é muito presente na vida de qualquer cristão nesta linha! A função do aconselhamento é ajudar o processo de crescimento espiritual, fazer sugestões positivas, colocar “disciplinas espirituais” de oração, jejuns, meditações diárias, cobrar frequência nos cultos, etc.

Quanto a isto, então esbarramos em duas questões: em primeiro lugar, as comunidades locais passam a definir comportamentos tidos como aceitáveis ou não, muitas vezes até contraditórios de local para local, tendo com isto o mesmo peso de uma condenação divina expressa nas escrituras. Este ponto é difícil de digerir, até porque, creio na doutrina que chamamos SOLA SCRIPTURA, onde afirmamos tudo aquilo que está revelado nas Escrituras como verdadeiro, e, sobre o que não está escrito, também devemos nos calar. Não podemos criar pecados!

Em segundo lugar, a função do pastor não é de ser um conselheiro para a vida pessoal, embora isto não seja um problema se ele for amigo, mas esta não a vocação ministerial das Escrituras. Não existem ministros chamados por Deus ao santo ministério para ditar qual profissão você pode aceitar! Aconselhamento é bom, mas a função do pastor está em Mateus 18: "Digo-lhes a verdade: Tudo o que vocês ligarem na terra terá sido ligado no céu, e tudo o que vocês desligarem na terra terá sido desligado no céu. Mateus 18.18
Sendo Bíblico na questão, o verso de destina aos apóstolos, e aos que exercem o ministério na igreja de Cristo: ligar e desligar, o ofício das chaves.

No meio batista então temos o caso de um irmão em problemas, uma visita é agendada, seja na casa ou no gabinete pastoral o problema é exposto, o sujeito sai dali com bons conselhos para a vida pratica, uma lista de deveres: orar, jejuar, mais sessões de aconselhamento, enfim, estas possibilidades são várias. Se o problema for de uma seriedade maior, uma regra de disciplina é dada, uma punição que deverá durar até que a liderança ache que já foi tempo o suficiente.

No meio luterano então, o irmão em problemas fala com o pastor no horário combinado, o problema é exposto, o pastor então anunciará algumas coisas: primeiro, a Lei. Ela é anunciada para que o homem tenha noção do seu pecado, arrependido, o segundo anúncio é feito: o Evangelho: Deus compreende a limitação humana e está disposto a perdoar, e terceiro: a Absolvição. Sim, por Cristo, com Cristo e em Cristo, o ministro cumpre seu dever bíblico de Mateus 18, Não há listas de prudência cristã a serem passadas, não há disciplinas de ficar um tempo afastado como punição, a preocupação maior é com a alma deste necessitado, e ele sai desta conversa ciente de estar perdoado por Deus. Os conselhos depois disso, são absolutamente secundários.

Em um caso, temos um pecador arrependido que sai com conselhos para melhorar sua vida com Deus, no outro, temos um pecador arrependido que sai perdoado. Nisto temos outro ponto que nos apegamos: SOLA GRATIA! Somente pela graça de Deus é que somos salvos! Quando o perdão bíblico é anunciado, o pecador então recebe de modo bíblico a sua graça! 

Quando as regras sobre o que fazer são passadas, estas regras não terão o poder de apagar o pecado, mas com elas, espera-se que a pessoa se aproxime de Deus novamente, para que então, ela receba o perdão.

Então já não é pela graça, mas pelas obras! Se eu preciso cumprir as regras extra bíblicas dadas no aconselhamento para que eu tenha o perdão dos pecados, então, estaria crendo que as obras são capazes de justificar um pecador, quando o pensamento bíblico é sempre: Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie. Efésios 2.8,9

Sobre o ponto da espiritualidade diária, então o que é bíblico? A comunidade pode estabelecer os pecados, ou apenas Deus em sua palavra? É mais bíblico que prevaleça a liberdade cristã e o pastor se ocupe de cuidar de minha alma, ou, que para não escandalizar os demais, o pastor seja uma autoridade até para minhas decisões pessoais de como viver e trabalhar?

Aconselhamento apenas, ou ter os pecados perdoados? O que é Bíblico afinal?