junho 09, 2018


Comentário do dia por São Justino, filósofo, mártir 
Tratado sobre a ressurreição, 2.4.7-9 

«Creio na ressurreição da carne»

Aqueles que estão enganados dizem que não há ressurreição da carne, que é impossível que esta, após ter sido destruída e reduzida a pó, reencontre a sua integridade. Segundo eles, a salvação da carne não seria apenas impossível, mas nociva; pois acusam a carne, denunciam os seus defeitos, tornam-na responsável pelo pecado, e afirmam que, se ela ressuscitar, também os seus defeitos ressuscitarão [...]. Aliás, o Salvador declarou «Quando ressuscitarem de entre os mortos não se casarão, mas serão como anjos nos céus». Ora os anjos, dizem eles, não têm carne, não comem nem se unem. Portanto, não haverá ressurreição da carne. [...] 

Como são cegos os olhos do intelecto! Porque não viram na terra os cegos verem e os coxos caminharem (Mt 11,5) graças à palavra do Salvador [...], para nos fazer crer que, na ressurreição, a carne ressuscitará completa. Se nesta terra Ele curou as enfermidades da carne e devolveu ao corpo a sua integridade, quanto mais o fará no momento da ressurreição, para que a carne ressuscite sem defeito, integralmente [...]. Parece-me que essas pessoas ignoram a ação divina no seu conjunto, tanto na origem da criação como no fabrico do homem; e ignoram a razão por que foram feitas as coisas terrenas. 

O Verbo disse: «Façamos o homem à nossa imagem e semelhança» (Gn 1,26). [...] É evidente que o homem, moldado à imagem de Deus, era de carne. Que absurdo é considerar desprezível e sem mérito a carne moldada por Deus segundo a sua imagem! É também evidente que a carne é preciosa aos olhos de Deus porque é obra sua. E, porque nela se encontra o princípio do seu projeto para o resto da criação, é o que há de mais precioso aos olhos do Criador.

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