Benjamin McCrimmon
Durante um longo tempo no Sínodo de Missouri da Igreja Luterana, o nome Martin Chemnitz era praticamente desconhecido. Ao que parece, para permanecer na sombra do grande Martinho e Philip Melanchthon, seu trabalhou relegou para o campo dos especialistas.
No entanto, desde a tradução de Fred Kramer do "Examination of the Council of Trent" de Chemnitz's em 1971 [1] seu nome tem recebido cada vez mais destaque: na verdade, o lançamento dos volumes de Chemnitz' Works pela Concórdia Publishing House em 2007 tornou-se mais popular do que nunca [2]. Sendo um teólogo muito particular e conciso, Chemnitz tornou-se um símbolo e padrão da ortodoxia em muitos círculos conservadores e confessionais em todo sínodo, e seus trabalhos tiveram um tremendo impacto sobre a forma como entendemos o pensamento luterano após a Reforma.
Sua obra sobre cristologia (The Two Natures in Christi) é a jóia brilhante dos estudos patrísticos luteranos, que testemunha citações depois de mencionar dados bíblicos e patrísticos. E suas contribuições para a Declaração Sólida da Fórmula de Concórdia asseguram que seu pensamento segue influenciando a gerações de pensadores luteranos e não luteranos depois dele.
Meu plano geral ao estudar Chemnitz é simples: quero entender como ele usa os Pais da Igreja, para que possamos descobrir uma espécie de "hermeneutica" luterana para ler escritores patrísticos.
No entanto, para alcançar esse objetivo algum dia, precisarei rever sua biografia, suas principais obras e, finalmente, algumas passagens específicas sbre a Igreja Primitiva. Este documento atual é uma tentativa de parte do primeiro elemento de nossa lista, a biografia de Chemnitz, que utiliza o The Second Martin, de J.A.O. Preus. [3] Planejo esboçar, neste primeiro artigo, os eventos da vida de Chemnitz desde seus primeiros dias até o final de sua educação.
Comecemos pelo princípio. Em 9 de novembro de 1522, Martin Chemnitz nasceu na família de Paul e Eufemia Chemnitz em uma pequena cidade chamada Brandenburg Treuenbrietzen. [4] Seu pai, Paul, era um comerciante de tecidos, e teve sucesso suficente para poder pagar a seu filho uma educação decente. Isso significou mandar Martin para longe, dos anos 1536 a 1538, em Wittenberg, para que Martin pudesse ter uma boa compreensão dos assuntos básicos necessários para uma educação. Embora não tenha sido muito proeminente neste período de sua vida, Martin desenvolveu um amor particular pela língua latina.
No entanto, no ano de 1538, a tragédia o atingiu. Paul Chemnitz faleceu, deixando sua família com dificuldades financeiras. O destino caiu sobre seus dois filhos, Matthew (o mais velho) e Martin (o mais jovem), para manter o negócio da família, motivo pelo qual Martin foi chamado de volta de Wittenberg para sua cidade natal, Treuenbrietzen.
No entanto, isto não era para deter o jovem Martin para sempre. Em 1539, ele mostrou algumas de suas traduções em latim para dois cidadãos notáveis de Magdeburg, e estes fizeram todo o possível para convencer sua mãe, Eufêmia, para que Martin pudesse estudar na Universidade daquele lugar. Sua mãe consentiu e Chemnitz deixou Treuenbrietzen pela segunda vez, desta vez por três anos, e teve a oportunidade de estudar não apenas o latim, mas também dialética, poesia, grego, retórica e astronomia.
Infelizmente, mais uma vez as dificuldades financeiras caíram sobre o jovem erudito, e Martin foi obrigado a deixar Magdeburgo. No entando, felizmente, conseguiu, antes de partir, um emprego como professor de grego em Calbe an der Saale. No ano seguinte (1543), apoiado financeiramente por seu primo Sabinus [5]. Chemnitz finalmente conseguiu terminar seus estudos em Frankfurt e em An Oder. Durante este tempo, continuou ensinando e por meio de um rico colega, agregou aos seus estudos matemática e ciências físicas.
Em 1545, Martin decidiu continuar sua educação em Wittenberg, onde Philip Melanchthon o incentivou em seus estudos de matemática e propôs adicionar astrologia aos seus estudos. [6] Durante este tempo, Chemnitz também teve a oportunidade de ouvir Martinho Lutero pregar, embor ele mais tarde tenha admitido que não concedeu a esses sermões a devida atenção. Em última análise, seus estudos em Wittenberg foram interrompidos em 1546, devido ao início da Guerra de Esmalcalde.
Em 1547, Chemnitz e seu primo Sabinus fugiram para a Prússia. Ali, na recém criada Universidade de Koenigsberg, Chemnitz tentou retomar sua educação; No entanto, foi interrompido novamente pelo início da peste bubônica. Chemnitz e Sabinus fugiram da cidade para um estábulo remoto, onde Chemnitz começou a estudar teologia. Lá ele lê "Luther's Church Postils" e as sentenças de Gabriel Biel.
Ao retornar, Chemnitz foi nomeado reitor da Kneiphog em Koenigsburg. Naquele momento, Philip também o instruiu a seguir a correta distinção entre Lei e Evangelho, um ensinamento que deixaria sua marca em seu trabalho prfissional para o resto de sua vida e teria acesso a biblioteca teológica ducal. [7]
Em 24 de outubro de 1550, a vida de Chemnitz mais uma vez deu um giro mais dramático: foi nessa data que o principal teólogo prussiano, Andreas Osiander, realizou seu primeiro debate sobre se os cristãos foram salvos pela justiça forense ou inerente [8]. Em seu "De Lege et Evangelio and De Justificatione", Osiander expôs seu ponto de vista, em oposição tanto a Lutero como a Calvino, de que a humanidade era justificada por uma fé inculcada em vez de uma fé declarada.
Isso significa que alguém cresceria na fé ao longo de sua vida e, eventualmente, ele seria salvo. [9] Contra Osiander, Melchor Isinder, Joachim Moerlin e Martin Cheminitz insistiram no entendimento tradicional da justificação, isto é, que é uma declaração de justiça impultada por Deus sobre a humanidade pecadora. No entanto, o resultado não favoreceu os teólogos ortodoxos: em vez disso, Joachim Moerlin foi expulso da Prússia e Martin Chemnitz, uma vez forçado a debater publicamente com Osiander, renunciou a seus cargos de reitor e biblioyecário. [10] Embora fois sínodos tenham sido convocados sobre a controvérsia, Osianter morreu no mesmo ano (1552) deixando a controvérsia eternamente não resolvida.
Em abril de 1553, Chemnitz retornou novamente à Wittenberg, permanecendo, de acordo com Sabinus, na casa de Philip Melanchthon. Ali ele foi admitido na Faculdade de Filosofia e, entre seus muitos deveres (ele foi o primeiro encarregado de examinar potenciais estudantes de pós-graduação), por insistencia de Malanchthon, Chemnitz começou suas palestras famosas nas Loci Communes de Melanchthon: seu Loci Theologici.
No entanto, Chemnitz não ficaria na faculdade por muito tempo: em 28 de setembro de 1554, aceitou um chamado para a pequena cidade de Hansa Braunschweig, onde passaria o resto de sua carreira posterior. Joachim Moerlin, que ele conheceu quase quatro anos antes em Koenigsburg, na Prússia, foi o orquestrador por trás do chamado: Estava tão impressionado com a posição ortodoxa de Chemnitz durante a controvérsia de Osiander que queria que fosse a Braunschweig como seu coadjuntor [11] Chemnitz foi ordenado pontualmente por Johannes Bugenhagen em novembro (sem mesmo possuir um título teológico!) [12] e deuxou seu trabalho ministerial e administrativo na cidade menor de Braunschweig. É por esse período que ele (também orquestrado por Moerlin) se casou com Anna Jaeger, filha de Hermann Jaeger.
Este é, talvez, um lugar decente para fazer uma pausa no nosso esboço biográfico de Martin Chemnitz. O concílio de Braunschweig passou a patrocinar seu doutirado em cristologia, que ele completou em 1568, e com isso o longo e sinuoso caminho de sua educação chegou ao fim. Com seu chamado para a cidade de Brauschweig, surgiu um novo capítulo em sua vida e na vida da Igreja Evangélica; foi este capítulo que culminaria em 1580, com a apresentação do Livro de Concórdia, recentemente atado e consagrado ao Eleitor Augusto da Saxonia, o texto fundante da ortodoxia luterana.
Notas:
[1] Martin Chemnitz, Examination of the Council of Trent: Part 1 and Examination of the Council of Trent: Part 2, tran. Fred Kramer, (St. Louis: Concordia, 1971).
[2] Martin Chemnitz, Chemnitz’s Works, 9 volumes. Eds. Jacob Corzine and Matthew Carver. Trans. Jacob Corzine, Matthew Harrison, Fred Kramer, Luther Pellot, J.A.O. Preus, Andrew Smith, and Georg Williams. (St. Louis: Concordia, 2007-2015).
[3] J.A.O. Preus, The Second Martin, (St. Louis: Concordia, 2011). I will be supplementing Preus’ work with Fred Kramer’s biography in his Examination (pp. 17-24), Theodore Jungkuntz’s Formulators of Concord (Theodore Jungkuntz, Formulators of Concord: Four Architects of Lutheran Unity, (St. Louis: Concordia, 1977)), Robert Kolb’s entry in the Reformation Theologians: An Introduction to Theology in the Early Modern Period (Robert Kolb, “Martin Chemnitz,” in The Reformation Theologians: An Introduction to Theology In the Early Modern Period, ed. Carter Lindberg, (Massachusetts: Blackwell Publishers, 2002), pp. 140-155), and Aurthur L. Olsen’s biographical sketch, “Martin Chemnitz,” in The Doctrine of Man in the Writings of Martin Chemnitz and Johann Gerhard, eds. Herman A. Preus and Edmund Smits, trans. Marro Colacci, Lowell Sarte, J. A. O. Preus Jr., Otto Stahlke, and Bert H. Narveson, (St. Louis: Concordia, 2005), 223-229. Above all, the studies done by Jungkuntz and Kolb have been the most helpful additions to Preus’ research in the volume named above.
[4] Chemnitz, Examination¸ 17.
[5] Georg Sabinus (1508-1560) was a famous German diplomat, scholar, and poet during the reformation. For a short biography, see Otto zu Stolberg-Wernigerode’s Neue deutsche Biographie, vol. 22 (Berlin: Dunker & Humblot, 2005), 320.
[6] Though the modern theologian may be surprised to see Melanchthon recommending astrology, it was actually a very common area of study at the time, and should not be used to “prove” Melanchthon’s apparent unorthodoxy in his later career.
[7] These developments are critical to Chemnitz’s personal theology. Preus records that Melanchthon, in his reply to Chemnitz’s letter of inquiry into theology, responded by that “the chief light and best method in theological study is to observe the difference between the Law and Gospel” (Preus, The Second Martin, 92). Chemnitz was to apply this to his study of scripture and patristics back in Koenigsburg, as he systematically “read through the biblical books, comparing various versions, making notes on anything he thought memorable,” proceeding on to “the fathers, taking notes in the same way,” and, finally, he read “modern authors or contemporaries, especially polemical writings, of which there were many” (Ibid, 93).
[8] For an overview of the Osiandrian Controversy, see Ibid, 93-96 and Kolb, “Martin Chemnitz.”
[9] Some have speculated that Osiander’s soteriology was influenced by Eastern Orthodox models of theosis or christification. I personally am not too convinced this is the case, considering the fact that Neoplatonism influenced not only eastern but also Western medieval thought- however, I digress.
[10] This experience was to be the heat that would forge the lasting friendship between Chemnitz and Moerlin.
[11] That is, his “bishop’s assistant.”
[12] This perhaps shows how extensive his personal research was!
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